Leopoldina na época do Império, na Província de Minas Gerais, era a segunda maior detentora de escravos, com 15.253 cativos, dentro do total provincial de 365.861; somente era superada por Juiz de Fora, que detinha 21.808 escravos, conforme consta de página reproduzida do livro A Abolição em Minas, 1962, do Prof. Oiliam José, disponível no site [email protected].
No Brasil, os “farrapos” do escravagismo ainda estão latentes; demorarão muito tempo para se desfazerem; e hoje, após mais de 131 anos da promulgação da Lei Áurea, o preconceito racial ainda está “fervente”, além de,até mais agressivas suas manifestações, como acompanhamos nos noticiários disponíveis.
Após a abolição chegaram os imigrantes italianos, destinados a substituir a mão-de-obra escrava nas fazendas, fator que, entendo, trouxe nova vertente cultural para a região, posto que, originários de culturas milenares, não se submeteriam “cordeiramente” ao jugo escravagista incutido na filosofia de vida dos ex-senhores de escravos e, agora, empregadores de mão-de-obra diferenciada e culturalmente milenar.
Outro fato, é que a implementação da antiga CFTL – Cia. de Fiação e Tecelagem Leopoldinense – proporcionou novo ritmo para a cidade, ativando uma indústria que demandava empregados detentores de maiores habilidades laborais, tanto para apoio técnico-operacional quanto para as demais atividades de meio e fim do processo industrial, criando, por consequência, mais uma faceta da estratificação social local: o operariado.
Naqueles anos de 1950/60 as estratificações sociais locais eram geograficamente bem definidas, concentrando-se o “operariado” no Bairro da Fábrica; os afrodescendentes nas periferias; e a população “classes” média e alta, nos pontos mais centrais da cidade.
O footingnos fins de semana, na Praça Félix Martins,consistia num ir e vir das garotas solteiras, num “corredor”, em que as “paredes” eram os rapazes solteiros a admirá-las, buscando um flerte ou uma possível namorada.
Nosfooting na praça eram claramente perceptíveis as estratificações sociais de então, onde os “afins” se agregavam, “naturalmente”,nos respectivos “setores” da Praça:
- No passeio lateral da praça, em frente ao Forum,num ir e vir até perto do Cine Brasil, transitavam os jovens do “operariado”;
- Na parte central da praça, transitavam os jovens “classes” média e alta; e,
- Na parte lateral, à beira da linha férrea, transitavam os afrodescendentes.
Ah!... Havia uma outra parte da praça, voltada para a Rua Manoel Lobato, onde a escuridão era a cúmplice dos namorados para os “amassos” que, em público, não eram bem aceitos.
E era lá, no “lado escuro” da praça”,onde os casais – independentemente de seus status sociais – podiam “avançar” um pouco mais além do flerte trocado no footing, promovendo, dessa forma, a tão propalada e desejada sociabilização.
... Assim era!
Edson Gomes Santos – Divinópolis-MG – jan/2020
Praça Félix Martins vista da antiga rodoviária - Década de 60 do século XX ( Foto: Autor desconhecido - Acervo do Jornal Leopoldinense )