18/11/2016 às 15h58min - Atualizada em 18/11/2016 às 15h58min

ESPELHO, ESPELHO MEU!

Masaharu Taniguchi
         Quando os cinco desejos do ser humano (ser amado, ser elogiado, ser reconhecido, ser útil e ser livre) são colocados em prática pelos pais, professores, parentes,  amigos etc., tudo se desenvolve em harmonia.
          O desejo de ser elogiado pode parecer insignificante, mas na realidade é muito importante .Dois exemplos são citados no livro A Verdade da Vida vol. 1:

          1- O sr. Kaichiro Nezu, quando jovem, vivia com mulheres nas casas de       chá e   muitas vezes não pernoitava em casa, enquanto o pai puxava um carrinho para   fazer entregas no seu lugar. Um dia, o pai deixou uma carta em seu quarto: "Eu  confio em você.  É um homem que não erra, pois tem firmeza de caráter. Cuide bem da sua  saúde". Essas palavras calaram fundo no filho, que deixou de frequentar esses lugares e, com muito esforço, chegou a ocupar um importantíssimo cargo: membro do  Conselho Imperial.

          2- Um menino tinha o hábito de furtar, e, como não conseguiam corrigí-lo, foi  decidido colocá-lo num reformatório de menores, mas, em vez  disso, a mãe teve uma sábia idéia: deixou uma vultosa importância "cair" num caminho que o filho fazia costumeiramente. O menino encontrou o dinheiro e o entregou à polícia. Foi muito  elogiado na escola e também pelos policiais. Isso o fez despertar para a importância em fazer algo bom ao próximo para receber elogio. E, consequentemente, nunca mais cometeu furto.

          A Seicho-No-Ie ensina: "Procure um ponto positivo na pessoa e a elogie". Normalmente, pais e professores que agem de forma inversa pensam que apontando as falhas melhorarão a criança.
          Num dos livros sobre Educação da Vida, o mestre Masaharu Taniguchi cita o caso de uma  professora que deu como lição de casa desenhar uma figura que estava no livro. No dia  seguinte, um menino apresentou o desenho à professora, e esta esbravejou com o garoto, chamando-o de irresponsável, e xingou-o com outras palavras. O menino disse que havia desenhado a figura do livro, apenas era menor que o desenho  dele. A partir daí o menino perdeu total motivação para fazer qualquer desenho. 

          Lembro-me da época do colegial (atual ensino médio), em que aprendi a jogar basquete. Nessas brincadeiras, havia apenas um colega que era craque no grupo.  Jogar ao lado do Tarcísio (o seu nome) era muito bom, porque, apesar de ser o melhor de todos, ele dava tranquilidade à equipe. Mesmo quando alguém errava um lance, jamais reclamava, ao contrário, dizia: "Tá bom, vamos em frente" e, quando alguém fazia um bom lance, dizia: "Parabéns, parabéns". Por isso, estar na mesma equipe de quem não critica, mas que elogia e ainda incentiva, dá ânimo ao grupo.

          Quando eu estava na 3ª  série do ginasial (atual ensino fundamental II), houve um dia em que os alunos não foram à sala de aula. Todos se dirigiram ao pátio onde havia um palco. Nesse dia, os melhores alunos de Português da 3ª e da 4ª séries receberiam uma homenagem da professora de Português. 

          Os melhores alunos dessas séries deveriam subir ao palco, e foi anunciado:"3ª série A - aluno tal", e a professora parabenizou e entregou uma medalha. Em seguida: "3ª série B - aluno Heitor Miyazaki". Subi ao palco sem entender nada. Na hora em que a professora foi me parabenizar, eu disse: "Professora, eu não sou o melhor aluno da minha classe. O melhor é o Alberto Martins", mas ela disse: "Eu faço questão de entregar esta medalha a você, como aluno "Revelação", por ser o mais esforçado da classe e acredito que será um grande homem". Fiquei emocionado em ouvir um elogio diante de todos! A minha gratidão à profª. Luzia Camas Cabrera, por confiar em mim.

          Há pessoas que não elogiam o outro por desconhecer o valor do elogio ou por egocentrismo. Sobre essas pessoas, o mestre Masaharu Taniguchi cita no livro A Verdade da Vida, v. 7: "As pessoas tolas tendem a acreditar que, quanto mais falarem mal dos outros, maior será a possibilidade de serem consideradas superiores. A verdade, porém, é justamente o oposto. Pode ser que muitas pessoas ouçam tais maledicências e comentários depreciativos sem contestar, mas, na verdade, elas dificilmente deixam de perceber a baixeza de caráter dos que as proferem". 

          Aqueles que elogiam com sinceridade, sem demagogia e sem falsidade têm coração grandioso, são generosos, pois reconhecem a grandeza do outro. O mesmo  livro menciona o seguinte: "Quanto mais atos de bondade praticarmos, mais se elevará a nossa alma. Quanto menos olharmos para os defeitos alheios, mais feliz será a  nossa alma. Quanto mais louvarmos as qualidades alheias, mais alegre e purificada se tornará a nossa alma".

          O livro Ensinando e Disciplinando os Filhos narra um fato interessante: a mulher havia ido à cabeleireira, e o marido, quando retornou do trabalho, não percebeu a diferença. O filho de 12 anos foi até o aposento em que estava o pai e disse-lhe: "Pai, a mãe fez permanente hoje. O senhor poderia elogiá-la". De imediato ele foi até a cozinha onde a esposa se encontrava, e disse: "Puxa, querida, como você está bonita!". Ela sorriu, feliz. E no jantar, que costumeiramente tinha duas misturas, naquele dia ela fez quatro!

          Jesus Cristo ensinou: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas virão de acréscimo" (Mt 6:33). Como Deus é amor absoluto, para ter uma vida plena de felicidade, é necessário viver conforme o Reino de Deus e a   palavra Justiça, ou seja, não contrariar a lei de Deus, que é amor. A 4ª Declaração Iluminadora da Seicho-No-Ie diz: "Acreditamos que o amor é o alimento da Vida e que a oração,  as palavras de amor e o elogio constituem o 'poder criador da palavra' que  concretiza o amor".

          O Mestre cita no livro Lições para o Cotidiano o caso do garoto Eddie e do padre Flanagan, que dedicou a vida toda na educação  de crianças e jovens e fundou a Cidade do Meninos. Eddie já aos oito anos de idade era assaltante. O padre Flanagan não via esses meninos e adolescentes como bandidos e dizia a cada um deles: "Você é filho de Deus". Porém, quando disse isso ao Eddie, este retrucou: "Filho de Deus? Eu sou criminoso. Você pensa que vai enrolar quem com esse absurdo?". A qualquer elogio, Eddie retrucava. Então, o padre Flanagan orou: "Como fazer?". 

          Nesse momento veio à sua mente, e disse:
 
          - Eddie, você sabe se a obediência é uma qualidade ou um defeito?
          - É claro que a obediência é uma qualidade. Quem não sabe disso? Só que eu não tenho um pingo de qualidade.
          E o padre Flanagan disse:
          - Isso não é verdade. Não existe ninguém tão obediente como você. Se você praticou maldade é porque teve professores" maus. Você teve como " professores " os criminosos e malandros e agiu obedecendo fielmente ao que eles mandaram. Se  você consegue obedecer fielmente até os malfeitores, é porque você é muito obediente. Por-
tanto, basta você trocar de professor. Se tiver um bom professor, você só terá de ser muito obediente.

          Ao ouvir essas palavras do padre, descobriu que ele não era uma pessoa má. "É verdade! Eu tenho essa qualidade! Sou obediente! Tenho uma coisa boa dentro de mim. Eu não sou mau, não sou pecador, eu sou bom". E com isso se regenerou.

ELOGIOS INDIRETOS OU NÃO

          Crítica, vaia, deboche, menosprezo, indiferença, exclusão, racismo etc, são situações opostas ao elogio, pois normalmente provocam a perda de autoestima da pessoa. 
As reações a essas manifestações variam de acordo com a personalidade de cada um.  No ano de 1969 ou 1970, eu estava na cidade de Santos para uma atividade.  Era o início da divulgação do ensinamento em português. Dirigindo-me para outro        local dentro de um bonde, um rapaz apontou-me um homem deitado na calçada e disse: "Olha, aquele homem foi o meu professor de Matemática. Depois que a esposa o  traiu, passou a viver como mendigo". Pessoas que reagem dessa forma mediante essa situação são muito sensíveis, emotivas, negativistas e desconhecem a sua natureza   divina.

São pessoas que necessitam conhecer a Verdade (esta liberta, disse Cristo), ser elogiadas, para elevar a autoestima, e perdoar a esposa. Em situação oposta, lembro-me de um jogo entre Santos e Vasco da Gama no Maracanã, Rio de Janeiro. O Vasco vencia por 2 a 0 e faltavam cinco minutos para o término do jogo quando a torcida em coro começou a provocar o Pelé: "Cadê o Pelé? Cadê o Pelé?". Essa manifestação despertou no Pelé o desejo de reagir, e assim ele o fez: em dois minutos marcou dois gols, e a torcida que o vaiava ficou de pé para aplaudí-lo.

          De forma semelhante ocorreu com Michael Jordan ao ser excluído da equipe  de basquete da escola. Chegando em casa, dirigiu-se diretamente para o seu quarto.   Sua mãe, ao vê-lo chorando, perguntou-lhe: "Michael, o que aconteceu? Por que você  está chorando?". E a resposta dele foi: "Mãe, deixe-me chorar de raiva. Fui excluído da equipe por ser um pouco baixo, mas serei o melhor do mundo". Treinou, treinou mais do que os colegas, e alcançou o objetivo: foi considerado o "Pelé do basquete".

          Se ninguém o elogiar, faça você mesmo. Sim, faça o autoelogio: "Sou filho de Deus, sou inteligente, tenho capacidade infinita, tudo eu consigo fazer" - repita-o várias vezes, principalmente ao despertar.

Preletor Heitor Miyazaki
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