Era véspera da decisão da Copa do Mundo de 1970. Ambas as equipes eram bicampeãs (a Itália havia conquistado os títulos de 1934 e 1938; e o Brasil, os de 1958 e 1962). Então, quem ganhasse seria tri campeão e dono definitivo da Taça Jules Rimet. Tudo corria bem em Leopoldina/MG.Os bares estavam com reservas lotadas para o grande jogo. Os torcedores misturavam o verde-amarelo da seleção com o rubro-negro do Esporte Clube Ribeiro Junqueira, o Dragão da Zona da Mata.
Mas eis que um italiano, dono de um bar, decidiu enfeitar o estabelecimento com as cores da “squadra azurra”. Ele era uma pessoa querida por todos, mas aquela decoração parecia uma afronta.
Uma equipe policial compareceu ao bar para tomar conhecimento da “ofensa à Nação Brasileira”. A guarnição era comandada por um cabo. E uma coisa é certa, caro leitor: não crie caso com um cabo!
Bem... o comandante da guarnição ordenou a apreensão dos enfeites que faziam referência à Itália. O comerciante decidiu protestar. Afinal, o cabo queria apreender até a imagem de Nossa Senhora Aparecida, só porque usava um manto azul.
A essa altura uma multidão já estava em volta do bar. Roberto Yung Chamego, da Rádio Leopoldina, transmitia ao vivo os detalhes da ocorrência. E veio a decisão do “comandante em chefe” da guarnição, de sabedoria quase salomônica:
– A bandeira italiana eu vou liberar porque é um símbolo cívico, mas mediante a condição de ser dobrada e guardada até o final da partida.
– E o dono do bar? - perguntou Roberto Chamego ao cabo. Ele vai ser preso?
– Vou liberá-lo, com a condição de retirar os enfeites azuis e não torcer em público pela Itália. E, na hora do jogo, se eu tiver que voltar aqui, ele será preso em flagrante de efeitos retroativos. Caro leitor, não me pergunte o que é “flagrante de efeitos retroativos”. Em duas décadas de magistério jurídico, nunca li nada sobre esse termo. Mas eu entendi o que Sua Excelência, o Cabo, quis dizer. Ainda bem que ganhamos por 4x1. E que venha o hexa na Copa da Rússia.
