27/04/2022 às 11h25min - Atualizada em 27/04/2022 às 11h25min

Essa Leopoldina que me acolheu!

Como não amar você, se é de você que guardo as melhores lembranças e a maior saudade?

Maria José Baia Meneghite
Antigo Coreto do parque Felix Martins (Fotografia do acervo do antigo espaço dos Anjos)
Nasci num lugarejo denominado Ribeirão Preto, um antigo quilombo bem próximo a Guidoval onde fui batizada. Ribeirão Preto, hoje uma próspera comunidade, já não era mais quilombo quando nasci, mas lá ainda moravam descendentes de escravos. Morei lá por um período, mas, logo fomos para Ubá e depois meu pai mudou-se para Leopoldina onde estou até hoje.

Leopoldina, terra de gente solidária e acolhedora. Abençoado pedaço de chão onde minha família encontrou o apoio necessário para prosseguir a jornada de manter todos os filhos. Nossa chegada coincidiu com a comemoração dos 100 anos de Leopoldina. Lembro-me perfeitamente de como a cidade se enfeitou para esse dia. Saímos da Rua das Palmeiras, hoje Emilia Levasseur Rocha  e fomos até a Praça Felix Martins  assistir ao desfile  da Banda de Fuzileiros  Navais.

Íamos eu e meu irmão Zé Mário, agarrados à saia de minha mãe com medo de ficarmos perdidos entre a multidão. Meu pai e minha mãe, carregavam no colo   os dois irmãos menores. A praça parecia iluminada pelo sol, tamanha era a quantidade de luzes instaladas nas árvores e no coreto. Fogos coloridos pipocavam! Foi uma festa linda. O coreto estava deslumbrante! Aquele coreto ainda e faz presente de vez em quando nos meus sonhos. Brinquei muito ali e na minha cabecinha de menina, o coreto era um castelo. Na verdade, ele se ainda estivesse no mesmo lugar, estaria enfeitando o sonho de muita gente pois era muito bonito. Pena que não souberam conservá-lo. Pena que mesmo sendo bonito, foi desmanchado e substituído por areia. Maldito progresso, destruidor de sonhos!

Outra lembrança desta cidade que eu amo é a Praça da Bandeira, com seu lago, seus canteiros bem cuidados e especialmente do jardineiro que montava guarda com ciúme de suas flores. Como eu queria que suas praças Leopoldina, tivessem jardineiros com aquele da Praça da Bandeira...Como você ficaria mais bonita se em todas as praças alguém defendesse e cuidasse das flores como ele cuidava! Apesar de sua vigilância, não conseguia impedir que algumas crianças entrassem naquele lago tão cobiçado. Eu fui uma dessas crianças que caiu no lago, enquanto andava de costas, soletrando para a coleguinha que ainda não estava alfabetizada o letreiro do Armazém Centenário, e aí, caímos as duas. Não preciso contar o que me esperou quando entrei em casa.... Doces recordações, tão doces como os picolés da Padaria Marino, do Tirisquei, o biscoito japonês, a cocada naquele tabuleiro de madeira. Sinto até hoje os cheiros e sabores da minha infância...

Poderia escrever mais, muito mais sobre nossa Leopoldina, sua gente, sua história e talvez o faça em outra ocasião. Hoje, entretanto, quero apenas agradecer a Deus ter permitido que eu vivesse aqui e desejar que o Senhor derrame suas bênçãos sobre esse pedacinho de chão que aprendi a amar e respeitar, e então volto a dizer: Ah Leopoldina, como não amar você, se é de você  que guardo as melhores lembranças e a maior saudade?
 
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