23/03/2015 às 13h31min - Atualizada em 23/03/2015 às 13h31min

Esse é o senhor Aristeu.

Senhor Aristeu é dono de uma empresa que cresceu muito nos últimos 10 anos. Ele é muito orgulhoso dos progressos do seu trabalho. Era garoto pobre, começou trabalhando de entregador numa venda de secos e molhados. Por isso se diz contra qualquer política social do governo. Vive aventando por aí que se ele “venceu”, sem a ajuda de ninguém, qualquer um pode e deve vencer.  

− É preciso aprender a pescar – diz ele.

Senhor Aristeu tem dois filhos gêmeos estudando em universidades públicas. Um deles faz intercâmbio na França financiado por um programa público e o outro se formará no final do ano.

Senhor Aristeu reclama que o Estado arrecada impostos demais, usa-os para “dar guarita a vagabundos” e acaba não contribuindo em nada para o desenvolvimento do país. Diz que seus funcionários andam rebeldes demais, não sabem mais o seu lugar.

− O bolsa-família estimula o sujeito não trabalhar. Dia desses, minha doméstica disse que não chegaria às 06h para servir o meu café. Veja o absurdo!

Senhor Aristeu pegou R$ 1,5 milhão de financiamento no BNDES para ampliar seus negócios. Precisa atender as encomendas do estaleiro próximo, que ampliou a produção.

Senhor Aristeu defende com unhas e dentes a livre concorrência.

− Ué, o governo deve dar liberdade para o empresário trabalhar. Somos nós que movemos o país.

Senhor Aristeu curtiu uma página nas redes sociais que reclama do preço dos bares, restaurantes e hotéis praticados no Rio de Janeiro.

Senhor Aristeu diz que a saída para os serviços públicos é a privatização.

− A saúde pública é uma vergonha! Veja o que fizeram com a Petrobras. Veja, veja, veja! Se não fossem as privatizações, estaríamos usando orelhão até hoje.

Senhor Aristeu movimenta duas ações na justiça. Uma contra uma operadora de telefone por cobrança abusiva e venda casada. A outra é contra o plano de saúde, que se recusou a liberar uma cirurgia para a esposa dele. Ele teve que pagar do próprio bolso para que ela não morresse e agora cobra:

− JUSTIÇA!! A saúde é um direito de todos.

Sr. Aristeu foi às ruas pedir o impeachment da presidente e o retorno dos militares. Ostentava um cartaz que dizia: “O outro só não roubou mais, porque não tem todos os dedos!”.

− Cansei desses comunistas! Isso daqui não é Cuba! Minha bandeira e verde e amarelo, não é vermelha! Na época dos generais, não tinha essa corrupção toda! Se eles não voltarem, pelo menos ficaremos com aquele que perdeu a eleição. Menino bom, está sempre aqui em Ipanema tomando uma comigo. Votei nele, eu admirava muito o avô.

Sr. Aristeu tinha um casal de vizinhos jornalistas, nos 70, adorava-os. Um dia entraram com uns caras estranhos em um carro preto e nunca mais voltaram. Até hoje ele acha que estavam devendo para agiotas.

Ah, por favor, alguém precisa explicar para ele como funciona a sucessão, em caso de impeachment, e o que é comunismo. É constrangedor quando ele fala isso em voz alta, na rua. Já tentei, mas ele sempre desconversa...

Senhor Aristeu está indignado com a violência urbana.

− As pessoas já não respeitam mais ninguém! Não há leis nesse país!

Um dos filhos de senhor Aristeu brigou na “balada”, na semana passada. Agrediu um rapaz que, sem querer, lhe entornou bebida. Com uma garrafada mandou o cara para o hospital com traumatismo craniano. Ao pagar a fiança esclareceu:

− Esses jovens... (risos). É coisa de menino...


                Senhor Aristeu, no mesmo dia em que pagou  a fiança do seu filho recebeu duas multas. Uma por excesso de velocidade e outra por trafegar no acostamento. Foi passar o feriado em Floripa e não agüentou esperar o engarrafamento.  Ainda saiu reclamando:

− Esse governo sempre arruma jeito de tirar dinheiro da gente. Odeio esses comunistas!  Ninguém agüenta esse país! – ainda bem que, dessa vez, não disse isso em público. Que vergonha...

Senhor Aristeu espumou ao ver o beijo gay na novela.

− Um acinte à família brasileira! Esses gays estão achando que o mundo é deles! Onde já se viu, duas senhoras?!

Agora ele compartilha incansavelmente posts raivosos de boicote à emissora do jornal que ele mais gosta de se “informar”.  “Boa noite”.

Senhor Aristeu só não contou para ninguém que sua aba preferida no site pornô que costuma frequentar nas madrugadas é a das “Lésbicas”.

Conhecem o senhor Aristeu?

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