Réquiem para Jovelino
Por Glória Barroso
Nos degraus da Capelinha de São Pedro
De olhos nos astros,
Velando seu corpo
Me lembro de Irene, a do Manoel,
Chegando ao céu
Não precisou pedir licença.
- Vai entrando de manso,
Cumprimentando os santos de chapéu na mão.
São Pedro aguarda de porta aberta,
tomar seu lugar na festa do céu
De machado e violão
Com o rádio vermelho de pilha
na sacola de plástico
“Vais cantar tuas modas
Recitar tuas trovas
Dançar o fungangá?
Sacar teus ditados embolados,
mas justos na situação?
A moça encontrada
Tão desejada
Te dará sua mão?
Oh Jovelino, ficou o violão
O rádio de pilha
O guarda-chuva
e também a lembrança
bem fundo
suave
no meu coração.
Deixou aqui o Dorigo Pecado
(nome mal encontrado pra quem não tinha nenhum)
Como traste velho
Roupa rasgada
Encostada
Sem uso
Jogada no chão
Encontrarás teu lugar
Na intimidade dos astros
Te lavarás nas águas das chuvas
Deitarás sobre nuvens
Azuis ou rosadas
Sentado nas raízes de uma velha jaqueira
No espaço sideral
Fumarás teu cigarro
Com olhos brilhantes
Vendo os anjos brincarem
E entrarás nessa roda
Sem perceber
Sem espanto
Que a roda girou
Às vezes mai-humorado
Se queixando aos santos
A Pedro, Antônio, ou João
Alguma coisa não está a contento
Algum anjo aprontou
O sol não brilhou
Como era devido
A lua está mais devagar
e os santos, cúmplices
se aprestam solícitos:
Põem o arteiro no seu lugar
Esfregam o sol pra amarelar
Aceleram a lua pra te contentar
Encontraste tua morada
Os iguais na mansidão
Os simples de coração
Publicado no jornal Leopoldinense em 31 de janeiro de 2007