07/06/2021 às 11h05min - Atualizada em 07/06/2021 às 11h05min

Se vira nos 30!

Paulo Lúcio Carteirinho
Waldir Antonio Teixeira é proprietário da Viação Leopoldinense (Fotos Câmara Municipal e arquivo jornal Leopoldinense)
Recentemente, o prefeito Pedro Augusto editou o decreto n° 4.860/2021, que definiu novo valor da passagem  de ônibus no perímetro urbano, passando de R$ 2,45 para R$ 2,75. A passagem aumentou R$ 0,30, um reajuste de 12,24%.

O prefeito teve que se virar nos 30 para evitar o “apagão” no transporte público, conforme vinha anunciando o proprietário da Viação Leopoldinense, empresa que presta serviço de transporte coletivo urbano.  Em visita à Câmara dos vereadores no dia 12 de  Abril desse ano, atendendo o Requerimento de ° 16/2021, de  autoria do vereador Rogério Suíno, o proprietário falou das dificuldades que sua empresa vinha passando.

A começar pelo preço do combustível que subiu absurdamente. Isso vem ocorrendo desde a saída de Dilma/PT, onde no governo Temer foi mudada a política de  preços da Petrobrás,  onde quem define o preço não é mais o governo mas sim a Petrobrás,  baseando-se no Preço de Paridade  Internacional (PPI), onde o preço dos combustíveis são reajustados conforme a cotação de barril de petróleo,  que varia muito e com isso vira e mexe o combustível sobe.  Tal política de preço continua sendo aplicada no governo Bolsonaro, o que explica a gasolina acima de R$ 6,00. 

Além do alto custo com combustível, tem também o aumento dos gastos com a manutenção, principalmente compra de peças, as quais muitas são importadas ou para a fabricação delas precisa de material que vem de fora do país. Com o dólar acima de R$ 5,00 a manutenção encareceu muito.

Destaco também gasto com água e energia, principalmente energia, que está caríssima e esse ano vai aumentar mais ainda, tendo em vista que vamos enfrentar uma das maiores secas da nossa história. Teremos um longo período de bandeira vermelha, com risco de retorno dos apagões, falam até em racionamento de energia.

Não poderia deixar de fora os gastos com funcionários, que todo ano tem aumento nos salários, aumentando os gastos da empresa.

Como podem ver, os gastos da empresa de ônibus subiram muito nos últimos anos. Por sua vez, a tarifa ficou congelada.  Com isso, a empresa estava deixando de ser lucrativa. Não só por causa do aumento dos gastos, mas também pela queda do número de pessoas que utilizam ônibus. Causada pelo desemprego. Vale lembrar que só a APA demitiu 400 pessoas no começo da pandemia (Abril/2020), fora outras empresas que também demitiram e até mesmo fecharam.

Não só quem perdeu emprego deixou de usar ônibus, muitos que estão empregados também deixaram de usar, principalmente por questão sanitária, evitando ficar em local fechado e que tenha aglomerações. Muitos passaram ir para o trabalho a pé ou de bicicleta, até como forma de economizar, já que os preços dos alimentos subiram muito, a carne então nem se fala. Os carrinhos de compras, assim como os ônibus, estão cada vez mais vazios.  
 
Para piorar, a concorrência aumentou muito. Além dos taxistas e mototaxistas que já disputavam usuários, agora têm os motoristas de aplicativos.  E como tem motoristas de aplicativos em Leopoldina! Fruto do desemprego. São tantos que chegam a trabalhar fora do aplicativo, oferecendo o serviço nos estacionamentos dos mercados e até ponto de ônibus. Fora os motoristas clandestinos.

O setor de transporte vive uma das suas maiores crises. Se nada fosse feito teríamos o “apagão”, conforme vinha anunciando o dono da empresa, que chegou anunciar que  os ônibus não iriam circular mais nos domingos e feriados. Ligando o alerta vermelho da prefeitura.
 
Tal medida não foi adiante, tendo em vista ser totalmente ilegal, já que a empresa de ônibus tem um contrato vigente  e deve respeitá-lo. Com lucro ou prejuízo tem que rodar. Porém, trabalhadores não são obrigados a trabalharem sem receber e foi o que aconteceu, tivemos uma quase “greve”, uma paralisação do serviço devido falta de pagamento dos funcionários, mas que logo foi resolvida e o serviço restabelecido.

Dentro desse cenário, o prefeito Pedro Augusto tinha que fazer algo para evitar que novas paralisações ocorressem. Tinha algumas soluções, como multar a empresa caso o serviço deixasse de ser realizado o serviço, o que poderia aumentar o problema, afinal, se já está ruim para a empresa circular sem multa, imagina com multa.

Além da multa, caso o serviço não fosse prestado a prefeitura poderia passar a concessão para outra empresa. Algo mais complicado ainda, já que dificilmente encontraria alguém para investir nesse momento. Conforme falei anteriormente, todas as empresas de transporte estão passando aperto. Muitas não estão conseguindo honrar com as concessões que têm, imagina assumir o serviço em outra cidade, onde teria que investir  e o momento não está nada favorável.

Uma alternativa seria a própria prefeitura assumir o serviço, como sugere o Movimento Passe Livre. Porém, o investimento é muito alto: galpão, ônibus, manutenção, funcionários, água, luz, combustíveis. Se para a empresa privada cobrando tarifa já está ruim, imagina para a prefeitura que faria o serviço de graça. A ideia do passe livre é interessante, mas muito difícil de ser aplicada, pois exige um alto investimento e isso faria com que a prefeitura tivesse que tirar recursos de outras áreas mais importantes. Talvez se criasse uma autarquia seria uma boa solução, cobrando tarifa mais em conta, porém, o investimento para criar essa autarquia é muito alto e é bom lembrar que estamos em período de recessão.

A última alternativa que a prefeitura tinha era reajustar a passagem de ônibus. Essa sempre foi a alternativa mais fácil: apertou, aumenta imposto. O liberal Pedro está vendo como funciona o sistema.  Joga a responsabilidade para o povo. Foi o que o prefeito fez. O grande problema é esse aumento foi muito alto: 12.24%. Será que não poderia ser menos?  
 
Esse aumento veio em um momento ruim para a população, que vive uma das maiores crises econômica da história. Com desemprego recorde, com tudo encarecendo, com o retorno da fome.  Tal reajuste vai afetar a economia local, tendo em vista que aumentará gastos de várias empresas, afinal, elas fornecem aos seus  empregados o vale  transporte.
 
Teremos menos dinheiro circulando na cidade. Muitos vão ter que rever seus gastos, de modo absorver mais essa despesa. O jeito é se virar nos 30.

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