04/03/2017 às 17h22min - Atualizada em 04/03/2017 às 17h22min

Empresa de Bem-estar Social!?

Empresa de Bem-estar Social!?
 
Paulo Lucio - Carteirinho
 
A crise de 1929, também conhecida como Grande Depressão, arrasou a economia mundial na época. É considerada por muitos como a maior recessão econômica da história do capitalismo.
 
Naquela época, imperava o Liberalismo. Modelo político e econômico que pregava  liberdade do mercado em relação ao Estado.  Como alternativa para sair da crise, muitos países adotaram as ideias de John Maynard Keynes: o Keynesianismo.  Uma forma de organização política/econômica fundamentada a partir do Estado. Que passa a ter papel fundamental em estimular a economia. Sendo o agente regulamentador da vida e saúde social.
 
Segundo Keynes, o  Estado é quem se responsabiliza pela política econômica. Cabendo a ele, as funções de proteção social dos indivíduos: saúde, educação, seguridade social. Surgindo o Estado de Bem-Estar Social. Destaco algumas criadas: redução da carga horária para 8 horas de trabalho, proibição do trabalho infantil, criação do seguro-desemprego, criação da Previdência Social, educação e saúde pública...
 
Esse modelo prevaleceu por muito tempo. Até a década de 70. Quando ideias liberais voltam a ganhar força. Surgindo o “Neo”liberalismo. Coloquei o “Neo” entre aspas, pois de novo (neo) não tem nada. Nada mais é do que o antigo pensamento liberal. Defendendo basicamente as mesmas ideias do passado: mais liberdade para a inciativa privada; menos  intervenção do Estado.
 
Para os liberais, o setor público deve ser substituído pela  inciativa privada. Criando assim o Estado Mínimo. Durante o “neo”liberalismo  tivemos o sucateamento dos serviços públicos,  privatizações, desregulamentação do setor financeiro e a flexibilização do mercado de trabalho. Tudo em prol do interesse privado.
 
O modelo “neo”liberal foi muito combatido pelos trabalhadores. Que não conseguiram impedir a  implantação das ideias “neo”liberais.   Por fim, os trabalhadores  acabaram se rendendo  ao “neo”liberalismo. Inclusive ajudando na  construção do Estado Mínimo.  Como diz o ditado: “se não pode com o inimigo, se alie a ele”.
 
Seduzidos pelo canto da sereia (capitalismo), os trabalhadores abandonaram a  luta coletiva (público)  e começaram a lutar por interesses individuais (privado). Deixando de fazer a luta política e se dedicando a luta sindical. Afastando do socialismo e se aproximando do capitalismo. Achando que o Estado não é mais necessário, tendo em vista que a empresa a qual faz parte pode atender suas necessidades. Criando assim: a  Empresa do Bem-Estar Social.
 
Para  os trabalhadores, cabe à empresa fornecer: saúde (plano de saúde para funcionários e familiares), medicamentos, educação (bolsas, cursos, treinamentos,  reembolso creche), segurança,   previdência complementar (privada), transporte,  moradia, alimentação, empréstimo, cultura, esporte ... .
 
A Empresa do Bem-Estar Social é fruto do Estado Mínimo. Da luta sindical. Acontece que esse modelo está no fim. Tendo em vista que a ausência do Estado e das políticas públicas aumentou os gastos das empresas. Cito como exemplo os Correios, a empresa a qual faço parte. A empresa fornece plano de saúde para os todos os  funcionários (mais de 100 mil), além de seus  dependentes (cônjuge, filhos e pais). Ao todo são mais de 400 mil  membros. Sendo o valor gasto anualmente acima de R$ 1 bilhão. Citei apenas o gasto com saúde, fora educação, transporte, segurança... .  
 
Como podem notar, a política do Estado Mínimo é muito caro para as empresas. Veio à crise econômica e muitas empresas  estão aproveitando o momento para romper com a Empresa do Bem-Estar Social. Revendo benefícios e direitos dos trabalhadores.  
 
Pegando carona na crise, muitos empresários forçam o governo a aprovar a Reforma Trabalhista. Cheia de ideias liberais visando flexibilização do mercado de trabalho. Destaco para algumas propostas: aumento da carga horária de trabalho, diminuição do horário de almoço, divisão das férias, criação do bando de horas (acabando com o pagamento das horas extras), negociado x legislado (o patrão acima da lei)...
 
Não poderia deixar de citar a Reforma da Previdência. Que também faz parte do pacote liberal. Como combater isso? Muito difícil!  Ainda mais quando se tem uma classe trabalhadora despolitizada. Que tem nojo de política. Tendo em vista que por  décadas lutaram  pelo privado. Acreditando que não precisaria do Estado e do governo.  Agora colhem os frutos  que plantaram. Terão que aceitar a decisão do Deus Mercado.
 
 
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