12/12/2014 às 17h33min - Atualizada em 12/12/2014 às 17h33min

A inflação da bexiga

Eu achava que os frentistas eram os caras mais ricos do mundo. Afinal, tiravam maços de dinheiro dos bolsos para contar o troco (Triste sina! Desde criança se aprende a confundir riqueza com dinheiro).  Meu pai me explicava que aquela grana toda não era do cidadão de macacão. Daquele latifúndio, tão somente uma pequena parte caberia a aquele homem...
− Como não?! Ta no bolso dele!  − Relutava este pequeno ser humano incauto.

− Ele recebe quando vende, ele mesmo, a gasolina que está naquela caixa grande!

Demorei algum tempo  para sentir que o mundo não era tão simples assim. Nem tudo era o que parecia ser...

Demorei outro tanto de tempo para começar a entender aquilo que, mais tarde, me disseram chamar capitalismo...

Quando eu ia ao mercado, lá pelos anos 90, ficava fascinado com outros sujeitos. Aqueles que marcavam o preço das mercadorias. Usavam uma máquina que batia produto por produto, deixando rapidamente o preço. Tinha um barulho que eu gostava muito e que pela minha inabilidade com onomatopéias não conseguirei reproduzir aqui. Na minha cabeça, a interação homem e máquina parecia atuar em prol de uma disputa heróica: marcar mais coisas em menos tempo. Quem conseguisse ganhava a brincadeira.
O objeto também me lembrava as armas dos super-heróis que eu via na extinta TV Manchete  − bem, ao menos para mim, parecia.

Toda vez que eu ia ao mercado queria ser e/ou fazer aquilo quando crescer. 

Uma vez tive a tentação de pegar uma daquelas que “dava sopa” em cima de uma prateleira para ver “qual era”. Peguei e usei em alguma outra coisa que estava por lá. Antes que eu tivesse o prazer de me dirigir a outra −  com rapidez e toda a destreza que exigem os movimentos dos super-heróis (quem assistiu o Ninja Jiraya sabe do que estou falando) −  minha mãe me repreendeu  e surpreendeu com um berro, que mais parecia uma sirene policial. Talvez ela só tenha chamado minha atenção de “canto de boca”. Mas para os tímidos, como eu, essas coisas parecem amplificadas...

Em segundos, voltei à realidade, sentindo o calor da “cara queimando” de vergonha...

Algum adulto, em tom debochado, tentou  estragar aquela viagem toda de criança. Acabou me contando que a corrida era outra: a da inflação!

O esforço dele, ainda bem, foi em vão. Vinha-me à cabeça uma bexiga de festa que ia inflando, inflando, inflando...
− Poxa vida! O que isso tem a ver com o cara marcando as coisas no mercado?!

O único mercado que eu conhecia era o super-mercado e a única economia que me importava era o escambo de figurinhas e minha “poupança” de bolinhas de gude...

 

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