20/10/2019 às 09h57min - Atualizada em 20/10/2019 às 09h57min

133 – As Hospedarias

Imigrantes Italianos em Leopoldina

Luja Machado e Nilza Cantoni
O Trem de História visita, nesta viagem, casas onde pernoitaram alguns dos imigrantes italianos que viveram em Leopoldina, as chamadas hospedarias. E começa contando um pouco da história da mais citada nas entrevistas realizadas: a hospedaria da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro.

Sabe-se que a propriedade onde se instalou aquela hospedaria foi adquirida em 1882 e, no ano seguinte, procedeu-se à instalação de alojamentos compostos de dormitórios coletivos, salas para enfermaria, consultório médico, escritórios, quartos para os empregados e sala de arrecadação.

Segundo o relatório de 1883, a hospedaria começou a receber imigrantes no dia 01 de maio daquele ano, num total de 7.402 indivíduos, sendo que 987 foram encaminhados para Minas Gerais.

Em 1884 foram realizadas obras de melhoramento, assim como em 1885, 1886 e 1888.

Ilha das Flores, é bom que se diga, era uma hospedaria sob a responsabilidade da União. Mas logo no seu início o Governo sentiu necessidade de cobrar das províncias a manutenção de suas próprias hospedarias, de modo a que os imigrantes fossem encaminhados por linha férrea diretamente para elas, tão logo liberados pela Agência Nacional dos Portos, ou seja, pelo Serviço de Imigração.

 

Informação importante, que merece registro, é a de que, embora muitos descendentes se refiram à Ilha das Flores como local em que obrigatoriamente ficaram seus antepassados, nem todos eles passaram por ali. Muitos dos destinados à Mata Mineira aqui chegaram vindos da hospedaria provincial de Ubá (MG), conforme atestam alguns processos de registro de estrangeiros, nos quais os imigrantes declararam ter passado por tal instituição. Além disso, no início do funcionamento da hospedaria provincial de Juiz de Fora, em 1888, Relatório da Presidência da Província informa que para ali foram transferidos os imigrantes que se encontravam na hospedaria de Ubá.

A hospedaria Provincial de Juiz de Fora, posteriormente denominada Hospedaria Horta Barbosa, de acordo com documentos relativos à Divisão de Terras e Colonização, de 1888, estava sendo construída naquele ano. Norma de Góes Monteiro ressalta que essa hospedaria foi inaugurada em maio de 1889 e praticamente abandonada seis meses depois, com a Proclamação da República.

Entretanto, pelo que foi apurado em seus livros de registro, a hospedaria mineira esteve em pleno funcionamento entre o segundo semestre de 1888 e junho de 1889, quando teve as atividades suspensas por conta das más condições denunciadas à presidência da província. Segundo os livros preservados, somente em 1892 voltou a funcionar normalmente.

Uma análise comparativa entre os livros de matrícula na hospedaria da Ilha das Flores e os registros na hospedaria de Juiz de Fora demonstra que entre junho de 1888 e maio de 1889, os imigrantes destinados à região não passaram pela Ilha das Flores. Os destinados a Minas Gerais, que chegaram entre agosto e novembro de 1893, também foram encaminhados diretamente para a Horta Barbosa.

Em dezembro daquele ano, informa o Ministro da Agricultura, uma epidemia desenvolveu-se no Vale do Paraíba, determinando a suspensão do tráfego na Estrada de Ferro Central e por este motivo, a pedido do governo de Minas, os imigrantes que se destinavam Minas foram recolhidos na Ilha das Flores entre 11 e 25 de dezembro de 1893. Logo depois, 630 deles foram encaminhados para a hospedaria do Pinheiro, localizada na atual cidade de Pinheiral (RJ). Por conta dessa epidemia que se alastrou pela congênere mineira, os fazendeiros passaram a não contratar colonos que poderiam infectar-se na instituição de Juiz de Fora.

No final de 1894, o encaminhamento dos imigrantes contratados pela província mineira teria voltado a funcionar como no período anterior, ou seja, do porto eram encaminhados para a estação ferroviária, sendo embarcados no trem para Juiz de Fora.

Registre-se que esta volta ao curso normal de imigrantes para Juiz de Fora pode ter sido um reflexo do Decreto nº 752, de 03 de agosto de 1894, que reestruturou a Horta Barbosa ou, ter sido em função do término da ocupação da Ilha das Flores pelas forças militares, na Revolta da Armada naquele ano, mencionada no Relatório do Ministro da Agricultura, em 1894.

Em junho de 1894 a hospedaria da Ilha das Flores voltou a receber imigrantes. Mas, segundo determinou o Decreto nº 612, de 06 de março de 1893, foi criado no Rio de Janeiro um ponto de desembarque dos passageiros destinados a Minas Gerais. E, pelo que foi possível apurar, esta agência fiscal esteve localizada no próprio porto do Rio, não sendo necessário hospedar os imigrantes na Ilha das Flores.

Entretanto, o ministro Antonio Olinto dos Santos Pires declarou que no ano de 1895 a hospedaria do Pinheiro ainda recebeu imigrantes provenientes de Juiz de Fora, em função de epidemia que ali se desenvolveu.

Segundo mensagem do presidente Francisco Antonio de Sales, em virtude da paralisação do serviço de imigração a partir de 1897, os funcionários da Horta Barbosa foram dispensados através de decretos assinados a 10 de outubro de 1902 e 23 de janeiro de 1903.

O Trem de História faz uma pausa para recolher a carga da próxima edição. Aguardem! 

Fontes de referência:
Relatório apresentado pelo Ministro Affonso Augusto Moreira Penna à Assembleia Geral, 1883, p.216; pelo Ministro da Agricultura Antonio Olyntho dos Santos Pires, 1895, p. 56 e 1896, p. 77; Mensagem do Presidente do Estado de Minas, 1903. p.34-35.
MONTEIRO, Norma de Góes. Imigração e Colonização em Minas 1889-1930. Belo Horizonte: Itatiaia, 1994. p.102-103.
Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 386 no jornal Leopoldinense de 16 de agosto de 2019
Link
Leia Também »
Comentários »