30/04/2014 às 16h22min - Atualizada em 30/04/2014 às 16h22min

A maldição do Feijão Cru

A maldição do Feijão Cru

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A luta do jornal Leopoldinense para salvar a população de Leopoldina dos males causados pelo esgotão a céu aberto, apelidado de Feijão Podre, que serpenteia pela cidade distribuindo o mau cheiro e infectando os moradores, sobretudo crianças e adolescentes, é conhecida até pelas pedras e cachorros sem dono da cidade.

 Essa luta foi encampada pela Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Leopoldina que, no seu Inquérito Civil nº 003/2007, acusa e pede providências contra a inexistência de tratamento de esgoto sanitário no município. Nas mais de 400 páginas do inquérito, o promotor Sérgio Soares da Silveira entra com ação civil pública em que cita o então prefeito de Leopoldina, José Roberto de Oliveira, denunciando "as degradações ambientais" por falta do tratamento de esgoto que é livremente jogado no Feijão Cru.

 Nas folhas 12, o Promotor de Justiça reconhece a contribuição do jornal Leopoldinense que, além de relatar a degradação ambiental, traz dados sobre internações de crianças com menos de 5 anos, vítimas de infecções respiratórias e diarréias causadas pelo esgoto jogado no Feijão Cru.

 A esse respeito, um estudo divulgado dia 19 de março de 2014, pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, (CEBDS) que reúne 70 das grandes empresas brasileiras, em parceria com Trata Brasil, Saneamento e Saúde, lista alguns males causados pela falta de saneamento básico: afeta negativamente a economia por reduzir a produtividade do trabalhador; causa queda no aprendizado dos estudantes; afasta os turistas; aumenta a mortalidade infantil e diminui a longevidade da população.

 O relatório, "Benefícios econômicos da expansão do saneamento brasileiro" pode ser visto no link http://cebds.org.br. Édson Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, é taxativo ""Queremos mostrar que o saneamento traz também outras formas de riqueza, como a geração de trabalho, evolução do turismo, melhora na escolaridade e que a falta dele pode provocar uma crise de produtividade".

 Nas crianças de 0 a 5 anos os danos do esgoto a céu aberto, " são ainda maiores: são permanentes. Trata-se de doenças toxicológicas causadas pela contaminação por substâncias químicas vindas de causas e produtos diversos, tais como a lata de refrigerante, a lata de tinta, garrafas PET, óleo de cozinha, sacolas plásticas, entre outros objetos que são lançados diariamente nos rios e nos esgotos a céu aberto." A afirmação é do pediatra e professor da USP, Anthony Wong, uma autoridade no assunto.

 

A pergunta que fica é: Por que as crianças em particular e a população de Leopoldina em geral têm que sofrer essa maldição? Por doze anos o médico José Roberto de Oliveira, que até por profissão sabe dos males do esgoto não tratado, governou a cidade sem dar a mínima bola para o Feijão Cru que apodreceu mais. Agora, reconduzido pela população que também dá de ombros para as doenças, o prejuízo do aprendizado, enfim para o atraso do desenvolvimento da cidade causado pelo Feijão Cru, parece que Leopoldina vislumbra uma luzinha tênue no fim de um túnel fétido, empesteado pelo mau cheiro do Feijão Cru.

 

Por pouco, muito pouco, a verba federal para o saneamento do esgoto, parada na Caixa Econômica Federal desde o prefeito anterior, Bené Guedes, não é devolvida para o Ministério das Cidades. São milhões de reais à disposição do médico e prefeito José Roberto de Oliveira, que podem melhorar a vida e a saúde dos mais de 50 mil leopoldinenses.

 

É preciso que o cidadão leopoldinense pressione e cobre do prefeito para que essa omissão do poder público que se arrasta por décadas, tenha um fim, e o Feijão Cru, berço da cidade, não se transforme no seu túmulo.

Para encerrar, volto ao doutor Wong, um alerta tenebroso para pais e mães: salvem seus filhos. "Mas as crianças mais afetadas são aquelas que têm entre 0 e 5 anos e que ainda estão em fase de desenvolvimento corporal e do cérebro. Essa é a fase mais importante do ser humano em termos de ditar a qualidade de vida como adulto, incluindo também os nove meses de gestação da mãe. Essa é a fase mais crítica, ou seja, quando os órgãos estão se formando, pois eles estão extremamente sensíveis e suscetíveis a pequenas modificações ambientais ou de ingestão de substâncias. Um recém-nascido, fruto de uma mãe que vive em um ambiente inóspito, ou seja, um ambiente sem coleta e tratamento de esgoto, vai sentir muito mais a exposição a essas substâncias e poderá ter uma má formação cardíaca, sofrer de deficiência hepática e de problemas imunológicos".

O processo iniciado pelo Dr. Sergio Soares da Silveira, teve um final com o trânsito em julgado determinando um prazo até outubro de 2014 para que a Prefeitura pelo menos inicie as obras.

Com a palavra o doutor José Roberto!

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