21/10/2019 às 08h55min - Atualizada em 21/10/2019 às 08h55min

AS PERNAS DA VICENTINA

Edson Gomes Santos
Seu nome completo era Vicentina Lacerda Rodrigues e somente descobri seu nome completo há pouco tempo, quando eu manuseava o convite de formatura dos quartanistas de 1966, do Ginásio, onde eu também figurava com um dos formandos.

Àquela época tal etapa de escolaridade era comemorada com toda a pompa, inclusive com baile no Clube Leopoldina, pois deter o diploma de conclusão do curso ginasial – hoje conhecido como Segundo Grau – abria-nos as portas para empregos e os diplomas eram nossos “passaportes” para início das nossas vidas de adultos.

Hoje, percebo que tal “formatura” foi um marco para cada um de nós, representando o fim da adolescência e o início na vida adulta ...um debut, apresentando-nos aos mercados de trabalho e dizendo-lhes estarmos aptos e deles ativa e efetivamente participar.
Êta tempo bom!!! ...Saudades!!!

Sim, bate saudades dos amigos daquele tempo. Vêm-nos as lembranças e tristezas daqueles que já partiram para o plano espiritual, mas, que ótimo foi tê-los como contemporâneos.    

Quando saí de Leopoldina, em 1971, creio que Vicentina já havia casado e residia fora.

Nunca mais a vi. Somente voltei a encontrar-me com ela em 2007, quando das festividades do 100º aniversário do Colégio Leopoldinense.
Sentada à mesa junto com minha irmã, Carmen, Vicentina e eu, de longe nos avistamos, aproximamo-nos e com um afetuoso, saudoso e amigo abraço, nos cumprimentamos ...quanta alegria para ela e para mim. Seu sempre radiante, simpático, amigo e largo sorriso estava mais lindo que nunca! Sorriso da Mona Lisa? Sorriso mesmo era o da Vicentina!

Carmen comenta sobre uma frase, comum àquela época, “as pernas da Vicentina” e, ato contínuo, Vicentina levanta-se; dá uma de modelo; usa o corredor do ginásio como passarela; desfila diante dos nossos olhos; e, com um largo sorriso, indaga:    Ainda estão em dia?  ...Aplausos!!!  Bis, bis, bis!!!

Seus olhos, sempre radiantes, abria sua alma para aqueles momentos de amizade colegial, pois, naquela oportunidade TODOS nós, ali, voltávamos ao tempo de estudantes.

Comentou ela conosco que fora diagnosticada com Mal de Parkinson, tinha conhecimento da gravidade, porém mantinha o seu bom humor e pensamento positivo, entendendo que somente assim poderia “conviver” com tal enfermidade.

Comentando sobre pergunta feita por uma amiga, a respeito do que ela achava sobre a enfermidade, Vicentina, solidária e humana, respondeu: Parkinson é tão bom que eu quero só para mim, não quero que ninguém tenha.

Vicentina sorria com o olhar; caminhava como se estivesse cavalgando nuvens; não negava um “alô” para quem quer que fosse; era admirada e AMADA por quem com ela convivesse.

Soube que ela faleceu em 19/03/2017, 1 mês e 14 dias após o falecimento do seu marido. 

Ah! Sim! As pernas da Vicentina eram perfeitas, porém, perfeita mesmo era a criatura humana, amável e amiga que aquelas pernas sustentaram. SAUDADES!!! ADEUS!!!    

Edson Gomes Santos – Divinópolis-MG - 2019
 
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