24/02/2015 às 14h41min - Atualizada em 24/02/2015 às 14h41min

Não à intolerância

O racismo é um dos atos mais horrendos e controversos da atualidade. Muitos acreditam que isso não existe e boa parte dos que sofrem com essa hostilidade, por mais contraditório que pareça ser, prefere ignorá-la. Segundo o ativista Martin Luther King, “aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”. A frase continua sendo uma verdade. Ultrapassou os limites da cor da pele e perpassou esferas diversas da sociedade, alcançando recentemente uma triste notoriedade no universo do esporte.

Falar sobre racismo não é fácil. Basta você, leitor, verificar se o negro ao seu lado é visto como  igual, se ele tem as mesmas oportunidades, se é mais vigiado em lojas e shopping centers ou se a polícia o trata de forma cordial e educada. Outro ponto interessante é ouvir a opinião das pessoas sobre as cotas raciais. Quantas pessoas se exaltam e ofendem seus semelhantes por uma questão que ultrapassa todas as barreiras sociais, culturais e econômicas. Mas isso, infelizmente, não é levado em consideração na maioria dos casos.

Voltando ao esporte, tivemos alguns episódios racistas que demonstraram ainda haver quem acredite na superioridade do tom de pele das pessoas. Na Europa, o ex-técnico da Seleção Italiana, Arrigo Sacchi – que foi vice-campeão mundial contra o Brasil em 1994 –, declarou que “há muitos jogadores negros no país” ao criticar as divisões de base e a queda da qualidade técnica no futebol do país. Já em um jogo em Paris, na França, torcedores do clube inglês Chelsea impediram um jovem negro de entrar em um vagão de metrô, além de ofendê-lo com cânticos racistas. O incidente aconteceu depois de um jogo válido pela Liga dos Campeões, o maior torneio de clubes do mundo.

No Brasil, os casos se estendem. O mais recente envolveu a capitã da Seleção Brasileira de Vôlei, Fabiana Marcelino Claudino, que foi insultada por um torcedor em um jogo da sua equipe contra o Minas Tênis Clube. Fabiana, que nasceu em Santa Luzia, jogou por muito tempo no time da Rua da Bahia e, com certeza, jamais esperaria sofrer esse tipo de situação em um lugar que lhe proporcionou tantas alegrias.

Contudo, os casos não se limitam ao esporte. Um estudo sobre o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade (IVJ) 2014 revelou que a morte de jovens negros em 2012 cresceu 21,3% em relação a 2007. Só em 2012, foram mortos quase 23 mil jovens negros e pardos de 12 a 29 anos no país. Esse número é superior à média anual de mortes em conflitos como o da guerra civil de Angolacom 20,3 mil mortos ao ano, entre 1975 e 2002. Essa é uma lamentável realidade que merece a atenção de todos, tanto da população quanto dos nossos governantes.

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” As palavras do ilustríssimo Nelson Mandela – uma das figuras mais influentes e importantes das últimas décadas – nos trazem o alento de que o futuro pode ser diferente e de que podemos coexistir de maneira igualitária com nossos semelhantes, independentemente da cor da pele e de outras diferenças.

Os sinais estão em todos os lados. Podemos ser a mudança que desejamos no mundo ou preferimos seguir pelo lado da indiferença, simplesmente tratando esse problema com descrença?

(*)Henrique Frederico da Cruz é jornalista e assessor de imprensa na Partners Comunicação Integrada

 

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