06/05/2020 às 21h34min - Atualizada em 06/05/2020 às 21h34min

LEOPOLDINA DE OUTRORA – Luiz Eugenio Botelho – Genico – 1963 –

Edson Gomes Santos
Àquela época eu me deliciava com as crônicas do Sr. Genico, publicadas na Gazeta de Leopoldina, narrando fatos e curiosidades sobre a Leopoldina de Outrora e “do tempo dele”. Ele rememorava, registrava, divulgava e preservava historicamente fatos ocorridos –  transmitidos via tradição escrita e/ou oral – em tempos muito anteriores, até, do seu próprio nascimento.

Dezembro/2019, em Leopoldina, recebi pelas mãos da minha cunhada Fátima, o exemplar do Leopoldina de Outrora, com dedicatória do Sr. Genico para meu pai, Eduardo Santos, livro tal que estava em poder do meu irmão Antonio, falecido em 08/2018. Li livro de uma assentada, recordando, a cada página, as antigas crônicas da Gazeta.

Chamou-me atenção o conteúdo do capítulo XI, Flashes dos Primeiros, cujo conteúdo tomo a liberdade de reproduzir sucintamente, focando nos fatos lá registrados, pois não resisti à “tentação” de compartilhar tais preciosas informações com meus conterrâneos.

Então, listemos os “primeiros”:

- HABITANTES – Índios puris, claro; e em 1831 as terras foram ocupadas pelo tenente Joaquim Ferreira Brito e Francisco Pinheiro de Lacerda, estes de fato, os fundadores da cidade.

- ATO RELIGIOSO – Em 1832, o reverendo cura Manoel Antonio rezou a primeira missa, numa capela improvisada, situada no alto do morro do antigo cemitério e da forca.

- ESTRADA DE RODAGEM – A primeira estrada verdadeiramente de rodagem... da Zona da Mata, partia do Meia Pataca (Cataguases) com escala em Leopoldina; findava às margens do rio Paraíba do Sul, em São José do Além Paraíba; e o encarregado da construção pelo governo provincial foi o comendador Leite Ribeiro, este, natural de Mar de Espanha.

- COLÉGIOS – Um, destinado às meninas, era dirigido pela Sra. Ana Werneck; e, outro, Ateneu Leopoldinense, para meninos, fundado pelo poeta sergipano Sinfônio Cardoso.

- HOTEL – Foi o Hotel Leopoldinense, de propriedade de José Maria Monteiro.

- TELEFONE – O primeiro telefone data, mais ou menos, de 1890. Foi instalado na casa comercial de meu pai (do Genico), à Rua Municipal (Cotegipe), próximo ao largo da Estação; funcionava por meio de pilhas e era privativo da casa. As ligações eram feitas somente com a fazenda da Cachoeira, distante cerca de 5 quilômetros da cidade... e era usado também pelos vizinhos da fazenda em caso de emergências.

- INDÚSTRIAS – A primeira fábrica de manteiga e derivados do leite foi instalada mais ou menos em 1907, pelo major Luiz Botelho Falcão (irmão do Genico), produzindo manteiga “Flor de Minas”, que rivalizava em sabor com a manteiga francesa Demagny, consumida pelos leopoldinenses.  Em 1905 o mesmo industrial já havia inaugurado, pioneiramente, uma fábrica de sabão.

- AUTOMÓVEIS – O primeiro, em 1913, despertou grande curiosidade da população; o dono era filho do Dr. Francisco Batista de Paula, médico em Recreio; e o segundo carro pertenceu ao Prof. José Botelho Reis, Diretor do, então, Gymnasio Leopoldinense.

- SORVETES – Os primeiros, mais ou menos em 1892, foram fornecidos pelo “Salão Recreio”, de Nicolau Sabino & Filhos, situado à Rua 1º de Março (hoje Gabriel Magalhães). O bar era frequentado pela elite da época; lá havia tiro ao alvo e outras diversões; o gelo, procedia do Rio de Janeiro, em barras, encaixotadas e protegidas por serragem; e Nicolau Sabino teve como um dos seus descendentes o renomado escritor e cronista, Fernando Sabino.

- AGENTE DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA – O primeiro agente foi o Coronel Teófilo Rocha, pessoa jovial e comunicativa; trajava, habitualmente, ternos de linho branco e não dispensava um bom charuto de Havana.

- REVISTA DE LEOPOLDINA – Por volta de 1905 foi levada à cena, no Teatro Alencar, a Revista de Leopoldina, escrita pelo literato Dilermando Cruz; a peça revivia os costumes da vida leopoldinense em seus aspectos sociais, morais e pitorescos, e, no decorrer da apresentação, foi prestada uma homenagem à Cia. Força e Luz Cataguazes-Leopoldina, então recentemente constituída. Essa Revista foi, até hoje (1963), a primeira e única escrita e levada à cena em Leopoldina.

- BICICLETAS – As primeiras que apareceram datam de 1899. De um jornal daquela época: “O Sr. Otaviano Miranda comprou cinco aperfeiçoadas biciclettes para alugar aos rapazes apreciadores do moderno sistema de andar montado”.

- CINEMA –O primeiro cinema foi o Animatógrafo Lumière.

Genico relatando e detalhando suas primeiras impressões sobre a “novidade”... cinema:

- Recordo-me da primeira vez que assisti a uma sessão de cinema em Leopoldina. Foi grande a emoção de que fui tomado, no Teatro Alencar, pelo desenrolar e pelo efeito dessa maravilha do engenho humano.

- Eu deveria ter meus 4 ou 5 anos e tudo no cinema despertava-me a curiosidade. 

- As sessões do cinema eram anunciadas aos domingos, às 8 e meia da noite, subindo aos ares vários foguetes, com vinte minutos de antecedência; os títulos eram anunciados em voz alta pelo proprietário; um gramofone reproduzia peças musicais durante as projeções; num momento posterior as músicas passaram a ser executadas pela Lira Leopoldinense.

- Nos filmes anunciados constavam unicamente:

- 1ª parte – Via-se surgir muito longe a silhueta de uma locomotiva comboiando grande número de carros, a qual vinha aumentando de vulto até tomar todo o espaço da tela. (...)

- 2ª parte – Os banhistas. Aparecia numeroso grupo de banhistas pulando de uma ponte, ao rio, repetindo várias vezes tal exercício. (...)

Agradecendo ao Sr. Genico pela preservação e registro de dados históricos que remontam a 1831, podemos constatar que, após 189 anos, a nossa Leopoldina fica e está cada vez mais bela, querida e amada.

Edson Gomes Santos – Divinópolis – 04/2020
 
 
 
 
 
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