Agora ocupamos este espaço do Cantinho da Música para desfilar as magníficas canções e a problemática vida de NOEL ROSA. Inicialmente , cabe aqui uma pergunta : É NOEL DA VILA OU É A VILA DE NOEL ? A exaltação ao bairro de Vila Isabel , através de suas canções, tornou aquele reduto conhecido como terra do samba. Quando os cariocas ouvem o nome Vila Isabel , eles pensam em Noel Rosa. Essa simbiose AUTOR / BAIRRO eternizou o rótulo de ambos . NOEL é , com plena certeza, um dos maiores compositores da música popular brasileira.
Noel Rosa nasceu em 11 de dezembro de 1910 na rua Teodoro da Silva. No seu nascimento houve algumas complicações médicas e , em conseqüência , uma atrofia no queixo. Quando tinha 13 anos, começou a tocar bandolim e violão. Dominando os instrumentos , fazia serenata pelo bairro de Vila Isabel. Com fama de bom violonista, foi convidado por Almirante e Braguinha para juntar-se ao grupo musical Flor do Tempo. Noel teve paixões por mulheres que se tornaram musas inspiradoras de seus sambas.
Com 18 anos já havia composto 29 músicas e entrou para o Bando de Tangagrás. A música mais importante da banda foi “ COM QUE ROUPA “ que ele compôs. A inspiração para essa música foi que, certa vez, Noel iria a uma festa, a mãe não deixou e escondeu suas roupas, ele , com pressa, perguntou : COM QUE ROUPA EU VOU ?
“ Agora vou mudar minha conduta / Eu vou pra luta / Pois eu quero me aprumar /
Vou tratar você com força bruta / Pra poder me reabilitar / Pois esta vida não está sopa / E eu pergunto : com que roupa que eu vou / Pro samba que você me convidou ?
Outro motivo de belas composições foi a história conhecida como “ polêmica “ entre Wilson Batista (compositor de vários sucessos ) e Noel Rosa . Tudo começou quando Wilson Batista compôs “ Lenço no Pescoço “ , uma ode à malandragem, expressão que Noel rejeitava.
Meu Chapéu do lado / Tamanco arrastando / Lenço no pescoço / Navalha no bolso / Eu passo gingando / Provoco e desafio / Eu tenho orgulho / Em ser tão vadio .
Noel Rosa respondeu logo com “ Rapaz Folgado “
Deixa de arrastar o teu tamanco /Pois tamanco nunca foi sandália / E tira do pescoço o lenço branco / Compra sapato e gravata / joga fora essa navalha que te atrapalha.
Em seguida , Wilson se saiu com “ Mocinho da Vila “
Você que é mocinho da Vila / Fala muito em violão, barracão e outros fricotes mais / Se não quiser perder o nome / Cuide do seu microfone e deixe / Quem é malandro em paz.
Noel contrapôs o antológico “ Palpite Infeliz “
Quem é você que não sabe o que diz ? / Meu Deus do céu , que palpite infeliz / Salve Estácio, Salgueiro ,Mangueira/
Oswaldo Cruz e Matriz / Que sempre souberam muito bem / Que a vila não quer abafar ninguém / Só quer mostrar que faz samba também.
Wilson apelou na gozação com o queixo para dentro de Noel e fez “ Frankenstein da Vila” .
Boa impressão nunca se tem / Quando se encontra um certo alguém / Que até parece um Frankenstein.
Então Noel e Vadico criaram “ Feitiço da Vila “
Quem nasce lá na Vila / Nem sequer vacila / Ao abraçar o samba / Que faz dançar os galhos/ do arvoredo e faz a lua /
Nascer mais cedo .
E, finalmente , Wilson respondeu com um lindo “ Conversa Fiada “
É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço / Eu fui ver para crer e não vi nada disso / A Vila é tranquila porém eu vos digo : cuidado ! / Antes de irem dormir deem duas voltas no cadeado.
A “ polêmica “ entre Wilson Batista e Noel Rosa nada mais foi do que uma grande gozação entre os dois sambistas , condizente com o estilo carioca de ser, com bom humor, leveza e farta dose de genialidade.
Foi dos cabarés da Lapa, dos botequins de Vila Isabel e do morro de Mangueira que Noel Rosa tirou inspiração para seus sambas. Numa noite de São João, Noel conheceu Ceci , DAMA DO CABARÉ , por quem se apaixonou e inspirou uma bela canção cujo nome é “ A Dama do Cabaré “.
Foi num cabaré na Lapa / Que eu conheci você /Fumando cigarro , / Entornando champanhe no seu soirée .
Mais tarde, já tomado pela tuberculose, Noel teve grande decepção com a amada , quando a encontrou com outro. Como todo condenado ,antes da morte, tem seu “ ÚLTIMO DESEJO “ , Noel compôs essa maravilha de sua galeria musical.
Nosso amor que eu não esqueço / E que teve seu começo / Numa festa de São João / Morre hoje sem foguete / Sem retrato sem bilhete / Sem luar e sem violão / Perto de você me calo / Tudo penso nada falo / Tenho medo de chorar/ Nunca mais quero seu beijo / Pois meu ÚLTIMO DESEJO / Você não pode negar.
O espaço é mínimo para falar das composições de Noel Rosa que é , verdadeiramente, um expoente da MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, mas todos nós guardamos na memória músicas e letras como : Conversa de Botequim , Fita Amarela , Gago apaixonado , Três Apitos , Filosofia , Feitio de Oração, Pierrot Apaixonado, O Orvalho vem caindo e mais centenas de jóias raras que representam o sustentáculo da nossa MÚSICA POPULAR BRASILEIRA.
WALDEMAR PEDRO ANTONIO -- e-mail : [email protected]