Ronald Alvim
O ano era 1960.
Eu cursava o quarto ano de medicina na cidade do Rio de Janeiro.
No ano anterior, eu havia conhecido uma jovem que morava e estudava em Vitória, Espírito Santo, quando aconteceu o início de um namoro.
Por ela ter irmãos que moravam na Cidade Maravilhosa, nossos encontros foram bem mais cariocas do que capixabas.
Numa noite, fomos fazer um passeio em Copacabana e paramos num barzinho da Rua Bolívar, esquina com Domingos Ferreira, que oferecia mesas na calçada, protegidas por um toldo. Havia música ambiente, interpretada apenas por um pianista e uma cantora.
Ouvimos uma música que nos marcou: O amor e a rosa.
Naquela época, já era um pouco antiquado enviar flores para a pessoa amada. Eu quis, porém, dar uma de romântico e prometi a minha namorada que lhe enviaria uma rosa. Não seria um buquê, pois a música falava apenas em “a rosa”.
No dia seguinte, enviei para ela uma rosa acompanhada por um cartão onde escrevi: “ uma música, uma promessa, uma lembrança”.
No dia 15 de junho de 2013, cinquenta e três anos após o envio daquela rosa, enviei-lhe uma outra rosa, acompanhada por um outro cartão, onde escrevi:
“Ontem: uma música, uma promessa. Uma lembrança.
Hoje: uma união... de cinquenta anos.”
Quando cheguei em casa, a “encomenda” já havia sido entregue.
Ela veio ao meu encontro para agradecer a rosa recebida e segurava nas mãos os dois cartões recebidos.
Aquela atitude fez-me pensar na diferença entre “custo e valor”. A rosa foi comprada, teve um custo. Guardar em segredo um cartão por cinquenta e três anos não teve custo, mas valor, e o valor não tem preço.
Alguns valores como o amor, o perdão, a honestidade, a solidariedade, nunca terão um custo, pois jamais poderão ser comprados.
Feliz da criança que é educada aprendendo não o quanto custou o que conseguiu, mas o valor do que foi conseguido.