15/04/2022 às 08h33min - Atualizada em 15/04/2022 às 08h33min

Jimmy, um norte-americano em Leopoldina-1967

Edson Gomes Santos
Àquela época o Rotary Clube promovia intercâmbios culturais internacionais, contemplando estudantes dos diversos países onde o clube atuava e Leopoldina foi escolhida para acolher um norte-americano.

O foco eram estudantes adolescentes que, através do intercâmbio, deslocavam-se dos seus países de origem para “vivenciar” outro país durante um ano, hospedando-se na residência de um dos rotarianos das cidades a eles destinadas e sem quaisquer custos para o beneficiado.

Muito atuante àquela época em Leopoldina, o Rotary local acolheu o jovem norte-americano James Robert Emerly ou Jimmy, como ele mesmo se nominava e gostava de ser chamado.

Ele hospedou-se na residência do Dr. Lélio Lara, na Rua Sete de Setembro, e logo foi se enturmando com os amigos do Lécio Lara, além de ser procurado por outras pessoas que desejavam “conhecer” e ver como eram americanos, até porque Jimmy apresentava o porte físico “americano”: alto, cabelos louros, olhos azuis, muito branco, rosto rosado, gestual e modo de andar sem a “ginga” brasileira, enfim, de longe já se percebia que ele era “de fora”.

Entrosado na turma do Lécio, claro que começaram a zoar com ele “ensinando” português a partir dos palavrões... que ele repetia com naturalidade, sem saber do que se tratava.

Havia aqueles que tentavam com ele se comunicar como o Grilo (Antonio Carlos Vieira), que, apontando para partes das roupas do Jimmy, dizia: calceichon, sapateichon, camiseichon, e Jimmy o corrigia, informando o nome de cada peça, em inglês.

Momentos “felizes” do Jimmy, antes de começar a entender um pouco de português, eram quando o professor de inglês, Hudson, o abordava para longos bate-papos, ocasiões em que Hudson o alertava sobre alguns termos em português – traduzindo-os para o inglês - que ele só deveria usar com a turma de amigos e, nunca, com pessoas estranhas.

Lá nos Estados Unidos como no Brasil, era proibido consumo de bebidas alcóolicas a menores de 18 anos e ele cumpria rigorosamente tal limitação, porém os da turma leopoldinense dele já haviam completado os 18 anos e consumiam umas cervejinhas... quando tinham alguns $$$.

Certo dia, por fim e após insistentes ofertas, Jimmy “cedeu à transgressão” e bebeu um copo de cerveja – o primeiro da sua vida -  sob aplausos da turma, no bar do Clube Leopoldina.

O fato mais marcante que presenciei do Jimmy foi, certo dia, na Praça do Ginásio, antes de ele “dominar” o idioma português, quando, chegando até ele um casal de namorados, Marcio, o nomorado, lhe pergunta num “inglês macarrônico”:

- Jimmy, já aprendeu a falar e entender nosso idioma?

- Yes, responde Jimmy,  fdp,  pqp,  vtnc, deixando o rosto do Marco vermelho de vergonha e sua namorada morrendo de rir daquele inusitado momento.

Do Jimmy, é claro, nunca mais soube dele, porém fica o registro de que um norte-americano morou e curtiu a hospitalidade leopoldinense, ainda que somente durante um ano.
 
 
         
 
       
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