09/09/2021 às 16h04min - Atualizada em 09/09/2021 às 16h04min

Vocação para a Educação

Dora Stephan (*)
Escola Estadual Professor Botelho Reis em cujo andar superior funciona o Conservatório Estadual de Música Lia Salgado (Foto: Luciano Baía Meneghite)
Não consigo precisar o ano, mas certamente no início da década de 1990, como jornalista e sócia da Página Assessoria de Comunicação, juntamente com a amiga e também jornalista Lúcia Schmidt Araújo, organizamos um evento sobre Meio Ambiente, para o Sindicato dos Engenheiros de Juiz de Fora. Entre os conferencistas, constava o geógrafo, professor e ambientalista Aziz Ab’Saber, uma das pessoas mais fascinantes que tive o privilégio de conhecer. Ao chegar na cidade, o acompanhamos para uma entrevista na então Rede Globo de Televisão (atual TV Integração).

No caminho, fomos conversando com ele, desfrutando de sua inteligência, e ele nos disse que havia sobrevoado a Zona da Mata mineira. Estava ainda impressionado com a decadência da região, com a devastação de suas terras pela pecuária leiteira, assim como por outras atividades econômicas predatórias. Sugeriu que a região deveria reencontrar sua vocação. Na ocasião, citou a verve cultural da vizinha Cataguases.

Sempre que viajo pela região, recordo-me das palavras de Aziz Ab’Saber.  Ao pensar em Leopoldina especificamente, cidade onde sou professora na área de Ciências Sociais e vice-diretora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), minha crença é de que sua vocação é a Educação.  Isso porque a “Atenas” mineira tem hoje uma significativa rede pública e privada de ensino, com 12 escolas estaduais, 31 escolas municipais (incluindo pré-escolas e creches), uma universidade estadual com um curso de licenciatura em Pedagogia e um curso à distância de Administração Pública. Mais do que isso,  com um enorme potencial para expandir sua área de atuação, o que depende, sobremaneira, da aquisição de uma sede própria.

Leopoldina possui, ainda, 19 escolas privadas, dentre elas duas escolas confessionais, uma católica e outra metodista, e duas instituições particulares de ensino superior.  Está instalado aqui o CEFET, que oferece quatro cursos técnicos, dois cursos de graduação, um mestrado profissional, além de três cursos técnicos EaD.  A cidade tem o privilégio de possuir o Conservatório Estadual de Música Lia Botelho, um dos maiores de Minas Gerais, o que é motivo de orgulho para leopoldinenses.  

Recordo-me também de que o avô de meu saudoso marido, Luiz Antônio Costa Moreira, “Seu” Pedro Costa, diplomou-se em Odontologia, pelas minhas contas no início do século XX, numa faculdade que funcionava no município. Para além da inequívoca vocação para a Educação, Leopoldina tem tradição em ensino, inclusive de nível superior.

Levar à cabo essa vocação depende, acima de tudo, de vontade política e, mais do que isso, de uma visão de que o ensino atrai pessoas de fora, as quais precisam de um lugar para morar, precisam comer, enfim, precisam consumir, o que é muito positivo para a economia local. Em tempos de desvalorização da Educação, retomar ou mesmo reforçar essa vocação pode ser um diferencial enorme para uma administração municipal que já sinalizou está disposta a dar essa guinada, promovendo com afinco o que há de mais relevante em uma sociedade.

A Educação abre portas não somente para quem dela se beneficia diretamente, mas também para aqueles que corroboram para sua implementação. Afinal, nos dizeres do educador Antônio Gomes Lacerda, “Educação não tem preço, mas sua falta tem custo”. E o custo é alto, traduzindo-se em marginalidade, violência, tráfico de drogas, mão de obra sem qualificação, trabalho precarizado...
 
(*) Jornalista, Professora e Vice-diretora da UEMG/Unidade Leopoldina
 
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