O Cantinho Musical oferece esta homenagem fraternal às simpáticas colônias lusitanas radicadas no Brasil para que curtam , saudosamente , os cantos da terrinha através das belas interpretações deste ícone da música popular portuguesa : “ AMÁLIA RODRIGUES . “ Este artigo homenageará uma cantora que se destacou em um gênero de música identificado com os sentimentos do povo português , interpretando os FADOS com uma enorme carga emocional nos estilos próprios dessas belas canções : “ AMÁLIA RODRIGUES “ .
O fado é um estilo musical português geralmente cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por uma guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e uma guitarra portuguesa. Uma explicação popular para a origem do fado de Lisboa remete para os cânticos dos mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria , na cidade de Lisboa após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia, tão comuns no Fado, teriam sido herdadas daqueles cantos.
"É UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA , É COM CERTEZA UMA CASA PORTUGUESA !"
Amália da Piedade Rodrigues Lisboa, nasceu em 23 de Julho de 1920 , em Lisboa, vindo falecer em 6 de Outubro de 1999. Foi uma fadista, cantora e atriz portuguesa, considerada o exemplo máximo do fado, comumente aclamada como a voz de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX. Tornou-se conhecida mundialmente como a Rainha do Fado e, por consequência, devido ao simbolismo que este gênero musical tem na cultura portuguesa, foi considerada por muitos como uma das suas melhores embaixadoras no mundo .
Passaremos agora apresentar uma sequência de canções que foram consagradas na maravilhosa voz de AMÁLIA RODRIGUES e que encontram-se perpetuadas na galeria dos grande fados portugueses . Iniciaremos com um belo fado composto por Artur Ribeiro e Ferrer Trindade e interpretado com muita emoção por Amália Rodrigues cujo tema é uma verdadeira ocultação dos sentimentos amorosos , tornando-se , durante o desenvolver da canção, um imenso enigma sobre a pessoa a quem ela dedica seu grande amor , e com afirmação do esclarecimento temático : “ NEM ÀS PAREDES CONFESSO “ . [ “ / Não queiras gostar de mim, sem que eu te peça / Nem me dês nada que ao fim, eu não mereça / Vê se me deitas depois culpas no rosto / Isto é sincero porque não quero dar-te um desgosto / De quem eu gosto nem às paredes confesso / E até aposto que não gosto de ninguém / Podes sorrir, Podes mentir, podes chorar também / De quem eu gosto, nem às paredes confesso / Quem sabe se te esqueci ou se te quero / Quem sabe até se é por ti por quem eu espero / Se eu gosto ou não afinal, isso é comigo / Mesmo que penses que me convences nada te digo / De quem eu gosto nem às paredes confesso / E até aposto que não gosto de ninguém / Podes sorrir, podes mentir, podes chorar também / De quem eu gosto, nem às paredes confesso / (BIS) / . “ ] .
Neste belo fado , composto por Alberto Janes , Amália Rodrigues acrescenta um lindo toque sentimental com sua bela voz em um tema que descreve toda criação de Deus e o milagre dado a ela como acalanto diante da dor e do pranto quando seu canto expressa muita fé na melodia de um fado , o que justifica tal fenômeno e a certeza de que : “ FOI DEUS “ . [ “ / Não sei, não sabe ninguém / Por que canto o fado / Neste tom magoado / De dor e de pranto / E neste tormento / Todo o sofrimento / Eu sinto que a alma / Cá dentro se acalma / Nos versos que canto / Foi deus / Que deu luz aos olhos / Perfumou as rosas / Deu ouro ao sol / E prata ao luar / Foi deus / Que me pôs no peito / Um rosário de penas / Que vou desfiando / E choro a cantar / E pôs as estrelas no céu / E fez o espaço sem fim / Deu o luto as andorinhas / Ai, e deu-me esta voz a mim / Se canto / Não sei o que canto / Misto de ventura / Saudade, ternura / E talvez amor / Mas sei que cantando / Sinto o mesmo quando / Se tem um desgosto / E o pranto no rosto / Nos deixa melhor / Foi deus / Que deu voz ao vento / Luz ao firmamento / E deu o azul às ondas do mar foi deus / Que me pôs no peito / Um rosário de penas / Que vou desfiando / E choro a cantar / Fez poeta o rouxinol / Pôs no campo o alecrim / Deu as flores à primavera / Ai!, e deu-me esta voz a mim. / . “ ] .
Aníbal Nazaré e Frederico Carvalho compuseram uma peça musical conceituando o que é um fado e , no decorrer da canção, descrevem os ingredientes na construção emocional da música , associando , em cada verso , todas suas características com os sentimentos da paixão , descartando , através da bela voz de Amália Rodrigues , qualquer possibilidade de separação entre o puro amor e o fado , porque “ TUDO ISTO É FADO “ . [ “ / Perguntaste-me outro dia / Se eu sabia o que era o fado / Disse-te que não sabia / Tu ficaste admirado / Sem saber o que dizia / Eu menti naquela hora / Disse-te que não sabia / Mas vou-te dizer agora / Almas vencidas / Noites perdidas / Sombras bizarras / Na Mouraria / Canta um rufia / Choram guitarras / Amor ciúme / Cinzas e lume / Dor e pecado / Tudo isto existe / Tudo isto é triste / Tudo isto é fado / Se queres ser o meu senhor / E teres-me sempre a teu lado / Não me fales só de amor / Fala-me também do fado / E o fado é o meu castigo / Só nasceu pra me perder / O fado é tudo o que digo / Mais o que eu não sei dizer / . “ ] .
Em uma pequena manifestação musical , José Galhardo e José dos Santos compuseram um fado , interpretado emocionalmente pela bela voz de Amália Rodrigues , manifestando um saudosismo retratado na bela cidade em momentos de belas lembranças presentes na “ LISBOA ANTIGA “ . [ “ / Lisboa, velha cidade, / Cheia de encanto e beleza! / Sempre a sorrir tão formosa, / E no vestir sempre airosa. / O branco véu da saudade / Cobre o teu rosto linda princesa! / Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras, / Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais! / Das festas, das seculares procissões, / Dos populares pregões matinais que já não voltam mais! / ( BIS ) / . “ ] .
Ainda homenageando um famoso espaço de Portugal onde se curtiam grandes amores , José Galhardo / Raul Ferrão / José Dos Santos criaram uma bela canção , destacando durante a cadência musical características sentimentais presentes na alma do povo português , representado no reduto dos amores “ COIMBRA “ . [ “ / Coimbra é uma lição / De sonho e tradição / O lente é uma canção / E a lua a faculdade / O livro é uma mulher / Só passa quem souber / E aprende-se a dizer saudade / Coimbra do choupal / Ainda és capital / Do amor em Portugal, ainda / Coimbra onde uma vez / Com lágrimas se fez / A história dessa Inês tão linda / Coimbra das canções / Tão meiga que nos pões / Os nossos corações, à luz / Coimbra dos doutores / Pra nós os teus cantores / A fonte dos amores és tu / . “ ] .
Este fado fala de um dos mais tradicionais bairros da cidade de Lisboa . Foi nesse tradicional bairro que permaneceram os mouros após a Reconquista Cristã . E foi motivado nesse recanto que Amadeu do Vale referiu-se , em sua composição , a todo amor e paixão expressos nesta canção tão bem interpretada por Amália Rodrigues , descritos com todos os detalhes fixados na memória em uma precisão saudosista manifestada em “ AI MOURARIA “ . [ “ / Ai mouraria / Da velha rua da palma / Onde eu um dia / Deixei presa a minha alma / Por ter passado / Mesmo a meu lado / Certo fadista / De cor morena / Boca pequena / E olhar trocista / Ai mouraria / Do homem do meu encanto / Que me mentia / Mas que eu adorava tanto / Amor que o vento / Como um lamento / Levou consigo / Mais que inda agora / A toda a hora / Trago comigo / Ai mouraria / Dos rouxinóis nos beirais / Dos vestidos cor-de-rosa / Dos pregões tradicionais / Ai mouraria / Das procissões a passar / Da severa em voz saudosa / Na guitarra a soluçar / . “ ] .
Nós não poderíamos deixar de mostrar nesta homenagem o cenário de um simples lar português . Artur Vaz Da Fonseca , Reinaldo Ferreira e Vasco Sequeira nesta composição descrevem , com muita precisão , como o povo lusitano recebe convidados em sua residência , detalhando ,minuciosamente , em cada verso da bela canção interpretada por Amália Rodrigues , como é “ UMA CASA PORTUGUESA “ . [ “ / Numa casa portuguesa fica bem / Pão e vinho sobre a mesa / E se à porta humildemente bate alguém / Senta-se à mesa co'a gente / Fica bem esta franqueza, fica bem / Que o povo nunca desmente / A alegria da pobreza / Está nesta grande riqueza / De dar, e ficar contente / Quatro paredes caiadas / Um cheirinho à alecrim / Um cacho de uvas doiradas / Duas rosas num jardim Um São José de azulejo / Mais o sol da primavera / Uma promessa de beijos / Dois braços à minha espera / É uma casa portuguesa, com certeza! / É, com certeza, uma casa portuguesa! / No conforto pobrezinho do meu lar / Há fartura de carinho / E a cortina da janela é o luar / Mais o sol que bate nela... / Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar / Uma existência singela... / É só amor, pão e vinho / E um caldo verde, verdinho / /A fumegar na tigela / Quatro paredes caiadas / Um cheirinho á alecrim / Um cacho de uvas doiradas / Duas rosas num jardim / Um São José de azulejo / Mais um sol da primavera... / Uma promessa de beijos... / Dois braços à minha espera... / É uma casa portuguesa, com certeza! / É, com certeza, uma casa portuguesa! / .” ] .
Amadeu do Vale / Frederico Val compuseram esta maravilha de fado e Amália Rodrigues interpreta com grande emoção os lamentos de uma mulher que fora abandonada e que aceita uma reconciliação com o amante , se, de fato , houver arrependimento por ter estado com outra , caso contrário, que permaneça a separação , tudo manifestado na canção : “ FADO COM CIÚME “ . [ “ / Se não esqueceste / O amor que me dedicaste, / E o que escreveste / Nas cartas que me mandaste, / Esquece o passado / E volta para meu lado, / Porque já estás perdoado / De tudo o que me chamaste. / Volta meu querido, / Mas volta como disseste, / Arrependido / De tudo o que me fizeste, / Haja o que houver / Já basta p'ra teu castigo / Essa mulher / Que andava agora contigo. / Se é contrafeito / Não voltes, toma cautela / Porque eu aceito / Que vivas antes com ela / Pois podes crer / Que antes prefiro morrer / Do que contigo viver / Sabendo que gostas dela. / Só o que eu te peço / É uma recordação, / Se é que mereço / Um pouco de compaixão, / Deixa ficar / O teu retrato comigo, / P'ra eu julgar / Que ainda vivo contigo./ . “ ] .
Neste lindo fado composto por Silva Tavares e Frederico Valério , Amália Rodrigues faz uma bela representação musical , demonstrando uma enorme nostalgia , resultante de guardar dentro de si todo um sofrimento e a importância de seu canto para encobrir toda tristeza na execução de seus fados fingindo alegria e felicidade : “ QUE DEUS ME PERDOE “ . [ “ / Se a minha alma fechada / Se pudesse mostrar, / E o que eu sofro calada / Se pudesse contar, / Toda a gente veria / Quanto sou desgraçada / Quanto finjo alegria / Quanto choro a cantar... / Que Deus me perdoe / Se é crime ou pecado / Mas eu sou assim / E fugindo ao fado / Fugia de mim. / Cantando dou brado / E nada me dói / Se é pois um pecado / Ter amor ao fado / Que Deus me perdoe. / Quanto canto não penso / No que a vida é de má, / Nem sequer me pertenço, / Nem o mal se me dá. / Chego a querer a verdade / E a sonhar - sonho imenso - / Que tudo é felicidade / E tristeza não há. / . “ ] .
Para quebrar a nostalgia do fado , encerraremos a homenagem a esta intérprete das canções portuguesas , convidando a dançar um VIRA . Chama-se Vira, porque há uma viragem de corpos que lhe é característica, fazendo com que a saia da mulher que dança comece a formar uma espécie de sino distorcido – “ó rosa arredonda a saia”, como se costuma cantar. Para dar ritmo a essa dança da região de Moinho , Amália Rodrigues interpretará a canção que é reconhecidamente o rótulo do povo lusitano : “ TIRO LIRO LIRO “ . [ “ / Lá em cima está o tiro-liro-liro / Cá embaixo está o tiro-liro-ló / (Lá em cima está o tiro-liro-liro / Cá embaixo está o tiro-liro-ló) / Juntaram-se os dois na esquina / A tocar a concertina, a dançar o solidó / (Juntaram-se os dois na esquina / A tocar a concertina, a dançar o solidó) / Comadre, minha comadre / Eu gosto da sua pequena! / (Comadre, ó minha comadre / Ah, eu gosto da sua pequena!) / É bonita, apresenta-se bem / Parece que tem a face morena! / (É bonita, apresenta-se bem / Parece que tem a face morena!) / REFRÃO : Lá em cima está o tiro-liro-liro /.../ Comadre, minha comadre / Eu gosto da sua afilhada! / (Comadre, ó minha comadre / Ah, eu gosto da sua afilhada!) / É bonita, apresenta-se bem / Parece que tem a face rosada! (BIS) / REFRÃO : / Lá em cima está o tiro-liro-liro / ... / . “ ] .
“ QUANDO UM CANTO DORIDO ALCANÇA A ALMA DE ALGUÉM , CERTAMENTE OS SENTIMENTOS NOSTÁLGICOS SE ELEVAM NOS CORAÇÕES DOS APAIXONADOS . O FADO , COM SUAS MELODIAS SOFRIDAS , É O AGENTE MUSICAL DESSA REALIZAÇÃO QUE , APOIADO NA MARAVILHOSA VOZ DE AMÁLIA RODRIGUES , CANALIZA PARA OS AMANTES DA CANÇÃO UMA IMENSA MELANCOLIA RELACIONADA AO AMOR NÃO CORRESPONDIDO ! “