A vida é assim: quando temos tudo na mão nos acomodamos e, muitas vezes, não nos sentimos motivados a buscar novos desafios. Mas quando vivemos situações de aperto e que colocam em risco até mesmo as nossas vidas, começamos a nos mexer e criar alternativas pois o instinto de sobrevivência do homem, assim como de todos os animais, fala mais alto. Um dos técnicos da Sabesp em entrevista coletiva, informou sobre a possibilidade da região metropolitana de São Paulo ter fornecimento de água para a sua população em apenas dois dias por semana, ou seja, cinco dias por semana sem água na torneira! Imaginem agora no Rio de Janeiro, o carioca ficar sem água em pleno verão onde a sensação térmica passa quase todos os dias dos 40º C. Será que em São Paulo, por exemplo, nesta situação, a população ficará conformada com a redução drástica do fornecimento de água tratada ou partirá em busca de alternativas ? E o governo? Continuará apenas com as ações emergenciais para evitar uma catástrofe no abastecimento de água ou partirá para o investimento serio em ações permanentes na implantação de modelos eficientes e no desenvolvimento de novas tecnologias para o abastecimento?
As ações ligadas aos consumidores são claras: em primeiro lugar aumentar os seus reservatórios particulares com o objetivo de evitar que períodos de racionamento e de desabastecimento atinjam o cidadão de surpresa. Muitos, por não se precaverem ou não terem reservas adequadas, ficam sem água nas residências ate mesmo para saciar a sede. Mas, o mais importante é economizar e ter a consciência de que o tempo de fartura e esbanjamento acabou e a nova ordem é redução do consumo. Uso de torneiras econômicas, redutores de vazão nos chuveiros, reduzir o tempo dos banhos, escovar os dentes com a torneira fechada, não utilizar a água como vassoura na lavagem do quintal ou das calçadas dentre outros. Em sistemas residenciais mais avançados fazer a captação da água das chuvas armazenando em um reservatório exclusivo para uso no vaso sanitário, na lavagem do quintal e de veículos e irrigação de jardins.
Para os governos a situação é mais complexa pois o crescimento das cidades e a urbanização crescente tendem a reduzir as áreas de recarga de água que abastecem por longos períodos os reservatórios e interferem no ciclo hidrológico da região. Os gestores devem focar sua atenção não apenas na transferência de água entre setores (rios e represas), mas nas zonas de recarga hídrica localizadas dentro das bacias hidrográficas. Estas áreas foram comprometidas não apenas pelo processo de urbanização mas por processos passiveis de recuperação como o desmatamento para retirada de madeira e implantação de culturas agrícolas e pastagens, principalmente em áreas onde a alteração da paisagem não é permitida como as áreas de proteção permanente e a reserva legal. Parcerias com o produtor rural, fomentar de forma efetiva o programa produtor de água e o pagamento por serviços ambientais são passos fundamentais que os Estados e a União devem dar visando melhorar a oferta de água para a população, principalmente nos períodos de crise.