Durante quase três anos, entre 1968 e 1971, trabalhei na empresa Distribuidora Zona da Mata de Bebidas Ltda., concessionária da Brahma em Leopoldina, Além Paraíba e Muriaé.
Foi um ótimo período da minha vida, tendo como patrão o Sr. Leal (Francisco Fonseca de Souza Leal), ex-funcionário da empresa aérea Panair do Brasil e colegas de trabalho como o Carlos Roberto Noguéres na contabilidade; José Aluizio de Lacerda e Nilson Rubens de Souza Brito, vendedores; Edson Inácio, Messias, Getúlio, Joaquim, Geraldo, Expedito, estes nas movimentações e entrega de mercadorias, enfim, uma ótima e afinada turma.
Eu trabalhava na área de atendimento aos Clientes; alocação/recebimento de mercadorias nos caminhões de vendas externas; vendas no balcão; e, em ocasiões de “aperto” realizava entregas de mercadorias e chope.
As vendas de balcão, na maioria das vezes, restringiam-se aos atendimentos de pessoas físicas, brahmistas/brahmeiros, que não abriam mão de saborear as cervejas Brahma em seus lares.
Alguns apreciavam a Brahma Porter, cerveja escura de alta fermentação e concorrente da Caracu; outros a Brahma Bock, cerveja avermelhada com mais teor alcóolico que as demais e adequada aos tempos frios; quase todos apreciavam a Brahma Chopp, carro-chefe das vendas; porém, a “rainha”, a “top”, “ela”, sem dúvidas era a Brahma Extra, cerveja premium e a mais cara de todas, cujos sabor e primor, diziam, agradavam aos mais exigentes paladares.
Naquela época havia dois exigentes brahmistas que só consumiam Brahma Extra, adquiridas diretamente no balcão da Distribuidora e, por mim, atendidos:
- Luiz Rezende, funcionário do Banco do Brasil, e Walter “Pavio”, profissional do Jogo do Bicho.
Walter, creio, era solteiro, magro, pulseira e anel de ouro, relógio de luxo, bigode fino e aparado, calças de linho bem talhadas, cabelos bem penteados, sem ser um primor de beleza, era extremamente simpático e comunicativo, sempre reservando um sorriso ou um aceno àqueles que por ele passavam.
Não gostava do apelido “Pavio”; de brincadeirinha, “louvava” a mãe daqueles que assim a ele se dirigiam, e, certa feita, com relativa liberdade com ele, ousei perguntar:
- Walter, você é mesmo bicheiro?
- Ele responde: Não sou bicheiro, sou apontador de bicho e bicheiro é o meu patrão.
- Aliás, completou ele,
- Bicheiro e apontador de bicho é a mãe de quem fala e hoje, com minha experiência de vida, sou um referenciado CORRETOR ZOOLÓGICO.
O Corretor Zoológico faleceu em decorrência de um acidente automobilístico, porém sua risada ao dar-me aquela resposta ainda ecoa na minha memória.