25/05/2020 às 11h56min - Atualizada em 25/05/2020 às 11h56min
O TRIO ALEGRE – Leopoldina-MG - 1960/70
Edson Gomes Santos
É sabido que a homossexualidade sempre existiu e existirá, porém a violência com que eles e elas são atualmente tratados, extrapola todos os limites do bom senso, da razão e da convivência com que os seres humanos – racionais e não-fanáticos - devem-se, mutuamente, dispensar.
Antigamente, para um ou uma homossexual assumir seu gênero, era necessária muita coragem pois a discriminação era mais do que certa, velada ou não.
Muitos fechavam-se nos seus “armários”, apesar de o disse-me-disse sempre estar a acompanha-los por onde quer que circulassem.
Claro, na Leopoldina daquele tempo havia “armários” fechados, mas, também, os que, corajosamente, assumiam e viviam seus gêneros.
Lembro-me das muitas vezes em que, sentado na cadeira em frente à loja do meu pai, na Rua Tiradentes, os vi passar pelo passeio do outro da rua, em suas “plenitudes”.
Jorginho, Joel e Milton... o trio alegre.
Milton era garçom; Joel, não sei; Jorginho era excelente cozinheiro e o frango com quiabo que ele preparava era um verdadeiro manjar real.
Os trejeitos femininos eram por eles imitados; de braços dados caminhavam; estavam nem aí para os que deles riam; nem para aqueles que assoviavam “fiu, fius”; eram assumidos, com todos os ônus e bônus.
Não me lembro de eles terem sido agredidos ou vítimas de violências em virtude dos seus gêneros, tampouco agredirem a quem quer que seja em respostas às manifestações a eles dirigidas, quando transitavam pelas ruas da cidade... eram alegres e educados.
Jorginho (Pandú; Barata) Costa era irmão do Euder Costa, o então “famoso”, Lambada.
Interessante eram os seus “estilos”: Milton aparentava ser introspectivo, tímido e de pouca conversa; Joel era sorridente e “feminino”; Jorginho, sorriso tipo Mona Lisa; olhares de esguelha; parecia ser a prima donna do trio.
Certa feita, eles, de braços dados, passando pela Tiradentes, ouvem uma chacota:
- Aí, ó, esse namoro vai dar em casamento de três!
Jorginho para; leva a mão à boca e nela dá um beijo; vira-se para o gaiato; sopra-lhe o beijo; e responde:
- Sem chance boboca! Mulhé com mulhé, dá jacaré! Tá?
Vira-se; retoma o passo com as amigas; que, juntas, continuam o desfile pela passarela Tiradentes.
Visto, vivido, lembrado e, ora, registrado!
Edson Gomes Santos – Divinópolis-MG – março/2020