O Cantinho Musical em sua segunda edição sobre as Escolas de Samba do Grupo Especial homenageará , neste artigo , a campeã das campeãs do carnaval carioca , porque detém o posto de maior campeã do carnaval do Rio de Janeiro , orgulho dos sambistas de Madureira : Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela .
A Portela foi fundada em abril de 1923, como um bloco carnavalesco chamado “Conjunto Oswaldo Cruz”, bairro sede da Escola. No ano de 1926 aconteceu a criação do bloco “Baianinhas de Oswaldo Cruz”, que contava com o embrião da primeira diretoria portelense: Paulo da Portela, Alcides Dias Lopes (Malandro Histórico), Heitor dos Prazeres, Antônio Caetano, Antônio Rufino, Manuel Bam Bam Bam, Natalino José do Nascimento – o famoso Natal. Essa junção, organização de blocos , resultou na escola de samba, que, em meados dos anos 1930, passou a se chamar Portela e se tornou uma das maiores forças do carnaval carioca . A bandeira da escola de samba da Portela é azul e branco com uma águia escolhida que simbolizaria, para os fundadores da agremiação , o voo mais alto que os sambistas desejavam alçar. Consagrada no samba, no carnaval, no Rio de Janeiro e no mundo, a plena história da Portela não cabe em uma só página. Para sorte dos que curtem os desfiles de escola de samba , esse caudaloso rio de memórias continua vivo, seguindo em frente, banhando os portelenses com boas coisas ligadas ao samba .
Relembrando , inicialmente , um fato que requer muita atenção do mundo do sambistas , queremos dizer que não foi só um rio que passou pela vida desse baluarte do samba , mas também uma bela trajetória de amor, paixão e respeito pela PORTELA , divulgando , sempre em suas músicas , a escola de seu coração . Indiferente também a essa paixão , ama e respeita as outras agremiações , como tivesse verdadeiramente sua alma musical dividida . Exemplo deste fato foi o que aconteceu com o samba “ SEI LÁ , MANGUEIRA que , a convite e parceria com Hermínio Bello de Carvalho , criou-se uma das maiores polêmicas no mundo do samba , porque , por ciúmes e constrangimento , os componentes da Escola de Madureira cobraram de Paulinhoda Viola uma explicação que imediatamente respondeu em forma de um maravilhoso samba que se pode considerar como verdadeiro hino da ESCOLA DE SAMBA PORTELA : “ FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA . [ “ / Se um dia / Meu coração for consultado / Para saber que andou errado / Será difícil negar / Meu coração / Tem mania de amor / Amor não é fácil de achar / A marca dos meus desenganos / Ficou , ficou / Só um amor pode apagar (bis) / Porém ! Ai porém / Há um caso diferente / Que marcou num breve tempo / Era dia de carnaval / Carregava uma tristeza / Não pensava em novo amor / Quando alguém / Que não me lembro anunciou / Portela , Portela / O samba trazendo alvorada / Meu coração conquistou /........” ] .
A partir deste momento , embarcaremos no trem da Central do Brasil rumo a Madureira e Osvaldo Cruz para que possamos curtir os sambas-enredo entoados no canto da ÁGUIA azul e branco nesse bairro que é a capital do samba . Iniciaremos com o ano de 2017 quando a Portela dividiu o título de campeã com a Padre Miguel , levando para avenida um tema que narra toda sua história como agremiação dos sambistas , na cadência maravilhosa do samba-enredo composto por Beto Rocha e um condomínio de compositores portelenses , demonstrando em cada verso a bela história na trajetória da escola de seus corações “ Quem Nunca Sentiu o Corpo Arrepiar Ao Ver Esse Rio Passar “ . [ “ / Vem conhecer esse amor / A levar corações através dos carnavais / Vem beber dessa fonte / Onde nascem poemas em mananciais / Reluz o seu manto azul e branco / Mais lindo que o céu e o mar / Semente de Paulo, Caetano e Rufino / Segue seu destino e vai desaguar / A canoa vai chegar na aldeia / Alumia meu caminho, Candeia (bis) / Onde mora o mistério, tem sedução / Mitos e lendas do ribeirão / Cantam pastoras e lavadeiras pra esquecer a dor / Tristeza foi embora, a correnteza levou / Já não dá mais pra voltar (ô iaiá) / Deixa o pranto curar (ô iaiá) / Vai inspiração, voa em liberdade / Pelas curvas da saudade / Oh, mamãe ora yê yê ô vem me banhar de axé / ora yê yê ô / É água de benzer, água pra clarear / Onde canta um sabiá / Salve a Velha Guarda, os frutos da jaqueira / Oswaldo Cruz e Madureira / Navega a barqueada, aos pés da santa em louvação / Para mostrar que na Portela o samba é religião / O perfume da flor é seu / Um olhar marejou sou eu / Quem nunca sentiu o corpo arrepiar / Ao ver esse rio passar / . “ ] .
Em 1984 , a Portela , entoando as origem de um misticismo e justificando sua história a partir de seus componentes , leva para avenida um enredo que reforça a sua importância no mundo do samba e sua bela tradição , alcançando o título de Campeã do Grupo 1A , e 2ª Colocada no Supercampeonato, com um belo samba-enredo composto por Dedé da Portela e Norival Reis : “ CONTOS DE AREIA “ . [ “ /Bahia é um encanto a mais / Visão de aquarela / E no ABC dos Orixás / Oranian é Paulo da Portela / Um mundo azul e branco / O deus negro fez nascer / Paulo Benjamim de Oliveira / Fez esse mundo crescer (okê, okê) / Okê-okê Oxossi / Faz nossa gente sambar (bis) / Okê-okê, Natal / Portela é canto no ar / Jogo feito, banca forte / Qual foi o bicho que deu? / Deu Águia, símbolo da sorte / Pois vinte vezes venceu / É cheiro de mato / É terra molhada (bis) / É Clara Guerreira / Lá vem trovoada / Epa hei, Iansã, epa hei (bis) / Na ginga do estandarte / Portela derrama arte / Neste enredo sem igual / Faz da vida poesia / E canta sua alegria / Em tempo de carnaval / (Ê Bahia...) / . “ ] .
Em 1981 , com um samba vencedor de David Correa e Jorge Macedo muito disputado na quadra , em que a Portela levaria para avenida um tema bordado nos versos de seu samba lindas manifestações metafóricas , onde mesclaria as maravilhosas belezas do mar com imensas inspirações temáticas na criatividade dos grandes poetas para as construções líricas de suas belas poesias : “ DAS MARAVILHAS DO MAR , FEZ-SE O ESPLENDOR DE UMA NOITE “ . [ “ / Deixa me encantar, com tudo teu, e revelar, lalaiá lá / O que vai acontecer nesta noite de esplendor / O mar subiu na linha do horizonte, desaguando como fonte / Ao vento a ilusão desce / O mar, ô o mar, por onde andei mareou, mareou / Rolou na dança das ondas, no verso do cantador / Dança que tá na roda, roda de brincar / Prosa na boca do tempo e vem marear ( Eis o cortejo... ) / Eis o cortejo irreal, com as maravilhas do mar / Fazendo o meu carnaval, é a vida a brincar / A luz raiou pra clarear a poesia / Num sentimento que desperta na folia ( Amor, amor ... ) / Amor, sorria, ô ô ô, um novo dia despertou / E lá vou eu, pela imensidão do mar / Nessa onda que corta a avenida de espuma, me arrasta a sambar (E lá vou eu... ) / E lá vou eu, pela imensidão do mar / Nessa onda que corta a avenida de espuma, me arrasta a sambar / . “ ] .
Em 1975 , em um samba-enredo composto por David Correa e Norival Reis , a Portela reviveu na avenida , com muita competência , um tema baseado na Obra Prima de Mário de Andrade fruto do conhecimento acerca das lendas e mitos indígenas e folclóricos , com uma narrativa de caráter mítico, em que os acontecimentos não seguem as convenções realistas, a obra procura fazer um retrato do povo brasileiro, por meio do “herói sem caráter . : “ MACUNAÍMA “ . [ “ / Portela apresenta / Do folclore tradições / Milagres do sertão à mata virgem / Assombrada com mil tentações / Cy, a rainha mãe do mato, oi / Macunaíma fascinou / Ao luar se fez poema / Mas ao filho encarnado / Toda maldição legou / Macunaíma índio branco catimbeiro / Negro sonso feiticeiro / Mata a cobra e dá um nó / Cy, em forma de estrela / À Macunaíma dá / Um talismã que ele perde e sai a vagar / Canta o uirapuru e encanta / Liberta a mágoa do seu triste coração / Negrinho do pastoreio foi a sua salvação / E derrotando o gigante / Era uma vez Piaiman / Macunaíma volta com a muiraquitã / Marupiara na luta e no amor / Quando sua pedra para sempre o monstro levou / O nosso herói assim cantou / Vou-me embora, vou-me embora / Eu aqui volto mais não / Vou morar no infinito / E virar constelação / . “ ] .
Em 1973 , agora inspirado em poema de Manuel Bandeira , a Portela embarcou em uma bela ilusão com o samba-enredo , ainda de David Correa , em que o poeta busca uma espécie de paraíso para vivenciar os atos comuns da vida . Pasárgada é construída em razão da necessidade de um espírito que busca liberdade e que também prega uma liberdade ao leitor , daí a razão da fuga para um mundo , embora ilusório , de perfeição e prazer : “ Vou-me embora pra Pasárgada ” . [ “ / Ao embarcar na ilusão / Senti palpitar meu coração / Na passarela, / Um reino surgia / Quanta alegria / Desembarquei feliz / Tudo era fascinante / Nesse mundo pequenino / Até relembrei os dia / Do meu tempo de meninoNas brincadeiras de roda / Rodei pelo mundo afora / Nesse reino azul (azul) / Tem tudo o que desejei / Auê, auê, auê eu sei / Eu sei que sou o amigo do rei / Nas ondas do mar, caminhei / No azul do céu eu voei / E lá vem ela na avenida / Cinquentenária tão querida / Ô Portela, Portela? / Na vida és a Pasárgada mais bela / . “ ] .
Em 1974 , Evaldo Gouveia e Jair Amorim compuseram um samba-enredo em que a Portela exalta um compositor da MPB que se destacou no cenário da música instrumental estruturando os mais belos choros e chorões que estão perpetuados na galeria musical das boas e belas composições : PIXINGUINHA . O “ Dia Nacional do Choro “ é comemorado na data de seu nascimento , em 23 de abril , em uma bela homenagem a este grande representante da música popular brasileira : “ O Mundo Melhor de Pixinguinha (Pizindin) “ . [ “ / Lá vem Portela / Com Pixinguinha em seu altar / E altar de escola é o samba / Que a gente faz / E na rua vem cantar / Portela / Teu carinhoso tema é oração / Pra falar de quem ficou / Como devoção / Em nosso coração / Pizindin! Pizindin! Pizindin! / Era assim que a vovó / Pixinguinha chamava / Menino bom na sua língua natal / Menino bom que se tornou imortal / A roseira dá / Rosa em botão / Pixinguinha dá / Rosa, canção / E a canção bonita é como a flor / Que tem perfume e cor / E ele / Que era um poema de ternura e paz / Fez um buquê que / não se esquece mais / De rosas musicais / Lá vem Portela... / .” ] .
No ano de 2004 , em um samba-enredo composto por Catoni / Jabolô / Valtenir , a Portela desfilou garbosamente apresentando um enredo empolgante que versava sobre as nossas lendas e todos os mistérios que as envolvem , respeitando as crenças como um traço cultural deste mundo verde de belezas naturais : “ Lendas e Mistérios da Amazônia “ [ “ / Nesta avenida colorida / A Portela faz seu carnaval / Lendas e mistérios da Amazônia / Cantamos neste samba original / Dizem que os astros se amaram / E não puderam se casar / A lua apaixonada chorou tanto E do seu pranto nasceu o rio-mar / E dizem mais / Jaçanã, bela como uma flor / Certa manhã viu ser proibido o seu amor / Pois o valente guerreiro / Por ela se apaixonou / Foi sacrificada pela ira do Pajé / E na vitória-régia / Ela se transformou / Quando chegava a primavera / A estação das flores / Havia uma festa de amores / Era tradição das amazonas / Mulheres guerreiras / Aquele ambiente de alegria / Só terminava ao raiar do dia / Ô skindô lalá, / Ô skindô lelê, / Olha só quem vem lá / É o saci pererê / . “ ] .
Em 1971 , a Portela , reconhecendo o reduto dos sambistas e malandros , faz uma linda homenagem à Lapa , desfilando, garbosamente, com um belo samba-enredo composto por Ary do Cavaco e Rubens que demonstram , nas linhas de seus versos, momentos de diferentes épocas vividos naquele espaço da boemia e da música “ Lapa em Três Tempos “ . [ “ / Abre a janela formosa mulher / Cantava o poeta trovador / Abre a janela formosa mulher / Da velha Lapa que passou / Vem dos Vice-Reis / E dos tempos do Brasil Imperial / Através de tradições / Até a República atual / Os grandes mestres do passado / Dedicaram obras de grande valor / A Lapa de hoje / À Lapa de outrora (bis) / Que revivemos agora / As serestas / Quantas saudades nos traz / Os cabarés e as festas / Emolduradas pelos lampiões a gás / As sociedades e os cordões / Dos antigos carnavais / Olha a roda de malandro / Quero ver quem vai cair (bis) / Capoeira vai plantando / Pois agora vai subir / Poeira oi, poeira / O samba vai levantar poeira (bis) / Imagem do Rio Antigo / Berço de grandes vultos da história / A moderna arquitetura lhe renova a toda hora / Mas os famosos arcos / Os belos mosteiros / São relíquias deste bairro / Que foi o berço de boêmios seresteiros / . “ ] .
Neste enredo de 1996 , a Portela apresenta um justo tributo aos nossos compositores e sua belas canções . Com um samba empolgante composto por Carlinhos Careca , Jorginho Dom , Picolé da Portela e Renatinho do Sambola , observa-se, em cada verso do samba-enredo, uma homenagem em alusão respeitosa a cada compositor com citações de suas canções : “ Essa Gente Bronzeada Mostra Seu Valor “. [ “ / Chegou a hora / Portela alegremente vem cantar (lá Iaiá lá) / Com um brilho atraente de swing irreverente / Fazendo assim o mundo inteiro "delirar" (ô delirar) / Melodias que se tornaram marcantes / De artistas delirantes / Iluminados pela estrela do criar / Como "Memórias" de Paulinho da Viola / Ismael, mestre Cartola / Eu vou cantando para os males espantar / Canta Iaiá pra ioiô, canta ioiô pra Iaiá / Um samba quente, um chorinho de amor (eu vou) / Na onda do iê-iê-iê, eu sou o rei pra você / Fazendo a festa até o dia amanhecer / "Chega de saudade" / Meu peito invade, eu lembro do meu amor / Linda é a "Garota de Ipanema", seu gingado é um poema / Na "Asa Branca" sou eterno sonhador / "Pra não dizer que não falei das flores" / Vou me expressar mostrando todo o meu valor / Eu sou a arte que embala a esperança / Onde passo sou bonança / Bela "Aquarela Brasileira" decantou / A Portela demorou, mas abalou / E o povo canta novamente, já ganhou / . “ ] .
Não poderíamos encerrar esta amostra de belos sambas-enredo com seus temas empolgantes sem apresentar uma bela homenagem que a Portela faz ao Carnaval Carioca e também a epopeia de seu povo para demonstrar muita alegria no mês de fevereiro, quando curte a folia carnavalesca . Em 1970 , com um samba composto por David Correa , J. Rodrigues e Tião Nascimento , a ÁGUIA azul e branco entoou , em cada verso através de seu canto , características que identificam a folia de Momo : “ Incrível, Fantástico, Extraordinário “ . [ “ / Chegou o carnaval / Vou me abraçar com a cidade / Eu quero saber só da folia / Nesta festa que irradia / Sonhos mil, felicidades / Oh quanto esplendor ! / Há palhaços, colombinas / Arlequins e pierrôs / O povo vai viver doce ilusão / Se extasiando no jardim da sedução / Ôôôôôôôôôôô! / A alegria já contagiou / A ordem do rei é brincar / Quatro dias sem parar / Incrível! Fantástico! Extraordinário! / O talento de um povo / Que mantém acesa a chama da tradição / O carioca tem um "quê" / Sabe amar e viver / Ao dançar no salão ou no cordão / Trabalha de janeiro a janeiro / Em fevereiro cai na delícia da folia / Mestre-sala e porta-bandeira / Riscam o chão de poesia / Segura baiana / Ioiô Iaiá / Na quarta-feira / Tudo vai se acabar / (BIS) / . “ ] .
O Cantinho Musical , em um trabalho árduo para escolher alguns sambas-enredo para esta matéria , selecionou uma pequena reunião das peças musicais que mais se destacaram nos desfiles da azul e branco , escola querida do povo de Madureira . A galeria de sambas da Portela é um verdadeiro tesouro poético , razão por que a dificuldade na seleção . Espero que a amostra agrade a todos que apreciam bons sambas-enredo .
“ A ÁGUIA É O SÍMBOLO DA NOBREZA , DA MAJESTADE , DA LIBERDADE , DA AGILIDADE , ATRIBUTOS QUE SE ENCAIXAM PERFEITAMENTE NAS CARACTERÍSTICAS DE UMA ESCOLA DE SAMBA QUE SE IMPÕE PELA SUA BELEZA . ALÉM DESTES PREDICATIVOS , A PORTELA , COM SEU SÍMBOLO , ACRESCENTA SUA FORÇA POTENTE E VITORIOSA NAS APRESENTAÇÕES PARA O MUNDO DO SAMBA !