O Cantinho Musical homenageia hoje uma das mais lindas vozes de nosso cancioneiro , respeitada pelas classes dos artistas que rotularam como “ REI DA VOZ “, o condutor das belas melodias e o ícone da seresta brasileira: “ FRANCISCO ALVES “ , mais conhecido pelos fãs como “ CHICO VIOLA “ .
“ Tu, só tu, madeira fria, sentirás toda agonia do silencio do cantor " ( epitáfio escrito por seu amigo e jornalista David Nasser )
Francisco de Morais Alves nasceu no Rio de Janeiro RJ em 19 de Agosto de 1898. Ganhava a vida como motorista de praça, apresentando-se como cantor-ator secundário de revistas musicais. Em 1919, para o Carnaval de 1920, levado por Sinhô, gravou na etiqueta Popular dois discos com a marcha O pé de anjo e os sambas "Fala meu louro" e "Alivia estes olhos", todas de Sinhô. A partir de 1924, começou a gravar outros discos e aos poucos começou a se destacar com um artista promissor e , por volta de 1928, passou a utilizar o apelido de Chico Viola e , pouco tempo depois, em fevereiro de 1929 fez sua estréia no rádio . Não demorou muito para que quase todos os seus discos começassem a fazer sucesso. Morreu no auge de sua carreira, aos 54 anos de idade, quando o seu carro se chocou com um caminhão, que vinha na contramão, na Via Dutra . Até os dias atuais muitas visitas e homenagens são prestadas a ele no cemitério em que repousa.
Passaremos agora a desfilar alguns sucessos consagrados na voz de Chico Viola . Inicialmente uma canção que é o verdadeiro retrato melódico do cantor , preferência nas paradas musicais da época . Silvino Neto compôs esta bela obra que versa sobre um termo composto por cinco letras que representa a verdadeira separação de um grande romance : “ Adeus, Cinco Letras Que Choram “ . [ “ / Adeus, adeus, adeus / Cinco letras que choram / Num soluço de dor / Adeus, adeus, adeus / É como o fim de uma estrada / Cortando a encruzilhada / Ponto final de um romance de amor / Quem parte tem os olhos rasos d'água / Sentindo a grande mágoa / Por se despedir de alguém / Quem fica, também fica chorando / Com um lenço acenando / Querendo partir também / Adeus, adeus, adeus / (BIS ) / . “ ] .
Francisco Alves e Horácio Campos compuseram esta canção que expressa todo um sentimento de separação amorosa , justificando sua dor amenizada pelo seu companheiro : “ A Voz do Violão “ [ “ / Não queiras, meu amor, saber da mágoa / Que sinto quando a relembrar-te estou / Atestam-te os meus olhos rasos d'água / A dor que a tua ausência me causou. / Saudades infinitas me devoram, / Lembranças do teu vulto que nem sei / Meus olhos incessantemente choram / As horas de prazer que já gozei / Porém neste abandono interminável / No espinho de tão negra solidão / Eu tenho um companheiro inseparável / Na voz do meu plangente violão / Deixaste-me sozinho e lá distante, / Alheio à imensidão de minha dor, / Esqueces que ainda existe um peito amante / Que chora o teu carinho sedutor / No azul sem fim do espaço iluminado / Ao léu do vento se desfaz / A queixa deste amor desesperado / Que o peito em mil pedaços me desfaz / . “ ] .
Esta maravilhosa canção , composta por Freire Júnior e interpretada por vários cantores mas se consagrando na voz de Francisco Alves , expressa poeticamente um convite à sua amada a participar de um momento musical em que manifesta uma declaração amoroso : “ MALANDRINHA “ . [ “ / A lua vem surgindo cor de prata / No alto da montanha verdejante / A lira do cantor em serenata / Reclama na janela a sua amante / Ao som da melodia apaixonada / Das cordas do sonoro violão / Confessa o seresteiro à sua amada / O que dentro lhe dita o coração / Ò linda imagem de mulher que me seduz / Ah se eu pudesse tu estarias num altar / És a rainha dos meus sonhos, és a luz / És malandrinha não precisas trabalhar / Acorda minha bela namorada / A lua nos convida a passear / Seus raios iluminam toda a estrada / Por onde nós havemos de passar / A rua está deserta, oh vem querida / Ouvir bem junto a mim, o som do pinho / E quando a madrugada, é já surgida / Os pombos voltarão para seus ninhos / Ò linda imagem de mulher que me seduz / Ah se eu pudesse tu estarias num altar / És a rainha dos meus sonhos, és a luz / És malandrinha não precisas trabalhar. / . “ ] .
Há nesta canção de Lamartine Babo , interpretada por Francisco Alves , uma fascinante história . Conta-se que um dentista ( há uma versão de que fora um barbeiro ) , morador em Dores da Boa Esperança , um município no interior Minas Gerais , colecionador fanático de retrato de artistas famosos , escrevera uma carta a Lamartine como se fora uma mulher . Corresponderam-se , durante muito tempo , com palavras amorosas , até que Lamartine resolve conhecê-la, indo à cidade. Procurando por Nair , pseudônimo que o dentista dava à mulher fictícia , apresentaram-na a Lalá uma menina de 6 anos , a única Nair da cidade . Decepcionado com o fato , conhece Carlos Netto, o dentista , tornarando-se grandes amigos , e , no momento da despedida , brota na mente e no coração de Lamartine o samba-canção “ SERRA DA BOA ESPERANÇA “ . [ “ / Serra da Boa Esperança / Esperança que encerra / No coração do Brasil um punhado de terra / No coração de quem vai / No coração de quem vem / Serra da Boa Esperança meu último bem / Parto levando saudades, saudades deixando / Murchas caídas na serra / Lá perto de Deus / Oh minha serra / Eis a hora do adeus vou me embora / Deixo a luz olhar no teu luar / Adeus / Levo na minha cantiga a imagem da serra / Sei que Jesus não castiga um poeta que erra / Nós os poetas erramos / Porque rimamos também / Os nossos olhos nos olhos de alguém / que não vem / Serra da Boa Esperança não tenha receio / Hei de guardar tua imagem com a graça de Deus / Oh minha serra / Eis a hora do adeus vou me embora / Deixo a luz do olhar no teu luar / Adeus / . “ ] .
Mário Lago compôs esta bela canção onde expressa toda atitude amorosa fracassada diante da sua amada , manifestando de uma forma lírica em demonstrar todos os bens por relacionados a seu amor : “ FRACASSO “. [ “ / Relembro sem saudade o nosso amor / O nosso último beijo e último abraço / Porque só me ficou / Da história triste deste amor / A história dolorosa de um fracasso. / Fracasso / Por te querer assim como eu quis / Fracasso / Por não poder fazer-te feliz / Fracasso por te amar / Como a nenhuma outra eu amei / Chorar o que já chorei / Fracasso eu sei. / Fracasso / Por compreender que devo esquecer / Fracasso / Por que já sei que não esquecerei / Fracasso, fracasso, fracasso / Fracasso afinal / Por te querer tanto bem / E me fazer tanto mal./ . “ ] .
Uma das mais belas canções de Orestes Barbosa em parceria com Francisco Alves é um verdadeiro poema onde expressa uma enorme angústia com a visão imagística da mulher amada , refletida e resultante da bebida , para esquecimento de sua paixão : “ A Mulher Que Ficou Na Taça “ . [ “ / Fugindo da nostalgia / Vou procurar alegria / Na ilusão dos cabarés / Sinto beijos no meu rosto / E bebo por meu desgosto / Relembrando o que tu és / E quando bebendo espio / Uma taça que esvazio / Vejo uma visão qualquer / Não distingo bem o vulto / Mas deve ser do meu culto / O vulto dessa mulher... / Quanto mais ponho bebida / Mais a sombra colorida / Aparece ao meu olhar / Aumentando o sofrimento / No cristal em que, sedento / Quero a paixão sufocar / E no anseio da desgraça / Encho mais a minha taça / Para afogar a visão / Quanto mais bebida eu ponho / Mais cresce a mulher no sonho / Na taça, e no coração./ . “ ] .
José Maria de Abreu e Francisco Matoso construíram uma bela canção que expressa uma despedida que se concretizará através de um sonho : “ BOA NOITE “ . [ “ / Quando a noite descer, / Insinuando um triste adeus, / Olhando nos olhos teus, / Hei de beijando, / teus dedos dizer: / Boa noite amor, / Meu grande amor, / Contigo eu sonharei, / E a minha dor esquecerei, / Se eu souber que o sonho teu, / Foi o mesmo sonho meu. / Boa noite amor, / E sonha enfim, / Pensando sempre em mim, / Na carícia de um beijo, / Que ficou, no desejo, / Boa noite meu grande amor. / Na carícia de um beijo, / Que ficou no desejo, / Boa noite meu grande amor / Boa noite meu grande amor./ . “ ] .
Os compositores Roberto Martins e waldemar Silva fizeram um samba em homenagem às favelas , expondo suas belas recordações em tempos de muitas felicidades quando faziam parte daquela comunidade “ FAVELA “ . [ “ / Favela oi,favela, / Favela que guardo no meu coração / Ao recordar com saudade / A minha felicidade / Favela dos sonhos de amor / E do samba-canção. / / Hoje tão longe de ti / Se vejo a lua surgir / Eu relembro a batucada / E começo a chorar / Favela das noites de samba / Berço dourado dos bambas / Favela é tudo que eu posso falar. / Favela oi... / Minha favela querida / Onde eu senti minha vida / Presa a um romance de amor / Numa doce ilusão / E uma saudade bem rara / Na distância que nos separa / Eu guardo de ti esta recordação. / Favela oi,... / . “ ]
Benedito Lacerda e Herivelto Martins , reconhecendo o verdadeiro reduto dos boêmios do Rio de Janeiro , compuseram um samba em que demonstra todas as caracterizações do lugar , confirmando uma tradição da boemia : “ A LAPA “ . [ “ / A Lapa / Está voltando a ser / A Lapa / A Lapa / Confirmando a tradição / A Lapa / É o ponto maior do mapa / Do Distrito Federal / Salve a Lapa! / O bairro das quatro letras / Até um rei conheceu / Onde tanto malandro viveu / Onde tanto valente morreu / Enquanto a cidade dorme / A Lapa fica acordada / Acalentando quem vive / De madrugada / . “ ] .
Encerrando esta amostra musical interpretada pelo “ Rei da Voz “ , selecionamos um grande sucesso de Noel Rosa que versa sobre um pedido aos amigos que não entristeçam no momento da passagem do autor , pedindo que o ambiente não demonstre tristeza nem muito choro e que a lembrança da pessoa amada esteja estampada na “ FITA AMARELA “ . [ “ / Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) /Não quero flores / Nem coroa com espinho / Só quero choro de flauta / Com violão e cavaquinho / Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) / Se existe alma / Se há outra encarnação / Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão / Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) /Os inimigos / Que hoje falam mal de mim / Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim / Quando eu morrer / Não quero choro, nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela / ( BIS ) / . “ ] .
O Cantinho Musical espera que esta pequena apresentação de alguns sucessos interpretados por um cantor que recebeu a alcunha de “ REI DA VOZ “ tenha agradado a todos os que trazem na lembrança musical as canções que impulsionavam as grandes serestas em uma época especial de boas composições !
“ SER CONSIDERADO COMO “ REI DA VOZ “ EM UM CENÁRIO DE GRANDES INTÉRPRETES , É ALGO QUE NÃO DEIXA QUALQUER DÚVIDA QUANTO À LEGITIMIDADE DA CLASSIFICAÇÃO RECEBIDA . FRANCISCO ALVES , ALÉM DE UM CANTOR COM GRANDE ACEITABILIDADE NO MUNDO DA MÚSICA , TAMBÉM , COM MUITA MAESTRIA , ESTRUTURAVA ALGUMAS COMPOSIÇÕES QUE ESTÃO CONTIDAS NO CANCIONEIRO DA MPB COMO GRANDES SUCESSOS ! “