22/04/2015 às 08h10min - Atualizada em 22/04/2015 às 08h10min

AABB

Vista parcial da AABB de Leopoldina

Com surpresa, com tristeza, jamais com revolta, recebi a notícia sobre desapropriação do imóvel e das benfeitorias da AABB para a implantação de um complexo de altíssimo alcance social.

Lembro-me, como se ontem fosse, quando o querido colega Francisco Liberalino Pereira,então chefe da CREAI – Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil – teve a luminosa ideia de fundar em Leopoldina a AABB.

À época, não era difícil obterem-se os recursos financeiros para aquisição de terreno e construção de benfeitorias (sede, piscina), pois algum regulamento do Banco do Brasil destinava, salvo improvável erro de informação, 2% (dois por cento) de seu lucro para incentivar a iniciação de AABBs! A partir daí, a manutenção caberia aos sócios, mediante pagamento de mensalidades.

Difícil, muito difícil, foi conseguir o local considerado perfeito para a implantação do clube destinado aos funcionários do Banco, a seus familiares e eventualmente a seus amigos. Depois de muita procura, de muito questionamento, até mesmo de bastante divergência, comprou-se a peso de ouro um pedacinho da Fazenda Fortaleza, pertencente ao senhor Heleno Tavares de Resende.

Orgulho-me de ter sido presidente e de ter conseguido junto ao DNER, então presidido pelo Dr. Ademar Ribeiro, na intimidade o Ademarzinho, primo e amigo íntimo de papai, 2 tratores de esteira para os trabalhos pioneiros. Apesar da revolta do Dr. Hilário Horta, então chefe do escritório do DNER em Leopodina, as potentíssimas e modernas máquinas ficaram à nossa disposição, com seus eficientíssimos operadores, por alguns meses. Custo? Coisa de pai para filho (ou de primo para primo): apenas fornecer refeições aos operadores, o que valeu trabalho extra principalmente para minha esposa Scarlet, para a Edna (esposa do Guga) e para a Sônia (esposa do Rubinho Coutinho).

O Sr. Valmo Claussen Nogueira, proprietário de firma que prestava serviços usando pequenos tratores, por pedido meu fez gratuitamente um campinho de futebol society no terreno da AABB.

Com apenas um campinho para futebol e uma singela coberta (de quê ?) a AABB começou a viver, a crescer. Movidas apenas pelo entusiasmo, famílias geravam bela frequência, principalmente nos domingos e feriados.

Durante anos, “anos dourados”, sob o escudo da AABB se formou um time de futebol de campo de bom nível, com visitas recíprocas, envolvendo nossa AABB-Leopoldina com as de Barbacena, Carangola, Cataguases, Itaperuna, Rio Pomba, São João Nepomuceno, Ubá, Viçosa e talvez mais, que a memória não registra. A AABB visitada oferecia bela recepção, com almoço para todos após o jogo, sempre matutino. Também fomos magnificamente recepcionados em Maripá pelo Sr. João Felipe, em Argirita pelo Sr. Augusto Martins Rossi e em Piacatuba por vários clientes do Banco.

Em inigualável incentivo, o gerente Milton Bittencourt com a esposa Zélia e os filhos eram presença constante. Nossas esposas eram partícipes de todas as atividades que girassem em torno da AABB, levando como “torcida”, sempre que possível, filhos, pais, sogros, parentes outros e até amigos. Alimentando extraordinário congraçamento, prestigiavam assim todas as atividades que girassem em torno da AABB, até mesmo um simples campeonato de pesca no estreito e raso córrego que ladeava o terreno da AABB.

Depois de meus mandatos, vieram muitos outros dirigentes, todos de imensa boa-fé, meritórios em sua entrega na defesa da AABB. Não tenho como detalhar o que fizeram, mas lá estão os frutos de seus trabalhos. Muitos foram baluartes, heróis, sendo que alguns chegaram ao supremo amor de ali colocar recursos financeiros próprios para manter os compromissos financeiros da AABB em dia.

O entusiasmo pela AABB era de tal ordem que, em certa ocasião, até um funcionário de gabarito, o Renato Campos Baptista, foi liberado pelo subgerente Fernando Furtado Barreto para administrar obras que nela estavam sendo feitas.

Por culpa exclusiva do progresso, que colocou geringonças eletrônicas no lugar de seres humanos para atender clientes e fazer serviços, o número de funcionários ativos do Banco sofreu considerável, quase astronômico decréscimo. A isso se acrescentaram aposentadorias, inúmeras mudanças de domicílio e, pior de tudo, lamentáveis falecimentos, muitos de estúpida precocidade. Tantas ocorrências se somaram, tornando inviável a subsistência da adorada AABB.

Vejo-me pensando: se o Clube Leopoldina, de fantásticas glórias centenárias, não resistiu às dificuldades que lhe surgiram, a AABB também não tinha como resistir.

Fico sonhando acordado e não ouso citar nomes para evitar a fatal armadilha da omissão, mas se 5, 10, talvez mais aposentados, ainda residentes em Leopoldina, tivessem se alertado e agido, a AABB, tal qual Fênix, poderia ressurgir para gáudio coletivo.

Nesta edição “histórica”, registre-se pequena parte da grande história da AABB de Leopoldina e que se chore (no melhor dos sentidos) sua anunciada morte, mas que se teçam loas à iniciativa de ali se criar um local para benefício de tanta gente que merece nosso amor e nosso respeito. A AABB-Leopoldina morrerá para dar vida, vida mais digna, a muitos de nossos irmãos.

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