27/10/2017 às 08h32min - Atualizada em 27/10/2017 às 08h32min

A sensação de insegurança pode estar em alta. Mas os números não mostram isso.

Dizer que Leopoldina é um paraíso seria também demais. Porém, os números não provam que a cidade está tornando-se mais violenta.

Leopoldina/MG (Foto João Gabriel B. Meneghite)
Marcelo Freitas (*)

Desde meus tempos de criança, sempre entendi que calor e frio eram medidos em graus Celsius. Frio era quando a temperatura estava abaixo de 20ºC; calor era quando estava acima de 30ºC. Entre estes dois intervalos, eu diria que a temperatura estava amena e muito agradável. Só que nos últimos anos, os meteorologistas vêm popularizando uma outra medição de temperatura: a sensação térmica. Dependendo de fatores como a umidade do ar e a velocidade do vento, a sensação térmica produzida por uma determinada temperatura pode até ser negativa, no caso do frio; ou muito superior àquilo que podemos imaginar como suportável, no caso do calor.
 
Transpondo esse raciocínio para a área de segurança e criminalidade, eu chamaria a atenção para a importância de se separar a sensação de segurança daquilo que são os indicadores reais de criminalidade. Vou exemplificar: se em uma determinada cidade ocorrem dois crimes muito violentos em um intervalo de tempo muito curto, produz-se na cidade uma sensação muito grande – legítima, diga-se de passagem, de insegurança. Porém, só quando se analisa os indicadores de criminalidade ao longo de um determinado tempo, é possível saber se a cidade está tornando-se mais violenta, ou menos violenta.
 
Os fatos citados como base para a pesquisa do “Jornal Leopoldinense” contribuíram para o aumento da sensação de insegurança, que, é bom que se deixe claro, é um sentimento legítimo que sempre costuma aflorar em ocasiões traumáticas para a vida de uma cidade, como quando ocorre uma sequência de crimes violentos.

Infográfico com o resultado da enquete sobre violência
 
Porém, os indicadores de segurança para Leopoldina não sofreram alteração significativa ao ponto de se poder afirmar que a cidade está tornando-se mais violenta, como apontou a enquete. Em relação aos homicídios, houve até uma redução, de 8 em 2012, para 5 entre janeiro e julho deste ano, conforme os últimos números disponíveis para consulta. Em Leopoldina, houve também uma redução do número de roubos (49 para 14, entre 2012 e 2017 – janeiro a julho). Também não ocorreu aumento do número de tentativas de homicídio comparando-se os dois períodos (foram 3 em 2012 e 2 este ano). Como as duas deste ano referem-se a um intervalo de tempo menor, de janeiro a julho, pode-se afirmar que os números de um ano e de outro se equivalem.
 
Para aqueles que, ainda assim, consideram Leopoldina uma cidade violenta, recorro aos números de cidades vizinhas para argumentar em sentido contrário. Este ano, foram registrados em Leopoldina menos roubos e tentativas de homicídio do que em Cataguases. Em número de homicídios, houve empate. Se a comparação for com Muriaé, fica a sensação (olha a palavrinha aí, de novo) de que Leopoldina é um paraíso. Nos sete primeiros meses desse ano, foram registradas 23 tentativas de assassinato em Muriaé, contra apenas 2 em Leopoldina. Também perdemos (felizmente!!) para Muriaé, em número de roubos (14 contra 149) e homicídios (5 contra 13).
 
Dizer que Leopoldina é um paraíso seria também demais. Porém, os números não provam que a cidade está tornando-se mais violenta. Quem desejar conferir os indicadores de outras cidades da região, clique em: http://www.seds.mg.gov.br/integracao/estatisticas/estatisticas-criminais. Faça isso. Talvez sua sensação de insegurança diminua.
 
(*) Marcelo Freitas é jornalista e editor-chefe do portal de notícias Bhaz (www.bhaz.com.br), de Belo Horizonte. Foi morador de Leopoldina nos anos de 1970 e 1980.
 
Tentativas de homicídio
  2012 2017
Leopoldina 3 2
Cataguases 6 4
Muriaé 23 23
 
Homicídios
  2012 2017
Leopoldina 8 5
Cataguases 3 5
Muriaé 17 13
 
Roubo
  2012 2017
Leopoldina 49 14
Cataguases 30 39
Muriaé 186 149
Fonte: Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais.
Obs: números de 2017 referem-se ao período entre janeiro e julho


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