Muito mais do que um gênero musical ou uma dança , a VALSA é um estado de espírito . Chegou ao Brasil , oriunda da França , no ano de 1837 , e , naturalmente , seus primeiros executantes procuraram tocá-la dentro de suas originalidades musicais . Com o surgimento do CHORO , os músicos brasileiros começam a executá-la com um jeito harmonioso todo nosso .
A VALSA BRASILEIRA era uma espécie de porta-voz dos sentimentos amorosos , quando músicos e cantores se reuniam nas madrugadas , observados pela luminosidade de uma LUA fascinante , formando um cortejo e cantando pelas ruas das cidades , fazendo breve parada embaixo das janelas da moça que se queria conquistar , tendo como testemunha os lampiões acesos , participando da conquista da amada : isso chamava-se “ S E R E S T A “ ! Hoje , com uma bela preservação desse gênero centenário, o Distrito de CONSERVATÓRIA , Município de Valença , no Estado do Rio de Janeiro , embeleza e alegra a cidade aos finais de semana , colocando o cortejo musical com suas belas VALSAS entoadas por verdadeiros amantes da música : SERESTEIROS DE CONSERVATÓRIA e SERESTEIROS EM CONSERVATÓRIA , como costumam dizer.
O CANTINHO MUSICAL esclarece que a ordem das apresentações das VALSAS não se encontra em valores melhores ou piores , mas sim, respeitando toda sequência e não a posição e o valor tomados por cada uma na ordem da citação . Pedro Caetano e Claudionor Cruz , em um lampejo divino e frutos de suas competências , compuseram uma linda VALSA que foi imenso sucesso na voz de ORLANDO SILVA cujo nome é : “ CAPRICHO DO DESTINO “ . [ “ / Se Deus um dia / Olhasse a terra / E visse meu estado / Na certa compreenderia / O meu trilhar desesperado / E tendo ele em suas mãos /O leme do destino / Não deixar-me-ia / A cometer desatinos/ É doloroso / Mas infelizmente é a verdade /Eu não devia nem sequer /Pensar numa felicidade / Que não posso ter /mas sinto um revolta / Dentro de meu peito / é muito triste não se ter direito/ Nem de viver />........... “/. ] O mestre PIXINGUINHA compôs um choro-valsa que fora adotado para abrir ou fechar com chave de ouro as reuniões musicais , tipo de um ESQUENTA para motivar as pérolas que passariam a conduzir musicalmente as NOSSAS SERESTA . Mais tarde BRAGINHA recebeu a honra de ornamentar a bela música com uma brilhante poesia , que , juntas em uma só , constituem o exponencial da nossa MÚSICA POPULAR BRASILEIRA . “ C A R I N H O S O “ [ “ / Meu coração, /Não sei por quê / Bate feliz / Quando te vê / E os meus olhos ficam sorrindo / E pelas ruas , vão te seguindo /Mas mesmo assim, / Foges de mim .../ Ah , se tu soubesses / Como eu sou tão carinhoso / E o muito , muito que te quero / E como é sincero o meu amor / Eu sei que tu não fugirias / Mais de mim, /Vem , vem , vem , vem . / Vem sentir o calor / dos lábios meus / À procura dos teus / Vem matar esta paixão / Que me devora o coração / E , só assim , então, / serei feliz ... bem feliz... / “ ] . A escultura da beleza de uma mulher sempre foi um pretexto temático para os bons artistas , com finalidade de expor , ao mundo , a imagem perfeita que Deus criou . PIXINGUINHA e OTÁVIO DE SOUZA foram os artífices da MULHER ESCULTURADA , aglutinando melodia , poesia e , ainda , com interpretação magnífica na voz de ORLANDO SILVA a VALSA “ ROSA “ . [ “ / Tu és / Divina e graciosa / Estátua majestosa, / do amor / Por Deus esculturada / E formava com ardor / Da alma e da mais linda flor , / Do mais ativo olor/ Que na vida / É preferida / Pelo beija-flor / Se Deus me fora tão clemente /Aqui neste ambiente / de luz / Formada em uma tela / Deslumbrante e bela ! / O teu coração / junto ao meu / Lanceado , pregado / e crucificado / Sobre a rósea cruz/ Do arfante peito teu .......... / . “ ] . O que nos alegra no panorama de nossos seresteiros é o solene sorriso de felicidade , pela concentração harmoniosa no decorrer de uma canção e o discernimento da saber julgar a beleza da música quando executada . AS VALSAS BRASILEIRAS penetram em suas almas, fazendo que eles balancem no compasso musical . Os célebres responsáveis por essa criação são muitos em nossa galeria musical. CÂNDIDO DAS NEVES , O ÍNDIO , foi mestre nas composições de suas valsas . “ ÚLTIMA ESTROFE [ “ / A noite estava assim, enluarada / Quando a voz , já bem cansada / Eu ouvi de um trovador um trovador/ Nos versos que vibravam de harmonia / Ele , em lágrimas , dizia / Da saudade de um amor / Falava de um beijo apaixonado , / de um amor desesperado, / Que tão cedo teve fim/ E , desses gritos e tormentos ,/ Eu guardei no pensamento / Uma estrofe que era assim/ ........../.” ] . A contribuição de CÂNDIDO DAS NEVES na coletânea das VALSAS BRASILEIRAS é enorme , ofertando com um número expressivo de belas canções , como “ NOITE CHEIA DE ESTRELAS “ . [ “ / Noite alta , céu risonho , / A quietude é quase um sonho ,/ O luar cai sobre a mata / Qual uma chuva de prata / De raríssimo esplendor / Só tu dormes , não escutas o teu cantor / Revelando à lua airosa / A história dolorosa deste amor... / Lua ! / Manda a tua luz , prateada / Despertar a minha amada ! / Quero matar meus desejos !... / Sufocá-la com meus beijos ... / Canto / E a mulher que eu amo tanto /Não me escuta , está dormindo ... / Canto e por fim , / Nem a lua tem pena de mim. / Pois ao ver que quem te chama sou eu / E entre a neblina se escondeu ... /......../ ” ] . Voltando às criações musicais de CÂNDIDO DAS NEVES , agora com a bela parceria do mestre PIXINGUINHA : “ PÁGINAS DE DOR “. [ “ / Páginas de dor que faz lembrar, volver / As cinzas de um amor / Infeliz de quem amando alguém / Em vão esconde uma paixão. / Lágrimas existem que rolam na face, / Há outras porém , que rolam no coração / São essas que a rolar nos dão uma recordação / Páginas de dor que faz lembrar, volver/ As cinza de um amor ./ ........” ] . Na declaração de um sofrimento amoroso profundo , o compositor , com bastante equilíbrio na demonstração de seu padecer , expressa em belos versos a valsa “ LÁGRIMAS “ . [ “ / Ai, deixa-me chorar , para suavizar / O que eu não sei dizer mas sei sentir / Não prantear o amor que se perdeu / E a nossa alma enganar / E ao próprio coração querer mentir / Rir , é quase iludir/ É querer forçar / O próprio coração a gargalhar / Quando ele está solitário na dor / A soluçar de amor ... / ........” ] . Se fôssemos apresentar toda obra de CÂNDIDO DAS NEVES , não teríamos lugar suficiente para publicação de outros compositores com suas belas valsas ; então selecionamos algumas conhecidas do público . Na época era costume usar o nome da mulher amada e dedicar a ela uma valsa . Antonio Caldas e Celso Figueiredo criaram “ NEUZA “ [ “ / Há na luz clara e tranquila do luar / Um poema em louvor ao teu olhar / Porque a própria natureza / Se enleva em tua graça ,/ Canta tua beleza... / És como a flor mimosa da campina / Que a sutil aurora beija e ilumina ;/ Neuza, também, em teu louvor ; / Eu canto está valsa de amor ... / .........” / ] . A identificação do intérprete com a música é de importância fundamental , entretanto , o apagamento de seus compositores camufla os verdadeiros criadores da obra , foi o que aconteceu com “ E O DESTINO DESFOLHOU “ , valsa composta por GASTÃO LAMOUNIER e MÁRIO ROSSI , em que CARLOS GALHARDO é a verdadeira estampa representativa da canção . [ “/ O nosso amor traduzia / Felicidade ... afeição , / Suprema glória que , um dia ,/ Tive ao alcance da mão ;/ Mas veio um dia o ciúme,/ E o nosso amor se acabou ,/ Deixando em tudo o perfume /Da saudade que ficou / Eu te vi a chorar / Vi teu pranto, em segredo, correr ,/ E parti, a cantar , sem pensar / Que doía esquecer ... / ... .../ ‘ ] . Há uma enorme relação de temas musicais entre a jovialidade e a velhice . Quando nossos cabelos começam a determinar a cor do tempo , o homem tem necessidade de voltar ao passado, para relembrar sua mocidade . SÍLVIO CALDAS e ROGACIANDO LEITE construíram , em torno do tema , lembranças doces do passado com a brilhante poesia de “ MEUS CABELOS COR DE PRATA “ [ “ / Meus cabelos cor de prata/ São beijos de serenatas / Que a lua mandou pra mim / Os meus cabelos grisalhos / São pingos brancos de orvalho /Num tinteiro de nanquim /. Estes meus cabelos brancos / Que hoje estão da cor dos bancos / Solitários de um jardim, / Já sentiram muitos dedos / E ouviram muitos segredos , / Que elas contavam para mim ./.......” ] . JORGE FARAJ e NEWTON TEIXEIRA deixaram para eternidade uma das mais belas valsas : “ DEUSA DA MINHA RUA “ . [ “ / A Deusa da minha rua / Tem os olhos onde a lua / Costuma se embriagar / Os seus olhos eu suponho / Que o sol , num dourado sonho ,/ Vai claridade buscar. / Minha rua é sem graça, / Mas , quando por ela passa , / Seu vulto que me seduz , / A ruazinha modesta / É uma paisagem de festa, / É uma cascata de luz ./ ........ “ ] . ORESTES BARBOSA e SÍLVIO CALDAS formaram uma dupla magnífica que em um simples lampejo compuseram “ QUASE QUE EU DISSE “ . [ “ / Na febre dos meus desejos / Fui à procura de beijos / Em bocas tão desiguais / E agora de beijo farto / Tristonho volto pro quarto / Quero chorar... nada mais .../ Sabiam quanto eu te amava / Sabiam por que eu falava / A todos do meu amor / E logo a vespa da intriga / Originou essa briga / Oh minha amiga ! Que horror /..........” ] . Ainda dessa dupla maravilhosa, uma descrição lírica do amor : “ SUBURBANA “ [ “ / Olhando o céu me demoro / Num verso triste é que eu choro / Ninguém vê o pranto meu / Há muita lágrima triste / Que em seu sorriso consiste / Como o poeta descreveu / Minha linda suburbana / Por trás da veneziana / Vem sorrir nesta canção / Com teus lábios de doçuras / Que são tâmaras maduras / Na flora do coração ...../ “ ] . Completando , ainda , as pérolas maravilhosas compostas por ORESTES e SILVIO : “ ARRANHA-CÉU “ [ “ / Cansei de esperar por ela / Toda noite na janela / Vendo a cidade a luzir / Nesses delírios nervosos / Dos anúncios luminosos / Que são a vida a mentir .../ E, cada vez que subia / O elevador não trazia / Essa mulher maldição .../ E quando , lento, gemia , / O elevador que descia / Subia meu coração !... / .........” ] . “ LÁBIOS QUE BEIJEI “ é uma valsa composta por J. CASCATA e LEONEL AZEVEDO , tendo por tema o sofrimento de amor pela perda da pessoa amada . [ “ / Lábios que beijei, / Mãos que eu afaguei/ Numa noite de luar, assim.../ O mar na solidão bramia, / E o vento , a soluçar , pedia / Que fosses sincera para mim/ Nada tu ouviste / E , logo , partiste / Para os braços de outro amor /Eu fiquei chorando / Minha mágoa cantando / Sou a estátua perenal da dor /....... .. “ ] . Encerrando esta bela viagem , embora com demonstração limitada pela grandeza numérica dessas delícias musicais , faremos uma abordagem sobre uma valsa de ZEQUINHA DE ABREU que se consagrou sendo base de prefixo nos programas musicais , usando apenas a linha instrumental , razão por que não muito conhecida a poesia de DUQUE DE ABRANTES da valsa “ BRANCA “ [ “ / Há tempos que a vi / Que eu a conheci / Ela era linda um primor de amor/ Misto de estrela e de flor / Mas também sofreu / Eu sei , vou contar / Pois li naqueles olhos / Cansados de chorar / ........../ “ ] . Pecado seria se omitíssemos neste espaço a VALSA das VALSAS de CHIQUINHA GONZAGA , “ LUA BRANCA “ [ “ / Oh! Lua branca de fulgores e de encanto / Se é verdade que ao amor tu dás abrigo , / Vem enxugar dos olhos meus o pranto , / Ó vem matar esta paixão que anda / comigo./ Ai, por quem és desce do céu , ó lua / Branca , / Essa amargura do meu peito , ó vem , /Arranca, / Dá-me o luar da tua compaixão, / Ó vem por Deus , iluminar meu coração . / ........ / “ ] .
Reconhecemos profundamente , com grande tristeza , ter de omitir algumas pérolas que , certamente , ilustraram muitas serestas com a beleza de suas valsas , entretanto , também , admitimos a defasagem que há entre a produção artística de nossas valsas e o espaço oferecido para a composição de nossos artigos . “ “OS ETERNOS SUCESSOS MUSICAIS ALCANÇADOS PELAS “ VALSAS BRASILEIRAS “ DEVEM-SE ÀS SENSIBILIDADES DE TODOS NOSSOS SERESTEIROS QUE ACUMULAVAM EM SUAS ALMAS CADA NOTA HARMONIOSA E BELA VINDO DOS CANTOS DOLENTES NAS VOZES DOS AMANTES DAS GRANDES SERESTAS ! “
WALDEMAR PEDRO ANTONIO e-mail : [email protected]