21/06/2020 às 12h48min - Atualizada em 21/06/2020 às 12h48min

BETINHO DA CASA EMMA

Edição 286, 15.08.2015
 
Depois de meu grave acidente de automóvel em 19.05.1970, tive que parar de jogar futebol. Quando percebi, tornei-me juiz de futebol society.
 
O Clube do Moinho, em que sou sócio há muitos anos, sempre organizou seus campeonatos internos de futebol society, em que cada time joga com 8 jogadores, um deles o goleiro.
 
Num dos campeonatos, um dos itens do regulamento determinava uma tolerância de 15 minutos se os times não estivessem completos.
 
Fui convidado para apitar um jogo que determinaria o campeão da temporada. Nas vésperas, o assunto no bar, na beira da piscina, na secretaria, na sinuca, na sauna, era o jogo. Não tive como não ouvir que um time finalista precisava apenas do empate. Para permanecer o mais isento possível, eu, de propósito, evitava participar das conversas para não ficar sabendo qual. Escondi-me tanto que até o Dr. Abdo Cristiano Salomão, presidente do Clube, se meteu em setor alheio e me telefonou para saber se eu estava me lembrando do compromisso assumido.
 
Bem antes do horário de 9 horas, previsto para o início da partida, a plateia lotava as arquibancadas e as laterais do campo.
 
Quando, naquele domingo ensolarado, pouco antes de o relógio da Catedral bater 9 horas, contei os jogadores e percebi que em um dos times faltava um jogador. Ficamos em campo, aguardando o transcurso dos 15 minutos regimentais para iniciar o jogo.
 
O regulamento mandava esperar e ficamos em campo, “que nem bobos”, aguardando o transcurso dos 15 minutos regimentais para iniciar o jogo.
 
Exatamente às 09h15min, levei o apito à boca para começar o jogo. E também exatamente no milionésimo de segundo seguinte, descendo a rampa que levava ao campo, despontou o vigoroso, porém leal lateral-esquerdo João “Quequé” Ribeiro dos Reis, o atleta que faltava.  O goleiro de seu time percebeu e veio em disparada em minha direção para pedir que eu esperasse a entrada do “grande craque”. Era tarde, porém, pois o apito de início do jogo já havia trinado, autorizando o início da contenda. O “center-forward” adversário deu o pontapé inicial, tocando a bola para o meia Gilberto Marques Cunha, o Betinho da Casa Emma, e este, vendo o goleiro fora do gol, chutou por cima e ... saco !
 
Tchan, tchan, tchan.
 
Confusão total !O gol valeu, gritavam uns; o gol não valeu, vociferavam outros.
 
Literalmente, as torcidas de ambos os times entraram em campo, cada lado defendendo seus interesses. Quase perdi o calção de elástico, meu corpo ficou doído de tanto empurrão que levei, mas minha decantada honestidade determinou: gol ! E que golaço !
 
O time que levou o gol relâmpago queria abandonar o campo, mas foi convencido a desistir do desonroso intento.
 
O jogo prosseguiu em paz até seu final, com o placar de 3 x 3.
 
Perco o prêmio da mega-sena acumulada se para recebê-lo me for exigido informar qual time foi campeão.
 
Na mesma manhã a confusão parou, mas eu continuei com várias equimoses por longos dias.
 
 Em 15.06.2010
Nelsinho.  
 
 
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