06/05/2020 às 10h18min - Atualizada em 06/05/2020 às 10h18min

149 – A terra e as atividades laborativas

Imigrantes Italianos em Leopoldina

Luja Machado e Nilza Cantoni
No último dia 12 de abril a Colônia Agrícola da Constança completou os seus 110 anos de fundação. Uma data importante para a imigração italiana em Leopoldina pelo muito que esta Colônia representou para a cidade.

O Trem de História de hoje retroage um pouco e começa contando que, antes de se estabelecer por conta própria, antes de adquirir lote na Colônia ou em algum outro núcleo, o imigrante agricultor que veio para Leopoldina trabalhou em alguma fazenda do município. Isto porque a regra era o fazendeiro contratar o imigrante para cuidar dos cafezais.

É bem verdade que do contrato geralmente constava a permissão para o imigrante cultivar os cereais necessários à alimentação da família, no meio do cafezal. E os depoimentos colhidos mencionam, com certa frequência, exemplos de colonos que iam mais além e faziam com que esta produção de mantimentos suprisse as necessidades próprias e ainda sobrasse uma parte para ser vendida. Muitas das vezes vendida para o próprio fazendeiro.

Com esta prática ocorria que, à remuneração advinda da venda do café colhido, o colono somava esta renda auferida com o excedente da colheita dos outros cereais produzidos entre os pés de café. Somando-se a este valor as eventuais “diárias” por trabalhos extraordinários, o colono tinha uma certa folga e passava a alimentar os sonhos. Isto porque, como já foi dito anteriormente, a família imigrante tinha por objetivo adquirir seu próprio pedaço de terra.

Vale reforçar que o pagamento por aquilo que cultivavam, além dos cafezais, era independente e não era a única renda adicional dos imigrantes. Eles contavam, também, com recebimentos por um sem número de tarefas outras que executavam para o fazendeiro, tais como a feitura de telhas e tijolos, serviços de carpintaria, tarefas como pedreiros, carreteiros, podadores, ferreiros e outros serviços, em geral contratados sob a forma de empreitada, conforme relatos de descendentes.

Somava-se a isto o fato de que o pagamento pelo trato do cafezal não sofria interferências no caso de condições naturais adversas, o que fazia desse ganho a fonte para abastecer as despesas ordinárias, permitindo que praticamente todas as receitas extras se direcionassem para os “colchões” e demais formas utilizadas para guardar o dinheiro que sobrava.

É certo que a grande maioria dos imigrantes amealhou poupança suficiente para a compra da propriedade que almejava, ainda que de início fosse apenas um pequeno lote de terras bastante exauridas pelas lavouras dos seus antigos donos.

Na Colônia Constança estes lotes mediam aproximadamente cinco alqueires ou, 25 hectares de terras. Nas colônias particulares eram geralmente concedidas áreas menores para o colono explorar como desejasse. Mas dois exemplos a seguir comprovam que, por vezes, estas áreas chegavam a ser bem maiores. Um imigrante que viveu em fazenda do distrito de Ribeiro Junqueira adquiriu, depois de alguns anos, o lote onde residia desde que chegara a Leopoldina.

Segundo o registro dessa propriedade, ela contava com “4.356 ares ou 9 alqueires e ficava na Fazenda da Piedade”. Do inventário de outro imigrante constou uma propriedade medindo “7.260 ares ou 15 alqueires”.

Quanto ao que se produzia nestas terras, sabe-se, através de Relatório[1] da Colônia Agrícola da Constança, que ali se cultivava “milho, arroz, feijão, hortaliças e arvores fructiferas” e que os lotes eram ocupados pelos compradores e também por “os aggregados por meiação, em virtude de contracto com os ex-proprietários das fazendas”. É possível que nas colônias particulares, ou seja, nas fazendas do município, a produção fosse menos diversificada, dado o interesse dos fazendeiros no plantio quase exclusivo do café. Entretanto, desde 1888 a Inspetoria Geral de Imigração em Minas Gerais se empenhava na “regeneração do trabalho agrícola”, conforme declarou o Inspetor Geral Diogo de Vasconcelos[2]. Isto significava, basicamente, estímulo à diversificação da produção. E como o governo subsidiava a vinda dos imigrantes, os fazendeiros precisavam cumprir suas determinações, entre elas a do plantio de alimentos.

Registre-se que, diversificada ou não a produção, um percentual dela era destinado à liquidação de empréstimos dos colonos, principalmente os relativos à aquisição da terra. Na Colônia Constança o financiamento dos lotes era amortizado pela entrega de 20% da colheita. Já na fazenda onde trabalharam os ancestrais de um declarante, 20% da colheita que faziam na pequena área que lhes era concedida eram entregues ao proprietário a título de pagamento de despesas.

Embora a mecanização da lavoura fosse quase desconhecida na região, é bom lembrar que nas colônias oficiais o estado fornecia algumas máquinas e equipamentos, além de sementes. Já nas colônias particulares, nem sempre os imigrantes podiam contar com tal suporte. Nos depoimentos obtidos foram comuns apenas as menções a carro de bois, carroças, arados e ferramentas menores, algumas trazidas da terra natal. Já os moinhos de fubá e monjolos, geralmente movidos a água, existiam não só na Constança como também em propriedades particulares.

O Trem de História de hoje fica por aqui. Na próxima viagem um novo tema será abordado. Até lá!
 
[1] Relatório da Diretoria de Agricultura, Terras e Colonização de Minas Gerais, 1909, disponível no Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte.
[2] O Mar de Espanha (Mar de Espanha, MG), 18 nov 1888, ed 141, p.1-2-col.4, 1-2.
 
Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 402 no jornal Leopoldinense de 16 de abril de 2020
Link
Leia Também »
Comentários »