11/06/2020 às 17h04min - Atualizada em 11/06/2020 às 17h04min

100 ANOS DO COLÉGIO - INVEJÁVEL CENTENÁRIO

Fazendo minha caminhada matinal, me deparei com o Luiz Otávio, que me solicitou escrever sobre as comemorações dos 100 anos do Ginásio. Nenhuma outra coisa me veio à cabeça senão lhe indagar por que o invejado José do Carmo Rodrigues, merecidamente reconhecido como expressão maior da literatura leopoldinense hodierna, contumaz escriba de nosso periódico, também ex-aluno como eu, não o faria. Deu-me o Luiz Otávio as razões e, sentindo-me um Obina compelido a substituir Ronaldinho Gaúcho, atrevidamente aceitei, consciente de minhas limitações.
 
Antes de trazer-me (não me mandou, trouxe-me) para cursar o Clássico de 1954 a 1956, meu pai se esmerou em colher informações, porque não abria mão de um colégio católico e que ainda propiciasse ao filho único uma cultura esmerada que lhe permitisse “passar de cara” no vestibular de Direito que deveria enfrentar no Rio de Janeiro.
 
Não errou meu pai: o então Colégio Leopoldinense possuía uma direção movida a bondade e um corpo docente do melhor quilate, amálgama que fizera vir e ainda fazia vir para cá alunos de centenas de localidades, de Minas Gerais e d’alhures. O “sonho sonhado” ocorreu e passei no primeiro vestibular a que me submeti.
 
A trajetória do amado educandário sempre foi exemplar, merecedora de todos os encômios. Por aqui passaram, no século que agora se completa, uma plêiade de jovens de todas as origens, receptores de ensinamentos cristãos e culturais imperecíveis, jovens que, quase à unanimidade, se tornaram pessoas de bem e deram ao Brasil, e em alguns casos até ao Mundo, o melhor de si.
 
Nada mais justo, portanto, do que comemorar-se, exatamente no dia 03 de junho, condignamente, o centenário do Ginásio. Intimoratos alguns, receosos outros, juntamo-nos poucos, depois outros, formaram-se as Comissões, distribuíram-se atribuições e se partiu para a “mais perfeita festa de comemoração de aniversário” (expressão ouvida por muitos e dita por centenas de ex-alunos e familiares aqui presentes).
 
 Não faltou o apoio da imprensa escrita e falada, nem de quem foi solicitado para garantir o êxito do desfile e é preciso por isto agradecer com sinceridade.
 
Ninguém pense, porém, que se chegou ao cume através de um trajeto sem espinhos.
 
Desde o início houve “pedras no caminho”: dificuldades para se ter o ponto de partida para a emissão de cartas-convite para ex-alunos residentes fora de Leopoldina; indiferenças a solicitações de ajuda; telefonemas pusilânimes; divergências quanto a tamanho de escadas; comentários maliciosos; temores de não haver sucesso (principalmente devido à exiguidade de tempo e a compromissos financeiros assumidos). Foram também “pedras” as inscrições em cima da hora de quem poderia ter se inscrito com antecedência, o que permitiria mais tranquilidade nos trabalhos burocráticos e na previsão de preparo dos alimentos.  
 
Ao longo da preparação, foi no mínimo triste ouvirem os membros da comissão central que pessoas aqui residentes não compareceriam porque não aceitavam ser convidadas apenas pela imprensa escrita e falada, por cartazes espalhados em toda a cidade e até mesmo em faixas em que se lia: Isto é um convite !
 
Por outro lado, centenas, quase cinco delas, inundaram de alegria os ambientes da festa, inscrevendo-se e participando efusivamente de tudo.
 
Na noite de sexta-feira, no pátio do Ginásio, o Coquetel/bate-papo, abertura dos eventos, já foi sinônimo de apogeu da emoção, propiciando reencontros de colegas “desaparecidos” há décadas. O ambiente sadio, o local preparado com muita competência e carinho, o fundo musical apropriado, a lembrança dos tempos em que não se podia (como agora excepcionalmente autorizara o atual Diretor) pisar no gramado, as histórias e as “estórias” geradoras de sorrisos, de gargalhadas, de lágrimas, de saudades sufocantes, tudo se juntou para aquele momento ser, sem se cogitar de nada mais, a recompensa por ter se inscrito e poder dizer “estou presente”. Se, ao acaso, as luzes do local se apagassem, se não houvesse lua e estrelas, mesmo assim não haveria escuridão, porque a alegria contagiante em todos os rostos, os brilhos nos olhos de todos, brilhos de felicidade indescritível, formariam um clarão celestial.
 
Na manhã seguinte, na concentração para o desfile, novos reencontros de quem não teve condições de chegar na sexta-feira. Renovaram-se as esperanças de encontros sonhados: Fulano chegou? Beltrana ainda não veio? A passeata festiva, sentimental, colorida, animada por fanfarra de atuais alunos e pela ótima Banda de Música, conduzida pelo maestro Luiz Carlos, recebeu simpáticos e vibrantes aplausos do povo, que desde cedo se apinhou em ambas as margens da Rua Cotegipe.
 
Os desfilantes, movidos a emoção, desciam a Cotegipe rumo ao Colégio, relembrando, em cada passo, momentos de seus tempos estudantis. Ao passar pelo trecho onde existiram o Cine Alencar, o Bar e Sorveteria Americana do Sr. Orlando Leite, o ponto de Picolé do Sr. Leopoldo, muitos evitaram fixar o olhar, limitando-se a olhares de esguelha, porque temiam, ao exumar reminiscências, chorar copiosamente de saudade do tempo em que todos eram felizes e não sabiam.
 
A Santa Missa foi soberana. Os cânticos, magistralmente escolhidos, elevaram, aos píncaros, as emoções de tantos quantos lotaram a Igreja do Rosário, levando dezenas às lágrimas incontidas. Registre-se que o celebrante Padre Jorge, atual pároco da Igreja do Rosário, foi de felicidade total em sua homilia, tocando os corações de todos que ali estavam.
 
Em ambiente descontraído, bem informal, muito festivo e familiar, o almoço, no pátio interno do Ginásio, foi outro momento maravilhoso: farto, saboroso, com refrigerantes e cervejas bem gelados como dificilmente se veem, se coroou com sobremesas diversas, divinas, que merecidamente receberam elogios de todos que compareceram ao “ágape”.
 
O baile, no Clube do Moinho, fechou com “chave de ouro” a maravilhosa efeméride. Ali se reacendeu a inocência juvenil e se questionou sofregamente se haveria ou não uma contradança com o primeiro par ou com a primeira dama dos tempos de estudante. A orquestra tocou unicamente músicas “antigas”, agradando a todos sem exceção. A ornamentação do clube, o prato quente, os bolos comemorativos dados como brindes em cada uma das mesas, o bolo gigante no centro do salão de baile, a elegância de todos, tudo isto se somou para tornar insuperável a noite encantadora.
 
Quem faltou? Faltou quem tinha condições de se inscrever e não o fez. Quem faltou se “ferrou”, porque perdeu a oportunidade de participar de uma comemoração esplendorosa.
Quem trabalhou? Muita gente, mas vou mencionar apenas os nomes das senhoras Heloísa Junqueira, Elza Gama Peres e Maria do Carmo Farage Josetti, porque elas, não sendo ex-alunas, se deram com eficiência ímpar, apenas pelo prazer de servir.
 
Quem compareceu? De corpo presente, centenas de pessoas, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Espírito Santo, de Brasília, e até do Mato Grosso e do Paraná !
 
Ah, ninguém pode esquecer que, sem a proteção tradicional do Monsenhor Guilherme de Oliveira e a recentíssima do Pedro Augusto Arantes, intercessores junto ao Pai Celeste, a festa não poderia ser perfeita como foi.
 
Eu, felicíssimo com o êxito da festa, ainda de ressaca com tanta emoção, anuncio que a nova festa será a comemorativa dos 150 (cento e cinquenta) anos do Ginásio, mas eu não participarei, porque não sou de ferro e preciso descansar.
 
Leopoldina, 10.06.2006
 
Nelsinho.
(Nélson Vieira Filho, ex-aluno  do Curso Clássico1954/55/56).
 
Texto publicado na edição 060 do jornal Leopoldinense.
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