02/03/2015 às 17h58min - Atualizada em 02/03/2015 às 17h58min

GAZETA DE LESTE

A IMPRENSA EM LEOPOLDINA (MG) ENTRE 1879 E 1899 - XII

Luja Machado e Nilza Cantoni

Publicado no jornal Leopoldinense de 16 de janeiro de 2015

Hoje o trem de história traz o primeiro periódico da cidade que utilizou o título GAZETA e que foi a Gazeta de Leste, lançada em 05.10.1890. Um periódico que trazia no subtítulo a informação de que era Órgão Popular.

            De início é bom que se diga que a diferença entre o papel da gazeta e o do jornal não é claramente perceptível na imprensa de Leopoldina porque aqui os periódicos surgiram, como já foi dito em artigos anteriores, no último quartel do século XIX quando os conceitos já não eram tão estáticos. Mas de qualquer forma a Gazeta de Leste é um exemplo de periódico que se enquadraria no significado antigo de Gazeta, até porque especificava o recorte espacial ao qual se dedicaria.

Diga-se a este respeito que os estudiosos ensinam ser próprio das gazetas a inclusão, no nome do periódico, do lugar que seria objeto da publicação, enquanto jornais nem sempre o faziam.

            Outro aspecto importante é a relação do proprietário com a localidade, assim como com a sociedade local, porque isto pode ser determinante para a linha editorial. No caso da Gazeta de Leste o redator e proprietário, José de Moura Neves Filho, embora natural de Valença, era engenheiro municipal em Leopoldina, nomeado no final de 1890, conforme o próprio jornal noticiou na sua edição de 20.12.1890, onde ele aparece também como primeiro imediato de Juiz de Paz.

Ressalte-se que ele era casado com Ambrosina Cândida, filha de José Antônio de Oliveira Martins que foi Agente do Correio e gerente desta Gazeta. Ambrosina, por sua vez, era irmã de Ricardo José de Oliveira Martins que trabalhou em outra Gazeta da cidade, foi Agente do Correio e esteve envolvido num imbróglio com redatores de outros jornais de Leopoldina. O problema era relativo ao atraso na entrega de telegramas que os jornais recebiam habitualmente e nos quais baseavam suas colunas de notícias nacionais e internacionais.

            O editorial de lançamento, na edição de 05.10.1890, esclarece que a Gazeta de Leste estava “particularizada à parte oriental do Estado de Minas, [e tomaria] a defesa dessa rica e futurosa Zona”. Neste número foram publicadas notícias locais e nacionais (como uma que informa ter havido um duelo, no Rio de Janeiro entre dois jornalistas) destacando-se como novidade em relação aos outros jornais de Leopoldina o fato de publicar um Obituário. Além disto, este exemplar trazia ainda a transcrição do Decreto Federal sobre a secularização dos cemitérios, notas sociais, notícias internacionais, editais da justiça e uma lista de destinatários de cartas registradas de Leopoldina, provavelmente em razão do seu gerente ser Agente do Correio.

Na segunda edição da Gazeta de Leste chama a atenção um editorial sobre o suicídio de Arão Garcia de Mattos, no qual o redator manifesta-se contrário à posição da Igreja e de parte da imprensa, aquela por negar sepultamento ao suicida e esta por não colaborar quando se nega a noticiá-lo.

            O terceiro número mantém o editorial na primeira página. Entre as notícias nacionais selecionadas para comporem o espaço, duas deixam perceber que o fator idade chamou a atenção do redator, já que uma delas é relativa à passagem para a reforma de um general de apenas 47 anos e a outra destaca a longevidade de uma portuguesa falecida na capital federal aos 114 anos.

             O padrão da Gazeta de Leste se manteve na quarta edição, datada de 25.10.1890 e, portanto, mantendo a periodicidade semanal anunciada desde o primeiro número. E seguiu até a oitava, que foi uma edição especial em homenagem ao primeiro aniversário da Proclamação da República, mas trouxe notícias locais, nacionais, internacionais e anúncios classificados, como os outros jornais.      As demais edições encontradas, a partir da nona, não são subsequentes e estendem-se apenas até maio de 1891, não se sabendo ao certo quando a Gazeta de Leste parou de circular.

Sabe-se que a sua linha editorial foi sempre a mesma, contrariando o conceito de que ao redator de uma gazeta não cabia exibir seus conhecimentos ou opiniões, mas apenas divulgar notícias que selecionasse em periódicos de outros centros ou trazidos pelo telégrafo, como ensina Maria Beatriz Nizza da Silva, no artigo A Imprensa Periódica na Época Joanina, inserido na obra Livros Impressos: Retratos dos Setecentos e dos Oitocentos, organizada por Lúcia Maria Bastos P. das Neves.

Como registro final vale lembrar que a mesma autora ensina que assuntos relativos à literatura, comércio e artes eram próprios de jornais e não de gazetas. Mas que ao longo do tempo os redatores foram modificando a linha editorial até que, no final do século XIX, eram comuns as publicações que ostentavam o título de gazetas, mas se assemelhavam mais ao formato de jornais. Como é o caso da Gazeta de Leste que, entretanto, não perde o seu valor de fonte de consulta.

E assim se completa o vagão de hoje e o Trem de História coloca mais lenha na caldeira para seguir viagem. Na próxima estação ele recolherá o vagão do periódico “A Leopoldina”.

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