06/09/2017 às 15h49min - Atualizada em 06/09/2017 às 15h49min

O ano, não sei muito bem, mas era 7 de setembro...

Maria José Baía Meneghite
Éramos crianças e desfilar homenageando a Pátria era de verdade um acontecimento para todos nós. Nas semanas que antecediam a data, ensaiávamos com nossos professores, percorrendo a Rua 27 de Abril ao som de tímidas batidas que tentavam organizar nossa marcha, coisa quase sempre inútil pois a cada virada de rua nos embolávamos uns nos outros. Era divertido e no dia do desfile dava tudo certo.

Ao voltar da escola nos organizávamos novamente, munidos de paus e latas, (aquelas latas de gordura de Coco Carioca que nossas mães usavam) e tentávamos reproduzir o som da frágil bateria da escola. Um verdadeiro caos que só terminava quando nossa mãe ordenava silêncio para o irmão mais novo dormir.

Boas e melancólicas lembranças! Éramos felizes na nossa vidinha de crianças pobres, mas ricas de alegria, carinho dos pais e amigos que até hoje fazem parte do nosso convívio. Um deles, grande amigo do meu irmão Zé Mario, há de lembrar de um fato interessante ocorrido num longínquo 7 de Setembro.

Como já relatei, os ensaios para o desfile eram muito animados e as crianças não viam a hora de chegar o Dia da Independência. Na véspera, vi meu irmão e seu amigo num cantinho combinando alguma coisa que eles se recusaram a me dizer. Na curiosidade de criança tentei escutar mais e descobri que falavam sobre o desfile da manhã seguinte e que um deles não tinha sapato preto.

Não me lembro mais quem era o dono do par de sapatos. O que sei é que na manhã seguinte, saíram os dois para o desfile e, pasmem, um calçou o pé direito e o outro o pé esquerdo. Amarraram o dedinho do pé descalço fingindo estar machucado e lá se foram para o desfile.
Pura solidariedade!


Isso dificilmente aconteceria nos dias atuais. Hoje, mesmo que as crianças tenham sapatos, não encontram muitos motivos para marchar pelo Brasil pelo que fizeram e continuam fazendo à nossa Pátria amada salve, salve!!

Quanto a mim, não fui desfilar com os alunos da minha turma do Botelho Reis. Motivo: não tinha sapatos.

 
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