25/03/2022 às 11h00min - Atualizada em 25/03/2022 às 11h00min

Como melhorar a economia em Leopoldina?

Paulo Lúcio Carteirinho
Feira de artesanato na praça Félix Martins (Foto: Luciano Baía Meneghite)
Estamos no ano eleitoral, o tema economia é o centro do debate. Muitos candidatos vão prometer um monte de soluções, assim como um culpar o outro pelo cenário atual, que está péssimo: taxa de desemprego altíssima, preço dos alimentos um absurdo, combustíveis olho da cara, lojas fechando, retorno da fome....
 
Deixando de lado essa questão eleitoral, gostaria de abordar o tema com outro olhar. Até porque, acho que o tema economia não pode se limitar a um debate político eleitoral, achando que um presidente e sua equipe econômica vão criar um plano econômico milagroso e que vai melhorar a economia do dia para noite.
 
Precisamos aprofundar nesse debate, afinal, o buraco é mais embaixo e estamos dentro dele. Trago esse tema para ser discutido dentro da cidade. O que pode ser feito para melhorar a economia em Leopoldina?
 
Primeiramente, precisamos entender como funciona o comércio em Leopoldina, que na sua grande maioria tem como base a revenda. Alguém compra algo fora da cidade e revende aqui: roupas, calçados, copos, garfos, colheres, brinquedos, remédios, móveis, eletrodomésticos, celulares, computador, alimentos, bebidas....
 
Isso também vale para o setor de serviços, conserto e manutenção, que também funciona como revenda. Afinal, na grande maioria das vezes o conserto acaba sendo a substituição de uma peça com defeito por uma nova ou usada, que nada mais é que revenda. É o caso de conserto de: celular, carro, máquina de lavar, geladeira, ar condicionado...
 
Até mesmo os alimentos que consumimos, boa parte é revenda. Tirando a feirinha, uns poucos açougues e alguns comércios que vendem de fato alimentos produzidos aqui, sendo algumas verduras, frutas, queijo, doces, carnes, cachaça. Os demais produtos vendidos nos grandes mercados e quitandas são revenda: arroz, feijão, macarrão, carne, biscoitos, doces, cerveja, refrigerante, frutas, legumes...
 
Como podem ver, a base da nossa economia é a revenda. Acontece que esse mercado vem mudando ao longo do tempo, tendo em vista o surgimento do comércio virtual: venda pela internet; que permite o consumidor comprar o que quiser, em qualquer lugar do Brasil e até mesmo do exterior, sem sair de casa.
 
Boa parte da população está preferindo comprar pela internet ao invés do comércio local. Por vários motivos: atendimento, horário (24h), variedade, preço, entrega em casa...
 
Para terem noção do crescimento do comércio virtual, cito o lucro dos Correios no ano passado, que foi de R$ 3,7 bilhões. Mais que o dobro do ano anterior (2020), que foi de R$ 1,5 bilhão. Quem passa em frente aos Correios de Leopoldina deve ter notado o aumento da frota de carro e moto. Vale destacar que não é somente os Correios que realizam entrega, várias outras empresas atuam na cidade: Jadelog, Mercado Livre, Shopee, HDL, FEDEX... Milhares de produtos são entregues diariamente na cidade. Todos comprados e produzidos fora da cidade.
 
Esse é o cenário da nossa economia e tende a aumentar. Cada vez mais as pessoas vão comprar pela internet e aplicativos, sendo direto com fornecedores ou com menos revendedores. A revenda da revenda tende a diminuir.  Com isso, muitos empresários que trabalham com revenda vão se tornar obsoletos. Não vão deixar de existir, mas venderão cada vez menos.
 
Nossos governantes e empresários têm que se atentar para essa realidade. Se não entenderem a lógica do mercado, a mudança do comércio físico pelo virtual, verão os comércios cada vez mais vazios e fechando. 
 
Muita coisa pode ser feita. Alguns já perceberam que é preciso inovar. Muitos já começam a utilizar as redes sociais para divulgar seus produtos e vendas. Recebo diariamente no meu Whatsapp encarte do mercado. Vejo no meu Instagran e Facebook algumas publicações de produtos das lojas da cidade. Esse é o primeiro passo. Mas é preciso muito mais que algumas propagandas midiáticas.  
 
Alguns viram que é preciso ir além da revenda, criando seu próprio produto, vendendo tanto no comércio interno como para fora da cidade. Como faz: Sol e Neve,  APA, LAC, Witler Drums, Macaúba, Cervejaria 032....
 
Algumas cidades foram além, é o caso de Ubá (móveis), Itamarati (biscoitos), Astolfo Dutra e Dona Eusébia (mudas) apostaram em algumas atividades econômicas específicas, se transformando em polos,  com isso tornaram referência. Leopoldina ainda não se encontrou nesse mercado.
 
Falando no comércio interno, outra boa alternativa é investir na agricultura familiar, como faz Cataguases, que tem um excelente Mercado Produtor, que funciona todos os dias. Em Leopoldina notamos a carência nessa área, nossos produtores estão jogados na rua, vendendo em feiras improvisadas, em alguns dias da semana, muitas das vezes só na parte da manhã.  Muitos inclusive deixam de produzir mais com receio de não conseguir vender.
 
No tocante ao artesanato, percebo uma melhora no setor. Além da tradicional feira que acontece todos os sábados, agora com cara nova, na Praça Felix Martins, com direito a música ao vivo, o prefeito fala em criar lojas na rodoviária voltadas para esse fim.
 
Ainda falando no comércio interno, dessa vez serviço, outro exemplo a seguir é a criação do nosso próprio aplicativo Uber, como vêm fazendo muitas cidades, onde o dinheiro fica todo na cidade, além de baratear o serviço e garantir um repasse maior para os motoristas, que hoje vêem o dinheiro indo para fora da cidade, ficando com pessoas que nem sabem onde fica Leopoldina.
 
Podemos ir além, criando uma moeda própria, como vem fazendo várias cidades, inclusive cheguei a apresentar um projeto nesse sentido em Cataguases, mas não foi levado adiante. Mais para a frente escreverei um texto explicando melhor essa ideia, que não é minha, como disse, existe em várias cidades e dá muito certo.
 
Podemos criar também o Mercado Virtual, contendo um catálogo com: lojas, produtos, serviços... que existem na cidade. Muitos hoje deixam de comprar na cidade pois não sabem o que vendem por aqui. Entre sair nas ruas tentando achar o que quer comprar, muitos preferem ir direito na internet.
 
Não poderia deixar de citar a questão da reutilização dos resíduos. Realização da coleta seletiva, que além de ser ótimo para o meio ambiente, é uma forma de criação de emprego e renda. Deixamos de arrecadar muito dinheiro destinando produtos recicláveis no lixo. Precisamos criar nas pessoas uma consciência ambiental, de modo jogar no lixo de fato o que é lixo, separando o que pode ser reaproveitado.
 
Como podem ver, temos muitas formas de gerar empregos na cidade. Sem precisar de elegemos um presidente e esperar que ele faça o milagre da multiplicação dos empregos. Basta nossos governantes e empresários se atualizarem.
Link
Tags »
Leia Também »
Comentários »