02/11/2021 às 19h59min - Atualizada em 02/11/2021 às 19h59min

Censura?

Paulo Lúcio Carteirinho
Ainda falando do caso envolvendo o jogador de vôlei, Maurício Souza, além do debate de homofobia, que tratei no meu último artigo, tem também a questão de censura, tendo em vista que o jogador alega que está sofrendo censura por ter dado sua opinião.

Analisando a fundo esse debate, percebemos que quem cometeu censura foi justamente o jogador. Afinal, ele manifestou contrário a ter um superman bissexual. Ferindo assim a liberdade de expressão dos roteiristas e dos desenhistas, como se não pudessem fazer isso. Inclusive, chegou a insinuar que não devemos aceitar esse tipo de coisa, pois isso traria problemas para a sociedade: “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”.

Só falta agora os desenhistas e roteiristas antes de publicar a próxima edição da revista ter que enviar para análise do jogador o conteúdo, para ver se deve ou não ser publicado. Ao querer ditar o que pode ou não ser publicado, tentando proibir conteúdo relacionado a homossexualismo, Maurício Souza cometeu   ato de censura. Logo, não sei se ele pode querer usar a censura em sua defesa.  “O sujo falando do mal lavado”.

Deixando de lado a censura cometida pelo jogador, entro na questão da sua demissão. Ele, que foi demitido do Tênis Clube após pressão dos patrocinadores, que ameaçaram retirar patrocínio do time caso ele continuasse na equipe. O que abriu brechas para o jogador, que até então defendia a censura, agora criticar a censura. Como diz a expressão: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

Não sei quais empresas patrocinam o time, muito menos quem são os donos delas, mas vamos supor que os donos dessas empresas sejam gays, tenham parentes gay, são defensores da causa LGBTQIA+ ou vêm como prejudicial para a empresa alguém que representa a marca deles tendo um discurso contra gay. Esses vão querer patrocinar um time que tem jogador que é contra gay?  Claro que não!

Foi justamente isso que aconteceu. Empresários que não concordam com a opinião do jogador, que carrega a marca deles, resolveram não patrocinar time do qual ele faz parte. De modo proteger a marca e nome de suas empresas.

Costumo dizer que não existe ninguém imparcial. Todo mundo tem um gosto musical, um time de futebol, uma religião, um tipo de comida preferida...Um católico, por exemplo, vai fazer doação a Igreja Católica ao invés de pagar dízimo para uma Igreja Evangélica.  Um flamenguista vai patrocinar o time do Flamengo e não outro time, como ocorre com a CREFISA, que tem como proprietária uma palmeirense, que por causa disso patrocina o time do Palmeiras. O diretor da UNIMED é tricolor e por isso a empresa patrocina o Fluminense.

Quem apoia a causa LGBTQIA+ ou simplesmente discorda de opinião contra a homossexualidade  jamais vai patrocinar time que tem jogador que é contra gay. Cada um vai investir seu dinheiro onde lhe convém. Eu por exemplo sou flamenguista e não compro a camisa do Flamengo que tem a logomarca da HAVAN, que é um dos patrocinadores do Flamengo. Tendo em vista que a empresa é defensora da agenda liberal:  reformas trabalhista, previdência, administrativa; privatizações... Como sou contra a essa agenda liberal, por mais que goste do Flamengo, não uso uma camisa que tenha a logomarca da HAVAN. Em momento algum estou boicotando o Flamengo ou a HAVAN. Apenas não quero minha imagem atrelada a essa empresa. Respeito à diretoria do clube, mas não apoio.

Deixar de apoiar alguém, um time ou um evento por causa de um ocorrido é normal. Inclusive passei por isso em Leopoldina. Foi em 2020, quando fui um dos organizadores do bloco Cooper Beer, que sempre foi financiado por amigos e empresas, onde alguns deles são de direita, eleitores de Bolsonaro e não gostaram de um coro contra o presidente, que foi puxado por alguns poucos   participantes durante uma apresentação de uma banda. Um evento de mais de 10 horas de duração e um coro de 10 segundos acabou virando notícia mais que o bloco em si. 

Por mais que a gente da organização não tenha nada a ver com o ocorrido, como aconteceu com o bloco Bão Igual Bosta em 2018, onde ao passar em frente à casa do prefeito Zé Roberto alguns participantes puxaram uma música contra ele, por causa disso, muita gente deixou de apoiar os blocos. Lembro que na época teve gente que na hora chegou a ir embora por causa do coro. Outros não foram, mas vieram falar comigo que não gostaram e que por causa disso não apoiariam mais o bloco. Sem contar o discurso de ódio por parte de alguns bolsonaristas, onde uma mulher chegou a dizer nas redes sociais que pegaria um trabuco e dispararia contra o bloco, fazendo jorrar sangue. 

São esses os mesmos que dizem defender opinião (rsrs) e serem contra a censura. Claro, desde que vai de encontro a opinião deles. 

Se isso acontece em Leopoldina, por que não aconteceria no restante do Brasil? E sinceramente, não vejo como censura. Quem não quiser apoiar o Cooper Beer para mim não está boicotando o bloco. O patrocinador que não quiser patrocinar um clube por causa de um jogador, tendo em vista não querer a imagem de sua empresa atrelada a ele, está no seu direito.

Nem por isso está impedindo Maurício Souza de ter opinião, tanto que ele falou e continua falando. Agora, alguns que não concordam com ele vão também manifestar. Não é só ele que tem opinião, outros também têm. Do mesmo jeito que ele perdeu patrocinadores, pode ganhar. Inclusive, aumentou o número de seguidores que ele tinha no Instagran. Pode inclusive entrar para a política aproveitando dessa popularidade que ganhou, afinal, muita gente concorda com ele. Agora, deve respeitar quem não concorda também. Esses têm o direito de não apoiá-lo.  Viva a democracia!

 
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