27/10/2017 às 18h31min - Atualizada em 27/10/2017 às 18h31min

Artigo sobre Francisco Alves

WALDEMAR PEDRO ANTÔNIO
O   Cantinho   Musical  homenageia  hoje   uma  das  mais  lindas  vozes  de  nosso  cancioneiro , respeitada pelas  classes  dos  artistas que  rotularam  como “ REI  DA  VOZ  “,  o condutor das belas  melodias  e o ícone  da  seresta  brasileira:  “ FRANCISCO   ALVES  “  ,   mais   conhecido  pelos  fãs  como  “  CHICO   VIOLA  “ .

“  Tu, só tu, madeira fria, sentirás toda agonia do silencio do cantor   
(  epitáfio   escrito por seu amigo e  jornalista David Nasser  )
      
        Francisco de Morais Alves nasceu no Rio de Janeiro RJ em 19 de Agosto de 1898.  Ganhava a vida como motorista de praça, apresentando-se como cantor-ator secundário de revistas musicais.  Em 1919, para o Carnaval de 1920, levado por Sinhô, gravou na etiqueta Popular  dois discos com a marcha O pé de anjo e os sambas "Fala meu louro" e "Alivia estes olhos", todas de Sinhô. A partir de 1924, começou a gravar outros discos e aos poucos  começou a se destacar com um artista promissor e , por volta de 1928, passou a utilizar o apelido de Chico  Viola  e , pouco tempo depois, em fevereiro de 1929 fez sua estréia no rádio . Não demorou muito para que quase todos os seus discos começassem a fazer sucesso.  Morreu no auge de sua carreira, aos 54 anos de idade, quando o seu carro se chocou com um caminhão, que vinha na contramão, na Via Dutra .  Até os dias atuais muitas visitas e homenagens são prestadas a ele no cemitério em que repousa.

  
Passaremos  agora  a  desfilar  alguns  sucessos  consagrados  na  voz  de  Chico  Viola .  Inicialmente   uma  canção  que  é  o  verdadeiro  retrato  melódico  do  cantor  , preferência  nas  paradas  musicais  da  época . Silvino  Neto  compôs  esta  bela  obra  que  versa  sobre um  termo  composto  por  cinco  letras  que  representa  a  verdadeira  separação  de   um  grande  romance   :  “  Adeus, Cinco Letras Que Choram  “ .  [ “ / Adeus, adeus, adeus  / Cinco letras que choram  / Num soluço de dor  / Adeus, adeus, adeus  / É como o fim de uma estrada  / Cortando a encruzilhada  / Ponto final de um romance de amor  / Quem parte tem os olhos rasos d'água / Sentindo a grande mágoa  / Por se despedir de alguém  / Quem fica, também fica chorando  / Com um lenço acenando  / Querendo partir também  / Adeus, adeus, adeus / (BIS ) / . “  ]  .  



Francisco Alves  e  Horácio Campos   compuseram  esta  canção  que  expressa  todo  um  sentimento  de  separação  amorosa  , justificando  sua  dor  amenizada  pelo  seu  companheiro   :  “  A Voz do Violão  “  [ “ / Não queiras, meu amor, saber da mágoa / Que sinto quando a relembrar-te estou / Atestam-te os meus olhos rasos d'água / A dor que a tua ausência me causou. / Saudades infinitas me devoram, / Lembranças do teu vulto que nem sei / Meus olhos incessantemente choram / As horas de prazer que já gozei / Porém neste abandono interminável / No espinho de tão negra solidão / Eu tenho um companheiro inseparável / Na voz do meu plangente violão / Deixaste-me sozinho e lá distante, / Alheio à imensidão de minha dor, / Esqueces que ainda existe um peito amante / Que chora o teu carinho sedutor / No azul sem fim do espaço iluminado / Ao léu do vento se desfaz / A queixa deste amor desesperado / Que o peito em mil pedaços me desfaz / . “  ]  .


 Esta  maravilhosa  canção ,  composta  por  Freire  Júnior  e  interpretada  por  vários  cantores   mas  se  consagrando  na  voz  de  Francisco  Alves ,    expressa  poeticamente   um  convite  à  sua  amada  a  participar  de  um  momento  musical  em  que   manifesta  uma  declaração  amoroso :  “  MALANDRINHA  “ . [ “ / A lua vem surgindo cor de prata  / No alto da montanha verdejante  / A lira do cantor em serenata / Reclama na janela a sua amante / Ao som da melodia apaixonada / Das cordas do sonoro violão / Confessa o seresteiro à sua amada / O que dentro lhe dita o coração / Ò linda imagem de mulher que me seduz  / Ah se eu pudesse tu estarias num altar / És a rainha dos meus sonhos, és a luz / És malandrinha não precisas trabalhar / Acorda minha bela namorada  / A lua nos convida a passear  / Seus raios iluminam toda a estrada  / Por onde nós havemos de passar / A rua está deserta, oh vem querida / Ouvir bem junto a mim, o som do pinho  / E quando a madrugada, é já surgida / Os pombos voltarão para seus ninhos  / Ò linda imagem de mulher que me seduz  / Ah se eu pudesse tu estarias num altar / És a rainha dos meus sonhos, és a luz / És malandrinha não precisas trabalhar. / . “  ]  . 

Há  nesta canção de  Lamartine  Babo  , interpretada  por  Francisco  Alves , uma  fascinante  história .   Conta-se que um dentista (   há uma versão de  que fora  um barbeiro ) , morador  em  Dores  da  Boa Esperança , um município no interior Minas Gerais  , colecionador fanático de retrato de artistas famosos , escrevera  uma carta a  Lamartine como se fora uma mulher . Corresponderam-se , durante muito tempo , com palavras  amorosas , até que Lamartine resolve conhecê-la, indo à cidade.  Procurando por    Nair , pseudônimo que o dentista dava à mulher fictícia  , apresentaram-na a  Lalá  uma menina de 6 anos , a única Nair da cidade . Decepcionado com o fato , conhece Carlos Netto,  o dentista , tornarando-se grandes amigos , e , no  momento  da  despedida ,   brota na mente e  no  coração de  Lamartine  o  samba-canção   “ SERRA  DA  BOA  ESPERANÇA  “ .    [ “ /  Serra da Boa Esperança / Esperança que encerra / No coração do Brasil um punhado de terra / No coração de quem vai / No coração de quem vem / Serra da Boa Esperança meu último bem / Parto levando saudades, saudades deixando / Murchas caídas na serra  / Lá perto de Deus / Oh minha serra  / Eis a hora do adeus vou me embora / Deixo a luz olhar no teu luar / Adeus / Levo na minha cantiga a imagem da serra / Sei que Jesus não castiga um poeta que erra / Nós os poetas erramos / Porque rimamos também / Os nossos olhos nos olhos de alguém  / que não vem / Serra da Boa Esperança não tenha receio / Hei de guardar tua imagem com a  graça de Deus / Oh minha serra  / Eis a hora do adeus vou me embora / Deixo a luz do olhar no teu luar / Adeus / . “  ]  . 

Mário  Lago  compôs  esta  bela  canção  onde  expressa  toda  atitude  amorosa  fracassada  diante  da  sua  amada , manifestando  de  uma  forma  lírica  em  demonstrar  todos  os  bens  por  relacionados  a  seu  amor : “ FRACASSO  “. [ “ /  Relembro sem saudade o nosso amor / O nosso último beijo e último abraço / Porque só me ficou / Da história  triste deste amor / A história dolorosa de um fracasso. / Fracasso / Por te querer assim como eu quis / Fracasso / Por não poder fazer-te feliz / Fracasso por te amar / Como a nenhuma outra eu amei / Chorar o que já chorei / Fracasso eu sei. / Fracasso / Por compreender que devo esquecer / Fracasso / Por que já sei que não esquecerei / Fracasso, fracasso, fracasso / Fracasso afinal / Por te querer tanto bem / E me fazer tanto mal./ . “  ]  .



Uma  das  mais  belas  canções  de  Orestes  Barbosa  em  parceria  com  Francisco  Alves    é  um  verdadeiro  poema  onde  expressa  uma  enorme  angústia  com  a  visão  imagística  da  mulher  amada , refletida  e  resultante  da  bebida , para  esquecimento  de  sua  paixão :  “  A Mulher Que Ficou Na Taça  “[ “ / Fugindo da nostalgia  / Vou procurar alegria  / Na ilusão dos cabarés  / Sinto beijos no meu rosto  / E bebo por meu desgosto  / Relembrando o que tu és  / E quando bebendo espio  / Uma taça que esvazio  / Vejo uma visão qualquer  / Não distingo bem o vulto  / Mas deve ser do meu culto  / O vulto dessa mulher...  / Quanto mais ponho bebida  / Mais a sombra colorida  / Aparece ao meu olhar  / Aumentando o sofrimento  / No cristal em que, sedento  / Quero a paixão sufocar  / E no anseio da desgraça  / Encho mais a minha taça  / Para afogar a visão  / Quanto mais bebida eu ponho  / Mais cresce a mulher no sonho  / Na taça, e no coração./ . “  ]  .  


José  Maria  de  Abreu  e  Francisco  Matoso  construíram  uma   bela  canção  que  expressa  uma  despedida que  se  concretizará  através  de  um  sonho  :   “   BOA  NOITE  “ .   [ “ / Quando a noite descer, / Insinuando um triste adeus, / Olhando nos olhos teus, / Hei de beijando, / teus dedos dizer: / Boa noite amor, / Meu grande amor, / Contigo eu sonharei, / E a minha dor esquecerei, / Se eu souber que o sonho teu, / Foi o mesmo sonho meu. / Boa noite amor, / E sonha enfim, / Pensando sempre em mim, / Na carícia de um beijo, / Que  ficou, no desejo, / Boa noite meu grande amor. / Na carícia de um beijo, / Que ficou no desejo, / Boa noite meu grande amor / Boa noite meu grande amor./ . “   ]  . 






Os  compositores  Roberto Martins  e  waldemar Silva  fizeram  um  samba  em  homenagem  às  favelas , expondo  suas  belas  recordações  em  tempos  de  muitas  felicidades  quando  faziam  parte  daquela  comunidade   “  FAVELA  “  .      [ “ / Favela oi,favela, / Favela que guardo no meu coração / Ao recordar com saudade / A minha felicidade / Favela dos sonhos de amor / E do samba-canção. / / Hoje tão longe de ti / Se vejo a lua surgir / Eu relembro a batucada / E começo a chorar / Favela das noites de samba / Berço dourado dos bambas / Favela é tudo que eu posso falar. / Favela oi... / Minha favela querida / Onde eu senti minha vida / Presa a um romance de amor / Numa doce ilusão / E uma saudade bem rara / Na distância que nos separa / Eu guardo de ti esta recordação. / Favela oi,... / . “  ] 




Benedito  Lacerda  e  Herivelto Martins ,  reconhecendo  o  verdadeiro  reduto  dos  boêmios  do  Rio  de  Janeiro ,  compuseram  um  samba  em  que  demonstra  todas    as  caracterizações  do  lugar ,  confirmando  uma  tradição  da  boemia  :  “  A   LAPA   “ .      [ “ /  A Lapa / Está voltando a ser / A Lapa / A Lapa / Confirmando a tradição / A Lapa / É o ponto maior do mapa / Do Distrito Federal / Salve a Lapa! / O bairro das quatro letras / Até um rei conheceu / Onde tanto malandro viveu / Onde tanto valente morreu / Enquanto a cidade dorme / A Lapa fica acordada / Acalentando quem vive / De madrugada / . “  ]  . 





  Encerrando  esta  amostra  musical  interpretada  pelo  “  Rei  da  Voz  “  ,  selecionamos  um  grande  sucesso  de  Noel  Rosa  que  versa  sobre  um  pedido  aos  amigos  que  não  entristeçam  no  momento  da  passagem  do  autor , pedindo  que  o  ambiente  não  demonstre  tristeza  nem  muito  choro  e  que  a  lembrança  da  pessoa  amada  esteja  estampada  na   “  FITA  AMARELA  “ .                             [ “ /  Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) /Não quero flores / Nem coroa com espinho / Só quero choro de flauta / Com violão e cavaquinho / Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) / Se existe alma / Se há outra encarnação / Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão / Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) /Os inimigos / Que hoje falam mal de mim / Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim / Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) / . “  ]  .
      
O  Cantinho  Musical  espera  que  esta  pequena apresentação  de  alguns  sucessos  interpretados  por  um  cantor  que  recebeu  a  alcunha  de  “  REI  DA  VOZ  “  tenha  agradado  a  todos  os  que  trazem  na  lembrança  musical  as  canções  que  impulsionavam  as  grandes  serestas  em  uma  época  especial  de  boas  composições  !
 
      “   SER   CONSIDERADO  COMO  “  REI  DA  VOZ  “  EM  UM  CENÁRIO  DE  GRANDES  INTÉRPRETES , É  ALGO  QUE  NÃO  DEIXA  QUALQUER  DÚVIDA QUANTO  À  LEGITIMIDADE  DA  CLASSIFICAÇÃO RECEBIDA .  FRANCISCO  ALVES  ,  ALÉM  DE  UM  CANTOR  COM  GRANDE  ACEITABILIDADE  NO  MUNDO  DA  MÚSICA ,  TAMBÉM , COM  MUITA  MAESTRIA ,  ESTRUTURAVA  ALGUMAS  COMPOSIÇÕES   QUE  ESTÃO  CONTIDAS  NO   CANCIONEIRO  DA  MPB  COMO  GRANDES  SUCESSOS  !  “
 
Waldemar   Pedro   Antonio           e-mail :   [email protected]
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