22/01/2017 às 20h12min - Atualizada em 22/01/2017 às 20h12min

Sistema Carcerário Brasileiro

Gino Ribas Meneghite
O sistema carcerário brasileiro é reflexo de uma sociedade elitista e preconceituosa que exclui, condena e segrega as pessoas segundo seu nível econômico, político e social. Se ousarmos percorrer todos os presídios brasileiros, iremos constatar, que em sua grande maioria, os mesmos são ocupados por pessoas negras e pardas de baixa renda e escolaridade.
 
Os mesmos, desde o seu nascimento, foram impossibilitados de estudarem nas melhores escolas, de frequentarem os melhores lugares e de terem em sua própria residência os melhores exemplos de conduta, hábitos e atitudes. É muito fácil, para quem teve acesso a isso desde infância, culpar e condenar as pessoas que, por um motivo ou outro, cometem atos que chocam e escandalizam a sociedade, expondo o lado mais brutal, violento e primitivo de nós mesmos.
 
Não defendo a tese de que elas são levadas a cometerem barbaridades por força das circunstâncias, como se fossem vitimas passivas de um destino cruel e implacável, destituídas de força e vontade próprias. Nada justifica o uso da violência e da maldade, porém, é necessário repensar e criar, mecanismos capazes de equilibrar e harmonizar as relações econômicas e sociais entre as classes, principalmente entre as camadas mais pobres da população brasileira.
 
O discurso socialista caiu em desuso e seu declínio, se deve em parte ao mau uso da "res publica" (coisa pública) por parte de alguns membros da esquerda que não resistiram e cederam as tentações promovidas pelo poder.  A luta pela igualdade social, que sempre foi uma das principais bandeiras defendidas e hasteadas  pela esquerda, se tornou no plano político, motivo de piada e chacota, sendo sua defesa álibi para certas pessoas se manterem no poder.
 
O que leva um indivíduo a cometer um crime ou atentado contra uma instituição ou pessoa? A resposta é complexa e envolve diversos fatores, entre eles destaco os de ordem social, psicológica, econômica e cultural. Vivemos numa sociedade individualista que nos incita, desde a infância, a sermos os primeiros e os melhores. Não nos incita a sermos melhores para superarmos as nossas falhas, deficiências e limitações mas sim para superarmos o outro.
 
Numa sociedade, extremamente competitiva, cujos valores individuais se sobrepõem ao coletivo, não é difícil imaginar o nascimento e surgimento de milhões de pessoas narcisistas e egocêntricas que se preocupam somente com seu próprio umbigo. O egoísmo é a raiz de todos os males. Enquanto não conseguimos compreender que o outro é extensão de nós mesmos, e que necessita da mesma dose de atenção e cuidados, não iremos empreender nenhuma mudança num nível mais profundo de consciência e percepção.
 
Ainda se faz presente em nossa sociedade uma mentalidade arcaica e medieval que nos diz que "bandido bom, é bandido morto" , "bandido tem que morrer", "lugar de bandido é na cadeia", enfim, uma série de afirmações que reforçam o preconceito, o ódio e a exclusão. Sou totalmente a favor do julgamento dos atos cometidos por todo e qualquer ser humano, mas radicalmente contra qualquer juízo emitido sobre a pessoa. Acredito, piamente, na recuperação do ser humano, e que toda pessoa possui o direito de se arrepender e aprender com os próprios erros.
 
Contudo, é extremamente difícil imaginar e acreditar, que uma pessoa irá se recuperar num ambiente que, além de não lhe facultar a possibilidade de se auto conhecer (trabalhando seus pensamentos, sentimentos e ações) retira sua identidade e lhe confere um tratamento desumano, indigno de qualquer animal.
 
Os presídios brasileiros precisam passar por uma reforma e seu modelo precisa ser repensado tendo em vista a real e verdadeira recuperação do ser humano. Um erro não justifica o outro. O modelo ofertado pelo sistema só serve para alimentar e aumentar o ódio e a revolta. O sentenciado errou, e precisa sim, ser mantido sob um regime de ordem, regras e disciplina, porém isto não serve como justificativa para qualquer tipo de abuso que venha a violar seus direitos resguardados em forma de lei.
 
Qual exemplo e mensagem o sentenciado irá colher se o próprio Estado é incapaz de atender e realizar as obrigações impostas por si mesmo?
 
 


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