28/05/2020 às 12h45min - Atualizada em 28/05/2020 às 12h45min
SERRA DA VILETA – UM CRIME BÁRBARO – Leopoldina-MG – 1962
Edson Gomes Santos
Em meados de dezembro/19 estive em Leopoldina, visitando meus familiares, e, naquela ocasião minha cunhada, Fátima, convidou-me a visitar nossos primos residentes em Aventureiro e fomos.
Há mais de 30 anos eu não passava por aquele trecho da Rio-Bahia e, ao passar pela Serra da Vileta, veio-me à mente aquele brutal assassinato lá ocorrido, no já longínquo ano de 1962.
A barbaridade do crime abalou a cidade, causando indignação a todos aqueles que dele ficavam sabendo, até porque a vítima, o mecânico José Luiz, era pessoa dedicada à família; trabalhador; honesto; solidário; não havendo quem dele falasse mal ou o denegrisse.
... Aconteceu! ... Por quê? “Corria” uma conversa de que uma mulher, amásia de um fazendeiro; vizinha da oficina mecânica; teria “cantado” o José Luiz; este a recusara; ela, por vingança, o denunciara ao amante; e este teria contratado jagunços para liquidá-lo.
... E o comentário geral era que o José Luiz teria sido torturado e castrado, antes de ser morto.
Entra em ação a Polícia Militar, que consegue desvendar o crime; prender o mandante; o amigo dele que teria “emprestado” os jagunços; os jagunços autores do crime; e, todos eles foram recolhidos à Cadeia Pública da cidade.
Os humores e os rumores de que os cidadãos leopoldinenses se sentiam indignados e clamavam por JUSTIÇA!!!,a cada dia que findava, mais aumentava a intensidade e a intencionalidade de um “justiçamento” pelas próprias mãos... linchamento!
Visando dar proteção legal a que todo cidadão tem direito – criminosos ou não – a Polícia Militar estabeleceu um cordão de isolamento no início da rua que dava acesso à cadeia; guardado por policiais armados; visava inibir quaisquer tentativas de acessos não autorizados.
... Porém a “fervura” continuava e, a cada dia, mais pessoas ficavam em vigília – respeitando o cordão de isolamento – num tipo de protesto silencioso e pacífico, mas, como toda paciência tem limite, esse limite aos poucos foi se esvaindo, e a “fervura” explodiu!
Apesar do meu pai haver me proibido ir àquele lugar, eu, nos meus 13 anos, não resisti à curiosidade; fui; fiquei lá no “fundão”, próximo à casa do Sr. Joaquim Guimarães; e, naquela determinada tarde de um determinado dia, ouvi o “povaréu”, num uníssono:
- É agora! É agora! É agora!... E foram! ... Aí ouve-se um forte estampido de um tiro!
Os cidadãos, desarmados e assustados, dispersam-se correndo, num ”salve-se quem puder”, e eu dentre eles, fugindo do alcance de outros disparos que porventura viessem.
A polícia reagira e respondera com fogo à tentativa de rompimento do cordão de isolamento.
Aquele infeliz disparo tirou a vida do cidadão leopoldinense, Teodolino Tavares de Medeiros.
Agora, registrando tais fatos, revejo-os integral e claramente como se ocorridos há poucos dias, “frescos” na memória, e ainda continuo sem entender o porquê da violência humana.
Edson Gomes Santos - Divinópolis-MG – jan/2020