14/04/2017 às 10h37min - Atualizada em 14/04/2017 às 10h37min

Um show suingado e vibrante no 'País Tropical' 'Wilson Simonal'

WALDEMAR PEDRO ANTÔNIO
    O  Cantinho  Musical  abre  espaço  nesta  edição  para  mostrar , artisticamente , as  canções  de  um  showman que  foi  penalizado  pelos  seus  fãs  e  pelos  artistas por  se  envolver  em  grande  polêmica  sobre  uma  questão  política , no  período  do  Regime  Militar no  Brasil,  deixando-o ,  impiedosamente , por  muito  tempo  no  ostracismo:  “  WILSON  SIMONAL  “ .

    Wilson  Simonal  nasceu em 26 de fevereiro de 1939 e faleceu em 25 de junho de 2000  Rio de Janeiro foi um cantor brasileiro de muito sucesso nas décadas de 1960 e 1970 .  Cantor detentor de esmerada técnica e qualidade vocal, Simonal viu sua carreira entrar em declínio após o episódio no qual teve seu nome associado ao DOPS , envolvendo a tortura de seu contador Raphael Viviani.   Maior nome do estilo musical suingado , Simonal começou sua carreira artística no início dos anos 60, cantando em bailes, até ser levado para a televisão, no programa Os Brotos Comandam, de Carlos Imperial. Seu primeiro disco, Tem Algo Mais, foi lançado em 1963 e projetou seu nome, com a música Balanço Zona Sul, de Tito Madi. Um título apropriado, uma vez que o balanço seria uma das principais marcas registradas do estilo Simonal. 

   
    Passemos  agora  apreciar  algumas  canções  que  consagraram  o  cantor  pelo  seu  balanço  especial  e  suas  interpretações .  Iniciaremos  com  um  grande  sucesso  de  Tito  Madi  que  descreve a  admiração  das  pessoas  pelo  belo  caminhar  da  mulher  carioca  que  enfeitiça  o  coração  do  narrador  com  o  “  BALANÇO  ZONA  SUL  “ .         [ “ / Balança toda pra andar / Balança até pra falar / Balança tanto que já balançou meu coração / Balance mesmo que é bom, / Do Leme até o Leblon / E vai juntando um punhado de gente / Que sofre com seu andar / Mas ande bem devagar / Que é pra não se cansar / Vai caminhando, balan balançando sem parar / Balance os cabelos seus / Balance cai mas não cai / E se cair vai caindo, caindo / Nos braços meus / . “  ]  . 



Nesta  canção , Carlos  Imperial  faz  uma  apologia  às  gírias  da  época  e  aos  ditos  populares  comuns  nos  tratamentos  dos  jovens  quando  se  encontravam  .  Wilson  Simonal   interpreta  com  bastante  suingado e  numa  cadência  envolvente em   “  NEM  VEM  QUE  NÃO  TEM  “  .  [ “ /  Ahahahahahaha! / Vamos voltar a pilantragem / Xá comigo, uma musiquinha / Pra machucar os corações / Nem vem que não tem / Nem vem de garfo / Que hoje é dia de sopa / Esquenta o ferro / Passa a minha roupa / Eu nesse embalo / Vou botar pra quebrar / Sacudim, sacundá / Sacundim, gundim, gundá! / Nem vem que não tem / Nem vem de escada / Que o incêndio é no porão / Tira o tamanco / Tem sinteco no chão / Eu nesse embalo / Vou botar pra quebrar / Sacudim, sacundá / Sacundim, gundim, gundá! / Nem vem! / Numa casa de caboclo / Já disseram um é pouco / Dois é bom, três é demais / Nem Vem! / Guarda teu lugar na fila / Todo homem que vacila / A mulher passa pra trás / Nem vem que não tem / Pra virar cinza / Minha brasa demora / Michô meu papo / Mas já vamos'imbora / Eu nesse embalo / Vou botar pra quebrar / Sacudim, sacundá / Sacundim, gundim, gundá! / Nem vem! / Numa casa de caboclo / Já disseram um é pouco / Dois é bom, três é demais / Nem Vem! / Guarda teu lugar na fila / Todo homem que vacila / A mulher passa pra trás / Nem vem que não tem! / . “  ]  . 

Jorge  Bem  Jor,   em  um  lampejo  de  felicidade, compôs  uma  canção , demonstrando , com  muita  simplicidade ,  o  orgulho  em  ser  brasileiro e  encenando  várias  passagens  que  embelezam  e  identificam-se  com  o  “  PAÍS  TROPICAL  “  .                  [ “ / Moro... / Num país tropical, / Abençoado por Deus  / E bonito por natureza (Mas que beleza!) / Em fevereiro (Em fevereiro) / Tem carnaval (Tem carnaval) / Eu tenho um fusca e um violão, / Sou Flamengo e tenho uma nêga chamada Tereza / "Sambaby", "Sambaby" / Sou um menino de mentalidade mediana (Pois é) / Mas assim mesmo, feliz da vida pois eu não devo nada a ninguém (Pois é) / Pois eu sou feliz, muito feliz comigo mesmo... / Moro...  / (BIS) Num país tropical,...................  chamada  Tereza  /  / Eu posso não ser um Band Leader (Pois é) / Mas assim mesmo, lá em casa todos meus amigos, meus camaradinhas me respeitam (Pois é) / Essa é a razão da simpatia, do poder do algo mais e da alegria... /  (BIS) / Moro.../ Num país tropical,.............chamada Tereza /"Mor... / No patropi, / Abençoá por Dê / E boni por naturê (Mas que Belê!)" / "Em feverê (Em feverê) / Tem carná (Tem carná) / Eu tenho um fuca um vió / Sou flamen e tenho uma nêga chamá Terê / Do meu Brasil"/.”  ]. 

Antônio  Adolfo  compôs  esta  bela  canção onde  descreve,  com  certa  suntuosidade,  a  beleza  de  Marina  e  a  competência  com  que  desenvolve  seu  bailado, deixando  toda  plateia  aflita  com  seus  passos ,  admirando a  ternura  de   “  SÁ  MARINA  “ .              [ “ /  Descendo a rua da ladeira / Só quem viu, que pode contar / Cheirando a flor de laranjeira / Sá Marina vem prá dançar... / De saia branca costumeira / Gira ao sol, que parou prá olhar / Com seu jeitinho tão faceira / Fez o povo inteiro cantar... / Roda pela vida afora / E põe prá fora esta alegria / Dança que amanhece o dia / Prá se cantar / Gira, que essa gente aflita / Se agita e segue no seu passo / Mostra toda essa poesia do olhar / Huuuuuuummmm!... / Deixando versos na partida / E só cantigas prá se cantar / Naquela tarde de domingo / Fez o povo inteiro chorar / E fez o povo inteiro chorar
E fez o povo inteiro chorar... / Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! / (3 X) /  (BIS)  / . “  ]  .                  



A  simbologia  das  cores  é  impressionante , porque  significa  fatos que  acontecem  . Nesta  canção , após  um  conselho  feminino ,  encontramos  uma  grande  mudança  de  comportamento , simplesmente  por  permutar  as  cores  da  vestimenta , transformando   toda  a  sorte  de  alguém ao  afirmar  :   “  VESTI  AZUL  “  .                        [ “ /  Estava na tristeza que dava dó / vivia vagamente / e andava só / mas eis que de repente / me apareceu um brotinho lindo  / que me convenceu, dizendo  / que eu devia vestir azul,  / que azul é cor do céu e seu olhar também... / Então o seu pedido me incentivou / vesti azul / minha sorte então mudou / vesti azul / minha sorte então mudou... / Passei a ser olhado com atenção.. / e fui agradecer pela opinião / Então senti que o broto estava toda mudada / parecia até que estava apaixonada / então eu fiz charminho e acrescentei / só vim aqui saber como eu fiquei' / e aquele olhar do broto me confirmou, /  vesti azul / minha sorte então mudou / vesti azul, minha sorte então mudou.../ . “  ]  .

Esta  canção  fez  muito  sucesso  ,  apesar  da  simplicidade  temática . Wilson  Simonal , com  sua  bela  interpretação , deu  à  música   uma  cadência   especial  na  mensagem  em  que  expressa   um movimento  em  compasso  de  espera  da  mulher  linda   que  vem  chegando    :             “  ZAZUEIRA  “  .  [ “ /  Ela vem chegando / (ela vem chegando) / E feliz vou esperando / (e feliz vou esperando) / A espera é difícil / (a espera é difícil) / Mas eu espero sambando / (mas eu espero sambando) / Menina bonita com céu azul / Ela é uma beleza / Menina bonita, você é demais / A alegria da minha tristeza / Mas ela vem chegando / (ela vem chegando) / E feliz vou esperando / (e feliz vou esperando) / A espera é difícil / (a espera é difícil) / Mas eu espero sambando / (mas eu espero sambando) / Pois uma  flor é uma rosa / Uma rosa é uma flor / É um amor esta menina / Esta menina é o meu amor / Zazueira  /  Zazueira.../ . “  ]  .


Esta  canção,   despretensiosamente,  aborda  um  tema  singelo,  convencendo  a  todos  que  a  preferência  das  mulheres  se  deve  simplesmente  ao  fato  de  :  “   MAMÃE  PASSOU  AÇÚCAR  EM  MIM  “  .  [ “ /    Eu sei que tenho muitas garotas / Todas gamadinhas por mim / E todo dia é uma agonia  / Não posso mais andar na rua, é o fim  / Eu era neném / Não tinha talco  / Mamãe passou açúcar em mim / Sei de muito broto / Que anda louco / Pra dar uma bitoca ni mim / E na verdade, na minha idade / Eu nunca vi ter tanto broto assim / Eu era neném / Não tinha talco  / Mamãe passou açúcar em mim / . “  ]  . 





Em  pleno  movimento  da  “ Bossa  Nova “ ,  Carlos  Lira  e  Ronaldo  Bôscoli  compuseram  esta  canção  que ,   com  base  em  uma  história  infantil , ousaram  comparar  uma  conquista  amorosa  e  fictícia  com  fatos  de  uma  realidade  em  referência  a  um  galanteador , transformando-o  em   “  LOBO  BOBO  “ .  [ “ /  Era uma vez um lobo mau / Que resolveu jantar alguém / Estava sem vintém / Mas arriscou e logo se estrepou / Um chapeuzinho de maiô / Ouviu buzina e não parou / Mas lobo mau insiste / E faz cara de triste / Mas chapeuzinho ouviu  / Os conselhos da vovó / Dizer que não pra lobo / Que com lobo não sai só / Lobo canta, pede promete / Tudo até amor / E diz que fraco de lobo / É ver um chapeuzinho de maiô / Mas chapeuzinho percebeu / Que o lobo mau se derreteu / Pra ver você que lobo / Também faz papel de bobo / Só posso lhe dizer, chapeuzinho agora traz / O lobo na coleira que não janta / Nunca mais, lobo lobo, uh! / .  ]  .



A  Juventude  Transviada , na  época  da  Jovem  Guarda , era  identificada  por  algumas  novidades em seus  vestuários , expressões  de  gíria  da  rapaziada ,  uso  de  carros  sofisticados  e  a  relação  amorosa  com  os  brotinhos  que  entravam  no   “  CARANGO “  .  [ “ / Copacabana carro vai zarpar / Todo lubrificado / Prá não enguiçar / Roda tala larga genial / Botando minha banca / Muito natural /      Simbora...1 2 3 / Camisa verde claro, calça Saint Tropez / E combinando com o carango / Todo mundo vê / Ninguém sabe o duro que dei / Prá ter fon fon / Trabalhei, trabalhei (2x)  / Depois das seis / Tem que acender farol / Garota de menor não pode ser sem sol..ahhh / Barra da Tijuca já mixou / A onda agora é / Deixar cair no Le Bateau / Simbora...1 2 3 / Garota mini saia essa onda é bem / E todo mundo no carango / Não sobrou ninguém / Ninguém sabe o duro que dei / Prá ter fon fon / Trabalhei, trabalhei (2x) / Mas em São Paulo eu boto prá quebrar / Ah! Eu pego o meu carango / E vou pro Guarujá / Paro o carro frente pro mar / Barra limpa bonequinha / Chega mais prá cá / Simbora...1 2 3 / Capota levantada prá ninguém nos ver / Um abraço, e um beijinho / Isso é que é viver / Ninguém sabe o duro que dei / Prá ter fon fon / Trabalhei, trabalhei (2x) / .  ]  .


Para  encerrar  o  artigo  com  uma  pequena  seleção  de  músicas interpretadas  por  Wilson  Simonal , o  Cantinho  Musical  optou  por   uma canção escrita pelo poeta Vinícius de Moraes e por Toquinho .  A despeito do significado literal, a expressão ,  que  dá  título  à  música  , foi escolhida pelo poeta Vinícius de Moraes pela sua sonoridade, sem valor semântico, mas como  uma espécie de xingamento em língua nagô. De acordo com o Novo Dicionário Banto do Brasil, de Nei Lopes, estas palavras significam o seguinte: (1) tonga (do Quicongo), "força, poder"; (2) mironga (do Quimbundo), "mistério, segredo" (Houaiss acrescenta: "feitiço"); (3) cabuletê (de origem incerta), "indivíduo desprezível, vagabundo" . 


A expressão foi na verdade uma provocação em tom de brincadeira aos censores da ditadura militar que costumavam  buscar  nas entrelinhas das letras  musicais termos e frases que protestassem  contra o Regime vigente. O  próprio  autor da  letra declara : verdade não significa absolutamente  nada : A  TONGA  DA  MIRONGA  DO  KABURETÊ  “ .  [ “ /  Eu caio de bossa / Eu sou quem eu sou / Eu saio da fossa / Xingando em nagô / Você que ouve e não fala / Você que olha e não vê / Eu vou lhe dar uma pala / Você vai ter que aprender / A tonga da mironga do kabuletê / 2X  / Eu caio de bossa / Eu sou quem eu sou / Eu saio da fossa / Xingando em nagô / Você que lê e não sabe / Você que reza e não crê / Você que entra e não cabe / Você vai ter que viver / Na tonga da mironga do kabuletê / 2X /  Você que fuma e não traga / E que não paga pra ver / Vou lhe rogar uma praga / Eu vou é mandar você / Pra tonga da mironga do kabuletê / Pra tonga da mironga do kabuletê / Pra tonga da mironga do kabuletê / . “  ]  .
  “   EM  GRANDES  APRESENTAÇÕES NO  PALCO , SÃO  POUCOS OS CANTORES  QUE SE  IGUALAM    AO  DESEMPENHO  DE  WILSON  SIMONAL  ATUANDO EM  ESPETÁCULOS  MUSICAIS . MESMO   REJEITADO  PELO  MEIO  ARTÍSTICO ,  A  POLÊMICA  POLÍTICA  NÃO  OFUSCOU  O  TALENTO  DE  UM  CANTOR  QUE  TRANSMITIA   ALEGRIA  AO  PÚBLICO  ATRAVÉS  DE  SUAS CANÇÕES  “
 
Waldemar  Pedro   Antonio               e-mail  :  [email protected] 
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