06/04/2019 às 14h28min - Atualizada em 06/04/2019 às 14h28min

120 – Outros olhares sobre Manoel Funchal Garcia

Personagens Leopoldinenses

luja machado e nilza cantoni
Hoje o Trem de História encerra a série sobre o leopoldinense Funchal Garcia. Propositadamente em fevereiro de 2019 para marcar os 130 anos de nascimento desse conterrâneo. Personagem que soube, como poucos, escrever e pintar sobre o que viu, como atestam os artigos anteriores e as várias notas dos jornais a seguir selecionados.

Correio Paulistano[1]:
“O pintor leopoldinense Manuel Funchal Garcia inaugurou no saguão do Theatro Alencar uma exposição dos seus quadros. A exposição consta de 26 quadros, inclusive dois de Raul Pederneiras e dois de Paulo James, inteligente caricaturista, também nosso conterrâneo, que muito se tem distinguido no Rio, como collaborador de diversas revistas. Dos 26 quadros de Manoel Funchal, mais de 10 já foram adquiridos”.

O Paiz[2]:
“Exposição de quadros – Foi encerrada a exposição de quadros, do intelligente pintor Manoel Funchal Garcia, nosso estimado conterrâneo. Foi um verdadeiro sucesso”.

A Época[3]:
“Funchal Garcia – O talentoso e inspirado artista, que é o jovem pintor Funchal Garcia, acha-se nesta cidade, em excursão artística. Funchal, que ainda há pouco, realizou aqui uma bela exposição dos seus quadros, reveladores de um espirito superiormente educado, está organizando uma nova collecção de suas obras, com as quaes pretende conquistar o premio de viagem de estudos ao Velho Continuente, por conta do Estado”.

O Globo [4] destacou a Menção Honrosa recebida por Manoel Funchal Garcia no XXXVII Exposição Geral de Belas Artes, em 1930. 
O Radical [5]:
“Funchal Garcia contou-me, há tempos, o seguinte caso. - Muitos quadros, poucos compradores. Eu preciso offerecel-os para vencer a situação financeira difícil de atravessar. Fui procurar o sr. Ribeiro Junqueira que prometeu adquirir um deles. Sorte! Tudo combinado, excepto o preço. O pintor sabia a tradição de parcimônia do titular da Republica. Pedir o valor real do quadro seria fazer fracassar a transacção.

- Quanto é?
- Oitocentos mil réis, senador!
- Você enlouqueceu, menino. Com este dinheiro eu compro uma vacca.
O artista concordou irônico: - Faz muito bem. Compre o animal e dependure na parede!”

A Noite [6]:
“Notícia de exposição organizada por Thomaz J. Wasson, de 30 de maio a 21 de julho no Rio, depois em São Paulo e Buenos Aires, composta por “93 quadros dos mais famosos pintores de  todas as partes do mundo, e de 150 gravuras”.  Funchal Garcia é um dos artistas brasileiros incluídos na exposição”.

Diário da Noite[7]:
“Homenagem ao Professor Funchal Garcia, o professor Luiz A. P. Victoria faz grandes elogios a Funchal. Chama-o de “poeta do pincel. Sente com a alma o que o pincel espalha na tela. [...] Nascido no velho e aristocrático município de Leopoldina, não teve a fortuna a bafejar-lhe o berço. Todavia, a sorte não lhe foi de todo madrasta. Dotou-o de uma sensibilidade fina e de um gosto requintado. [...] Funchal é um produto da força de vontade. Ainda criança, quase entregue a sua sorte, oferecia-se para trabalhar em circos. Conseguindo vir para a capital, cursou a Escola de Belas Artes. Granjeou logo amigos entre os mestres que viam nele um espirito de eleição. Voltando para o interior fez-se professor. Seu entusiasmo pelo belo não encontrava todavia correspondência. Insulava-se, então, na sua arte. [...] Funchal Garcia é um pintor emotivo. Seus quadros teem alma e colorido.”

O Jornal[8]:
“Como já noticiamos, no Museu Nacional de Belas Artes, tem se realizado reuniões dos componentes dos diversos juris do “Salão” de 1944. Hoje, no entanto, podemos informar que da Divisão Geral, dos 411 trabalhos apresentados 69 foram aceitos e 342 recusados. Entre os trabalhos aceitos encontram-se nomes de [...] Funchal Garcia – Na saída do capoeirão”.

O Dia, jornal paranaense[9]:
“Funchal Garcia é um pintor que merece palmas. Ninguém ama mais, sente mais encanto pela terra mater que esse paisagista de recursos amplos, de inspiração sadia e superior. Professor de dezenho de um estabelecimento de ensino, Funchal, que é tambem novelista de mérito, sempre que dispe de tempo toma o caminho das florestas, dos morros, das montanhas, a fim de colher com seu pincel tudo quanto de impressionante oferece a nossa exuberante e portentosa natureza.
Segundo Paulo Mercadante[10], Funchal Garcia

“pincelava a exuberância da natureza, a graça dos "flamboyants". […] O brado tropical, irrompendo nas margens dos riachos, crescia com força não sufocada. Um modo de ser bandeirante, que de pincel e tela, procurava o trecho de beleza escondida. Alcançando as colinas, com os barrancos já feridos pela erosão, a perspectiva era ampla e iluminada".
Muito mais se teria para falar sobre Funchal Garcia. A limitação de espaço, porém, indica o fim do trajeto. Na próxima edição, novo assunto será abordado.  Até lá!
 
Fontes consultadas;
1 - Correio Paulistano (São Paulo, SP) 07.11.1913, ed. 18068 p. 3 coluna 2, Notícia do Correio de Minas sob o título ‘Leopoldina Arte’
2 - O Paiz (Rio de Janeiro, RJ) 11.11.1913, ed 10627, p. 8 coluna 5, Notícia de Leopoldina
3 - A Época (Rio de Janeiro, RJ) 06.05.1914, ed 620, p. 4 coluna 5. Notícia de Cataguazes
4 - O Globo (Rio de Janeiro, RJ), 28.08.1930, p. 2
5 - O Radical (Rio de Janeiro, RJ) 04.11.1937, ed 1705, p. 2 coluna 6
6 - A Noite (Rio de Janeiro, RJ) 10.05.1941, ed 10503, p. 3 coluna 6, ‘Tres séculos de gravura nos Estados Unidos e Arte Contemporanea no Hemisferio Ocidental’
7 - Diário da Noite (Rio de Janeiro, RJ) 16.09.1943, ed 3879, p. 3 coluna 1, ‘A Arte e o Artista’
8 - O Jornal (Rio de Janeiro, RJ) 20.09.1944, ed 7485, 2ª seção p. 1 coluna 4 ‘O Salão de 1944’
9 - O Dia (Curitiba, PR) 05.09.1944, ed 6462, p. 4 coluna 8, ‘Quatro Notas de Arte’
10 - MERCADANTE, Paulo. Crônica de uma comunidade cafeeira: Carangola, o vale e o rio. Belo Horizonte: Itatiaia, 1990. p.106

Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 373 no jornal Leopoldinense de 1 de fevereiro de 2019

 
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