04/03/2015 às 16h13min - Atualizada em 04/03/2015 às 16h13min

19 – A VOZ DE THEBAS e O ARAME

A IMPRENSA EM LEOPOLDINA (MG) ENTRE 1879 E 1899 - XIV

Luja Machado e Nilza Cantoni

O título está a mencionar Tebas, distrito a que temos acesso passando pela Colônia Agrícola da Constança, lembrada no Dia Nacional do Imigrante Italiano em 21 de fevereiro. Distrito importante e que já foi sede do município de Leopoldina em tempos passados. Terras tebanas que, embora não tenham conhecido os trilhos da estrada de ferro, participam da história da imprensa em Leopoldina por ter ali circulado um dos periódicos que abordaremos neste texto.

O Trem de História de hoje recolhe dados para levar ao leitor duas publicações que circularam por pouco tempo, mas que merecem uma atenção especial: A Voz de Thebas e O Arame.

A Voz de Thebas parece ter circulado por apenas três anos e trazia no cabeçalho a informação de ser um “órgão republicano constitucional”. Foi lançado cinco anos após a Proclamação da República, seu slogan parecia indicar que pretendia diferenciar-se dos demais embora não se tenha conseguido determinar a que outro jornal pretendia contrapor-se. Porque, à exceção d’O Leopoldinense, é possível que os demais periódicos existentes nos anos anteriores não tenham sobrevivido ao primeiro ano de circulação. Além disto, durante o segundo ano d’A Voz foi fundada a Gazeta de Leopoldina, em páginas da qual foram publicadas respostas ácidas a acusações feitas pelo jornal de Tebas, em outubro de 1895.

Diferentemente dos jornais republicanos analisados por Nelson Werneck Sodré, em “A História da Imprensa no Brasil”, A Voz de Thebas parece ter servido apenas de veículo para manifestações virulentas de seu editor, Francisco Sequeros Teixeira, que era também proprietário da Photographia Moderna, estabelecida no centro de Leopoldina, na Rua da Estação nº 4. Pelas três únicas edições encontradas, todas pertencentes ao acervo do Arquivo Público Mineiro, pode-se apenas informar que publicaram editoriais arrebatados e aparentemente cifrados, não sendo o conteúdo compreensível por falta de dados esclarecedores. Além disso, apenas em uma das edições foi encontrado um único anúncio, o que remete a um possível patrocínio do próprio editor, apesar de indicação de preços de assinatura.

José César da Silva, em “Memória de um Tebano”, página 49, diz; “Há muito tempo, um aventureiro que se chamava Teixeira, podendo-se dizer que veio sem se saber de onde, imprimiu aqui um jornalzinho que tinha o nome de Voz de Tebas. O nome, na verdade, era mesmo bonito, mas de fato, devia ter o nome de Voz de Satanás, que nem merece aspas, pois era um verdadeiro pasquim que somente servia para difamar, arquitetar intrigas e provocar desordens”.

O segundo periódico, O Arame, apresenta algumas semelhanças com o de F. S. Teixeira. Lançado em 1899, foram localizadas 23 das 25 primeiras edições, sendo que a última encontrada parece ter sido a derradeira do jornal. De certa forma, O Arame e A Voz de Thebas assemelham-se aos pasquins que Nelson Sodré definiu como sendo de características específicas, não tendo nascido de desejos ou de deficiências dos jornalistas da época, mas da realidade circundante. Para este autor, os folhetos muitas vezes injuriosos surgiram quando as publicações existentes deixavam de observar e denunciar o que não estava funcionando a contento, assemelhando-se à imprensa áulica que, segundo ele mesmo, alugava penas “de alguns notórios jornalistas [...] desonra da classe que não pode por eles ser aferida”, com o intuito de publicar apenas o que agradasse ao poder instituído.

O Arame apareceu no momento em que O Leopoldinense circulava irregularmente, fazendo suspeitar que passasse por problemas financeiros após o corte das publicações oficiais. Este foi o provável motivo para o encerramento das atividades d’O Mediador no ano anterior e de outros mais que eram considerados de oposição. Coincidentemente, o período do início da carreira política de José Monteiro Ribeiro Junqueira que, naquele momento, trabalhava pelo sepultamento da liderança de oposição na região, representada pelo Senador Joaquim Antonio Dutra.

Esclareça-se que José Monteiro Ribeiro Junqueira era um dos sócios da Gazeta de Leopoldina e, segundo o site do Senado Federal, foi Presidente do Conselho Distrital em 1895, Deputado Estadual entre 1895 e 1900, Deputado Federal de 1903 a 1930, Deputado Constituinte 1933-34 e Senador de 1935 a 1937. Durante a deputança estadual foi, também, Agente Executivo do município de Leopoldina, assim como o fora seu opositor Joaquim Antônio Dutra.

Infelizmente restou, ainda, carga na plataforma da estação, mas o Trem de História precisa fazer uma pausa porque política é carregamento estafante. No próximo Jornal a viagem continuará. Até lá.

Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado no jornal Leopoldinense de 01 de março de 2015

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