18/04/2014 às 13h12min - Atualizada em 18/04/2014 às 13h12min

Natividade, o contador de “causos”

Leopoldina Anos 1960

Edson Gomes Santos
Não o conheci pessoalmente e não sei se seu nome era realmente Natividade ou se seria um apelido. O fato  é que ele existiu e seus “causos” e estórias faziam parte da Leopoldina daquele tempo. Parece-me que ele residia em bairro próximo da Praça da Bandeira.

Diziam que ele contava suas vivências, muitas delas fantásticas, inventadas ou, até, reais, e, sem esboçar quaisquer expressões faciais ou reações que pudessem desqualificar suas narrativas, tão logo as encerrava, sério e sem se despedir de nenhum dos “ouvintes”, dava-lhes suas costas e retirava-se sequer olhando para trás.

Ah! ...Se qualquer dos “ouvintes” lhe perguntasse se era verdade mesmo aquela narrativa, Natividade, em tais ocasiões, abria um precedente, voltava-se para aquele descrente e disparava: “Se você duvida, pergunta para meu FALECIDO compadre fulano de tal que ele te confirma” … virava-se e retomava seu rumo.

Lembro-me apenas de um “causo” que seria de autoria do Natividade, em que ele contava sobre uma de suas pescaria: “Num dia muito bonito e quente, saiu para pescar.   Vara de bambuí, linha, anzóis, iscas, odre com água, pão com mortadela, chapéu, botinas, bornal , enfim, com tudo pronto, pé na estrada.

Beira do rio, lá uma ou outra fisgada de um piau ou de um lambari, a fieira de peixes enchendo …e calor aumentando. Meio dia, ele resolve se dar um referesco. Despe camisa, calças e botina e os pendura num galho de árvore próximo. Ato seguinte, retira seu relógio, Mondaine, novinho, e o pendura em outro galho da árvore. 

Mergulha, nada, refresca-se e se prepara para o retorno. Roupa vestida, botinas calçadas, tralha de pesca ajeitada, caminhada de volta iniciada. Chega em casa e percebe que esquecera o relógio lá na galha da árvore.  Cansado, não se dispõe voltar para pegá-lo.  Amanhã pego, pensa.  Preguiça ?  ...Não sei.

Fato é que os dias, meses e anos se passaram, até que um dia ele  se lembra do seu Mondaine e volta lá para rever o local onde o havia perdido.  Lá chegando, ao lado da árvore já adulta, ele percebe um “tic-tac” de relógio.  Olha para cima e vê, funcionando e marcando a hora certinha, o seu Mondaine.  Só havia um probleminha, como a árvore crescera, ela foi “abraçando” o relógio, até ficar aparente só o mostrador. 

 “Aquela foi a   única ÁRVORE-RELÓGIO que ele havia visto em toda sua vida”, dizia ele.

É verdade? perguntam.  Duvida? Retruca Natividade.  “Pergunta pro meu FALECIDO compadre fulano de tal que ele confirma”.   Volta-se de costas, caminha pro seu rumo, e, aqui, fica registrada a existência do nosso “Forrest Gump” leopoldinense.

 
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