26/08/2015 às 09h24min - Atualizada em 26/08/2015 às 09h24min

As janelas aguardavam cantos amorosos das serestas sob o ritmo das “VALSAS BRASILEIRAS”

Pedro Caetano e Claudionor Cruz, em um lampejo divino e frutos de suas competências, compuseram uma linda VALSA que foi imenso sucesso na voz de ORLANDO SILVA cujo nome é: “CAPRICHO DO DESTINO"

      Muito mais do que um gênero musical   ou uma dança , a  VALSA  é  um  estado de espírito . Chegou ao Brasil , oriunda da França , no ano de 1837 , e , naturalmente , seus primeiros executantes  procuraram      tocá-la dentro de suas originalidades musicais . Com o surgimento do CHORO , os músicos brasileiros começam a executá-la com um jeito harmonioso todo nosso .

          A  VALSA  BRASILEIRA     era uma espécie de porta-voz dos sentimentos amorosos , quando músicos e cantores  se reuniam nas madrugadas  , observados pela luminosidade de uma LUA fascinante , formando um cortejo  e cantando pelas ruas das cidades , fazendo breve parada embaixo das janelas da moça que se queria conquistar , tendo como testemunha os lampiões acesos , participando da conquista da amada :    isso chamava-se   “   S E R E S T A  “  !  Hoje , com uma bela preservação desse gênero centenário, o Distrito  de  CONSERVATÓRIA ,  Município  de Valença , no Estado do Rio de Janeiro , embeleza e alegra a cidade aos finais de semana , colocando o cortejo musical com suas belas  VALSAS  entoadas por verdadeiros amantes da música : SERESTEIROS  DE CONSERVATÓRIA  e  SERESTEIROS EM CONSERVATÓRIA ,  como costumam dizer.

          O  CANTINHO  MUSICAL esclarece que a ordem das apresentações  das VALSAS não se encontra em valores melhores ou piores , mas sim, respeitando toda sequência e não a posição e o valor tomados por cada uma na ordem da citação .  Pedro  Caetano  e Claudionor Cruz , em um lampejo divino e frutos de suas  competências  , compuseram  uma linda VALSA  que foi  imenso sucesso na voz de  ORLANDO  SILVA  cujo  nome  é :  “  CAPRICHO  DO  DESTINO  “ . [ “ / Se Deus um dia / Olhasse a terra / E visse meu estado / Na certa compreenderia / O meu trilhar desesperado / E tendo ele em suas mãos /O leme do destino / Não deixar-me-ia / A cometer desatinos/ É doloroso / Mas infelizmente é a verdade /Eu não devia nem sequer /Pensar numa felicidade / Que não posso ter /mas sinto um revolta / Dentro de meu peito / é muito triste não se ter direito/  Nem de  viver />...........  “/. ]  O mestre  PIXINGUINHA compôs um choro-valsa que fora adotado para abrir ou fechar com chave de ouro as reuniões musicais , tipo de um ESQUENTA  para motivar as pérolas que passariam a conduzir musicalmente as NOSSAS  SERESTA . Mais tarde BRAGINHA recebeu a honra de ornamentar a bela música com uma brilhante poesia , que , juntas em uma só , constituem o exponencial da nossa MÚSICA POPULAR BRASILEIRA  .  “   C A R I N H O S O  “   [ “ / Meu coração, /Não sei por quê / Bate feliz / Quando te vê / E os meus olhos ficam sorrindo / E pelas ruas , vão te seguindo /Mas mesmo assim, / Foges de mim .../ Ah , se tu soubesses / Como eu sou tão carinhoso / E o muito , muito que te  quero / E como é sincero o meu amor / Eu sei que tu não fugirias / Mais de mim, /Vem , vem , vem , vem . / Vem sentir o calor / dos lábios meus / À procura dos teus / Vem matar esta paixão / Que me devora o coração / E , só assim , então, / serei feliz ... bem feliz... / “ ] .  A escultura da beleza de uma mulher sempre foi um pretexto temático para os bons artistas  , com finalidade de expor , ao mundo , a imagem perfeita que Deus criou . PIXINGUINHA  e  OTÁVIO DE SOUZA  foram os artífices da MULHER  ESCULTURADA  , aglutinando melodia , poesia e , ainda , com interpretação magnífica na voz de ORLANDO SILVA a  VALSA  “   ROSA   “ .   [ “ / Tu és / Divina e graciosa / Estátua majestosa, / do amor / Por Deus esculturada / E formava com ardor / Da alma e da mais linda flor , / Do mais ativo olor/ Que na vida / É preferida / Pelo beija-flor / Se Deus me fora tão clemente /Aqui neste ambiente / de luz / Formada em uma tela / Deslumbrante e bela ! / O teu coração / junto ao meu / Lanceado , pregado / e crucificado / Sobre a rósea cruz/ Do arfante peito teu .......... / . “  ]  .   O que nos alegra no panorama de nossos seresteiros é o solene sorriso de  felicidade , pela concentração harmoniosa no decorrer de uma canção e o discernimento da saber julgar a beleza da música quando executada . AS VALSAS BRASILEIRAS  penetram em suas almas,  fazendo que eles  balancem no compasso musical . Os célebres  responsáveis por essa criação são muitos em nossa galeria musical. CÂNDIDO  DAS  NEVES  ,  O  ÍNDIO  , foi mestre nas composições de suas valsas .  “   ÚLTIMA  ESTROFE  [ “ / A noite estava assim, enluarada / Quando a voz , já bem cansada / Eu ouvi de um trovador  um trovador/ Nos versos  que vibravam de harmonia / Ele , em lágrimas , dizia / Da saudade de um amor / Falava de um beijo apaixonado , / de um amor desesperado, / Que tão cedo teve fim/ E , desses gritos e tormentos ,/ Eu guardei no pensamento / Uma estrofe que era assim/ ........../.” ] . A contribuição de CÂNDIDO DAS NEVES na coletânea  das VALSAS BRASILEIRAS  é enorme , ofertando com um número expressivo de belas canções , como  “  NOITE  CHEIA  DE  ESTRELAS  “ .        [ “ /  Noite  alta , céu risonho , / A quietude é quase um sonho ,/  O luar cai sobre a mata / Qual uma chuva de prata / De raríssimo esplendor / Só tu dormes , não escutas o teu cantor / Revelando à lua airosa / A história dolorosa deste amor... / Lua ! / Manda a tua luz , prateada / Despertar a minha amada ! / Quero matar meus desejos !... / Sufocá-la com meus beijos ... / Canto / E a mulher que eu amo tanto /Não me escuta , está dormindo ... / Canto e por fim , / Nem a lua tem pena de mim. / Pois ao ver que quem te chama sou eu / E entre a neblina se escondeu ... /......../ ” ] .  Voltando às criações  musicais  de    CÂNDIDO  DAS  NEVES    , agora com a bela parceria do mestre  PIXINGUINHA :    “    PÁGINAS  DE  DOR  “.    [ “ / Páginas de dor que faz lembrar, volver / As cinzas de um amor / Infeliz de quem amando alguém / Em vão esconde uma paixão. / Lágrimas existem que rolam na face, / Há outras porém , que rolam no coração / São essas que a rolar nos dão uma recordação / Páginas de dor que faz lembrar, volver/ As cinza de um amor ./ ........” ]  .  Na declaração de um sofrimento amoroso profundo , o compositor , com bastante equilíbrio na demonstração de seu padecer , expressa em belos versos a valsa   “   LÁGRIMAS   “ .   [ “ /  Ai, deixa-me chorar , para suavizar / O que eu não sei dizer mas sei sentir / Não prantear o amor que se perdeu / E a nossa alma enganar / E ao próprio coração querer mentir / Rir , é quase iludir/ É querer forçar / O próprio coração a gargalhar / Quando ele está solitário na dor / A soluçar de amor ...  / ........” ]  .  Se fôssemos apresentar toda obra de CÂNDIDO  DAS  NEVES ,  não teríamos  lugar suficiente para publicação de outros compositores com suas belas valsas ;  então selecionamos algumas conhecidas do público .  Na época era costume usar o nome da mulher amada e dedicar a ela uma valsa .   Antonio Caldas  e Celso Figueiredo  criaram  “  NEUZA  “ [ “ /  Há na luz clara e tranquila do luar / Um poema em louvor ao teu olhar / Porque a própria natureza / Se enleva em tua graça ,/ Canta tua beleza... / És como a flor mimosa da campina / Que a sutil aurora beija e ilumina ;/ Neuza, também, em teu louvor ; / Eu canto está valsa de amor ... / .........” / ]  .  A identificação do intérprete com a música  é de importância fundamental , entretanto , o apagamento de seus compositores  camufla os verdadeiros criadores da obra , foi o que aconteceu com  “  E  O  DESTINO  DESFOLHOU “ ,  valsa composta por  GASTÃO LAMOUNIER e MÁRIO ROSSI ,  em que CARLOS  GALHARDO é a verdadeira estampa representativa da canção .   [ “/ O  nosso  amor  traduzia   / Felicidade ... afeição , / Suprema glória que , um dia ,/ Tive ao alcance da mão ;/ Mas veio um dia o ciúme,/ E o nosso amor se acabou ,/ Deixando em tudo o perfume /Da saudade que ficou / Eu te vi a chorar / Vi teu pranto, em segredo, correr ,/ E parti, a cantar , sem pensar / Que doía esquecer ... / ... .../ ‘ ] .  Há uma enorme relação de temas musicais entre a jovialidade  e a velhice  . Quando nossos cabelos começam a determinar a cor do tempo , o homem tem  necessidade de voltar ao passado, para relembrar sua mocidade  . SÍLVIO CALDAS e ROGACIANDO LEITE   construíram , em torno do tema , lembranças doces do passado com a brilhante poesia de  “  MEUS  CABELOS  COR DE PRATA  “   [ “ / Meus cabelos cor de prata/ São beijos de serenatas / Que a lua mandou pra mim / Os meus cabelos grisalhos / São pingos brancos de orvalho /Num tinteiro de nanquim /. Estes meus cabelos brancos / Que hoje estão da cor dos bancos / Solitários de um jardim, / Já sentiram muitos dedos / E ouviram muitos segredos , / Que elas contavam para mim ./.......” ] .  JORGE  FARAJ  e  NEWTON TEIXEIRA  deixaram para eternidade  uma das mais belas valsas :  “ DEUSA  DA  MINHA  RUA  “ . [ “ / A  Deusa da minha rua / Tem os olhos onde a lua / Costuma se embriagar / Os seus olhos eu suponho / Que o sol , num dourado sonho ,/ Vai claridade buscar. / Minha rua é sem graça, / Mas , quando por ela passa , / Seu vulto que me seduz , / A ruazinha modesta / É uma paisagem de festa, / É uma cascata de luz ./ ........ “ ]  .  ORESTES  BARBOSA  e  SÍLVIO  CALDAS  formaram uma dupla magnífica que em um simples lampejo compuseram  “ QUASE  QUE  EU  DISSE  “ . [ “ / Na febre dos meus desejos / Fui à procura de beijos / Em bocas tão desiguais / E agora de beijo farto / Tristonho volto pro quarto / Quero chorar... nada mais .../ Sabiam quanto eu te amava / Sabiam por que eu falava / A todos do meu amor / E logo a vespa da intriga / Originou essa briga / Oh minha amiga ! Que horror /..........” ]   .  Ainda dessa dupla maravilhosa,  uma descrição lírica do amor :  “  SUBURBANA  “  [ “ /  Olhando o céu me demoro / Num verso triste é que eu choro / Ninguém vê o pranto meu / Há muita lágrima triste / Que em seu sorriso consiste / Como o poeta descreveu / Minha linda suburbana / Por trás da veneziana / Vem sorrir nesta canção / Com teus lábios de doçuras / Que são tâmaras maduras / Na flora do coração ...../ “ ] .  Completando ,  ainda , as pérolas maravilhosas compostas por ORESTES   e  SILVIO :   “  ARRANHA-CÉU  “            [ “ /  Cansei de esperar por ela / Toda noite na janela / Vendo a cidade a luzir / Nesses delírios nervosos / Dos anúncios luminosos / Que são a vida a mentir .../ E, cada  vez que subia / O elevador não trazia / Essa mulher maldição .../ E quando , lento, gemia , / O elevador que descia / Subia meu coração !... / .........” ]  .     “   LÁBIOS   QUE  BEIJEI  “ é uma valsa composta por J. CASCATA  e  LEONEL  AZEVEDO , tendo por tema o sofrimento de amor pela perda da pessoa amada .   [ “ /  Lábios que beijei, / Mãos que eu afaguei/ Numa noite de luar, assim.../ O mar na solidão bramia, / E o vento , a soluçar , pedia / Que fosses sincera para mim/ Nada tu ouviste / E , logo , partiste / Para os braços de outro amor /Eu fiquei chorando / Minha mágoa  cantando / Sou a estátua perenal  da dor /....... .. “ ]  . Encerrando esta bela  viagem , embora com demonstração limitada pela grandeza numérica dessas delícias musicais , faremos uma abordagem sobre uma valsa de  ZEQUINHA  DE  ABREU  que se consagrou sendo base de prefixo nos programas musicais , usando apenas a linha instrumental , razão por que  não muito conhecida a poesia  de  DUQUE  DE  ABRANTES  da valsa   “  BRANCA  “   [ “ /  Há tempos que a vi / Que eu a conheci / Ela era linda um primor de amor/ Misto de estrela e de flor / Mas também sofreu / Eu sei , vou contar / Pois li naqueles olhos / Cansados de chorar / ........../ “ ]  . Pecado seria se omitíssemos neste espaço a VALSA  das  VALSAS  de CHIQUINHA GONZAGA ,   “  LUA  BRANCA  “  [ “ / Oh! Lua branca de fulgores e de encanto / Se é verdade que ao amor tu dás abrigo , / Vem enxugar dos olhos meus o pranto , / Ó vem matar esta paixão que anda / comigo./ Ai, por quem és desce do céu , ó lua / Branca , / Essa amargura do meu peito , ó vem , /Arranca, / Dá-me o luar da tua compaixão, / Ó vem por Deus , iluminar meu coração . / ........ / “ ]  .

    Reconhecemos  profundamente , com grande tristeza ,  ter de omitir algumas pérolas que , certamente , ilustraram muitas  serestas com a beleza de suas valsas , entretanto , também , admitimos   a defasagem  que há entre a produção artística de nossas valsas e o espaço oferecido para a composição de nossos artigos . “  “OS   ETERNOS  SUCESSOS  MUSICAIS  ALCANÇADOS   PELAS “ VALSAS BRASILEIRAS  “ DEVEM-SE ÀS SENSIBILIDADES  DE TODOS  NOSSOS  SERESTEIROS  QUE ACUMULAVAM EM SUAS ALMAS CADA NOTA HARMONIOSA  E BELA  VINDO DOS  CANTOS  DOLENTES NAS VOZES DOS AMANTES DAS GRANDES SERESTAS ! “

WALDEMAR  PEDRO  ANTONIO                              e-mail :   [email protected]

 

 

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