14/07/2015 às 09h57min - Atualizada em 14/07/2015 às 09h57min

“NÉLSON: UM CAVAQUINHO ENTRE A FLOR E O ESPINHO”

          O que sempre intrigou as pessoas no MUNDO  DO  SAMBA  foi :  por que o codinome CAVAQUINHO , embora mestre no pequeno instrumento , se o compositor se apresentava , quase sempre , com VIOLÃO ? Assim também , com o codinome de VIOLA ,  PAULINHO  ,  que , em suas aparições ,  porta um  CAVAQUINHO . A verdade maravilhosa nessa permuta é que os dois instrumentos de corda e os dois compositores , em uma simbiose musical maravilhosa , ornamentam o RITMO , a HARMONIA  e  a MELODIA ,  demonstrando , em suas apresentações , a sonoridade divina do SAMBA .

       Hoje o espaço deste artigo está reservado para um simples desfile em VERDE  ROSA  nas composições de  NÉLSON  CAVAQUINHO ,  autor que contribuiu com suas PÉTALAS musicais  juntamente com  poetas como : CARTOLA , GUILHERME DE BRITO , CARLOS CACHAÇA , NELSON SARGENTO ,  GERALDO PEREIRA e outros bambas  , para embelezamento da ROSA  plantada no  VERDE jardim  harmonioso e melódico da  Estação Primeira de Mangueira .

        Nélson  Antônio da  Silva , mais conhecido como NÉLSON  CAVAQUINHO , cujo pai era contramestre da Banda da Polícia Militar, nasceu no bairro da  Tijuca , Rio de Janeiro , no dia 29 de outubro de 1911. Sendo de uma família de músicos , participava , com seu cavaquinho , aos domingos , das rodas de samba em sua casa , organizada pelo pai . Depois de muitas mudanças de endereço da família , foi fixar sua morada no Morro de Mangueira , onde conheceu outros compositores da Escola , somando com eles o verdadeiro  tesouro musical que é um destaque de beleza na MÚSICA POPULAR BRASILEIRA.

       Iniciaremos o desfile de suas pérolas musicais   com a mais preciosa obra de seu cancioneiro :                     “ A  FLOR  E  O  ESPINHO “  , composição criada junto com Guilherme de Brito e Alcides  Caminha . A canção versa sobre uma desilusão amorosa devido à incompatibilidade de sentimentos , representada , metaforicamente ,  pela FLOR e pelo ESPINHO.  [  “  /  Tire o seu sorriso do caminho  /  Que eu quero passar com a minha dor  /  Hoje pra você eu sou espinho /  Espinho não machuca flor  / Eu só errei  porque juntei minh’alma a sua / O sol não pode viver perto da lua  /  É no espelho que eu vejo a minha mágoa / E a minha dor e os meus olhos rasos d’água / Eu na sua vida já fui uma flor / Hoje sou espinho em seu amor / “ ]  .   Ainda em parceria com Guilherme de Brito , compuseram , apaixonadamente ,  uma  imensa declaração de amor pela Mangueira , escola de seus corações   :  “ FOLHAS  SECAS “   [ /  “Quando eu piso em folhas secas /  Caídas de uma mangueira  /  Penso na minha escola /  E nos poetas da minha estação primeira /  Não sei quantas vezes  /  Subi o morro cantando / Mesmo com o sol me queimando  / E assim vou me acabando /“ ] .                 Não  poderíamos  deixar de apresentar a composição que leva no tema uma verdadeira mensagem  :                      “   reconhecimento e  valor nos sucessos das pessoas enquanto vivas “ . Ainda com o grande parceiro Guilherme de Brito, compuseram :  “ QUANDO  EU  ME  CHAMAR  SAUDADE “ . [  “  /  Sei que amanhã / Quando eu morrer /  Os meus amigos vão dizer / Que eu tinha bom coração / Alguns até hão de chorar / E querendo me homenagear / Fazendo de ouro um violão /  Mas depois que o tempo passar  / Sei que ninguém vai se lembrar / Que eu fui embora / Por isso é que eu penso assim / Se alguém quiser fazer por mim / Que faça agora. / Me dê as flores em vida / O carinho / A mão amiga / Para aliviar meus ais / Depois que eu me chamar saudade / Não preciso de vaidade / Quero preces e nada mais  /  “ ] .  “ PALHAÇO “, em parceria com Oswaldo Martins e Washington Fernandes ,  foi a composição motivadora para o aprofundamento da polêmica musical sobre o relacionamento entre Herivelto Martins e Dalva de Oliveira em uma simples alusão a ele que , em início de sua carreira , fora palhaço de circo. Dalva deu um molho irônico e especial na interpretação  da letra na canção .   [ “   /  Sei que é doloroso um palhaço /  Se afastar do palco por alguém  /  Volta, que a platéia te declama  /  Por que choras , palhaço  / Por alguém que não te ama ./  Enxuga os teus olhos e me dá um abraço / Não te esqueças que és um palhaço / Faz a plateia gargalhar / Um palhaço não deve chorar  /  “  ] .  A preocupação de Nélson em extirpar do mundo a MALDADE  e fazer retornar aos corações das pessoas o AMOR , está evidenciada em  “ JUÍZO  FINAL “ , criação   em parceria com Elcio Soares .   [  “ /  O sol ... há de brilhar mais uma vez  / A luz ... há de chegar aos corações  /  Do mal será queimada a semente / E o amor... será eterno novamente . / É  o juízo  final , a história   do bem  e  do mal /  Quero ter olhos pra ver , a maldade desaparecer /  “ ] .  Embora não deixando transparecer , Nélson sempre se preocupou com a fugacidade do tempo , porque a velhice o apavorava . Junto com Augusto Garcez  e Ary Monteiro compuseram “  RUGAS  “ . [  “  /  Se eu for pensar muito na vida / Morro cedo , amor / Meu peito é forte /  Nele tenho acumulado tanta dor / . As rugas fizeram residência no meu rosto  /  Não choro pra ninguém /  Me ver sofrer de desgosto /. Eu que sempre soube / Esconder a minha mágoa/  Nunca ninguém me viu / Com os olhos rasos d’água / Finjo-me alegre / Pro meu pranto ninguém ver  / Feliz daquele que sabe sofrer /  . “ ]  . Ainda reconhecendo a realidade da perda de uma  mocidade maravilhosa e com a aproximação da velhice , o que muito o entristece , deixa transparecer uma tristeza na canção :  “  DEGRAU  DA  VIDA  “ .   [ “ /  Sei que estou / No último degrau da vida , meu amor  , / Já estou envelhecido , acabado / Por isso muito eu tenho chorado / Eu não posso / Esquecer o meu passado / Foram-se os meus vinte anos de idade / Já vai muito longe/ A minha mocidade  / Sinto uma lágrima rolar sobre meu rosto / É tão grande o meu desgosto / “ ] .  Nelson e Amâncio  Cardoso criaram , em linhas melódicas ,  um verdadeiro retrato de quem sofre de solidão na canção :   “ LUZ  NEGRA “.  [  “  /  Sempre só / Eu vivo procurando alguém / Que sofre como eu também  /  E não consigo achar ninguém / . Sempre só  /  E a vida vai seguindo assim / Não tenho quem tem dó de mim / Estou chegando ao fim / .  A luz negra de um destino cruel / Ilumina um teatro sem cor  /  Onde estou desempenhando um papel  /  De palhaço do amor /  “ ] .    Nelson não se esqueceu de exaltar o valor dos poetas de sua Escola de Samba  , demonstrando , em suas linhas musicais  , uma possível perda de um dos compositores da Mangueira e o profundo sentimento de todos componentes da Agremiação . Mais uma vez com seu parceiro Guilherme de Brito criaram a relíquia : “ PRANTO DO POETA “. [  “  /  Em  Mangueira / Quando morre um poeta / Todos choram / Vivo tranquilo em Mangueira , porque  / Sei que alguém há de chorar quando eu morrer /. Mas o pranto de Mangueira é tão diferente / É um pranto sem lenço / Que alegra a gente / Hei de ter um alguém / Pra chorar por mim  / Através de um pandeiro e de um tamborim / . “ ]  . Sobre o tema traição , Nélson , muito motivado ,  compõe uma canção, criando uma sequência cênica fictícia ,  no momento  do encontro com um amigo que o traíra e comunicava o ato da separação através da  NOTÍCIA .  [ “ /  Já sei a notícia que vens me trazer / Os teus olhos só faltam dizer / O melhor é eu me convencer / Guardei até onde eu pude guardar / O cigarro deixado em meu quarto / É a marca que fumas confessa a verdade / Não deves negar / Amigo como eu jamais encontrarás / Só desejo que vivas em paz / Com aquela / Que manchou meu nome / Vingança , meu amigo , eu não quero vingança / Os meus cabelos brancos / Me obrigam a perdoar uma criança / “ ] .  O período  de carnaval sempre foi caracterizado como um momento temporário de separação entre os casais , para curtirem o “ Reinado de Momo “ , com retorno ao lar na quarta-feira de cinzas. Diante de sua bela inspiração , Nélson criou          “ VOU  PARTIR  “ [  “ /  Vou partir não sei se voltarei .../ Tu não me queiras mal / Hoje é carnaval . / Partirei para bem longe / Não precisas te preocupar / Só voltarei pra casa / Quando o carnaval acabar .... / “ ] .

         Para encerrar esta pequena amostra da galeria musical de NÉLSON CAVAQUINHO e outros compositores , selecionamos  a canção  “ MINHA ALEGRIA “ ,  em parceria com Guilherme de Brito  , como compensação a todas as decepções e sofrimentos amorosos desfilados nos temas poéticos do autor . [  “  /  Graças a Deus , minha vida mudou , / Quem me viu , quem me vê / A tristeza acabou . / Contigo aprendi a sorrir / Escondeste o pranto de quem sofreu tanto  / Organizaste uma festa em mim  / É por isso que eu canto assim  /  lalaraia laralaia/................////    “ ] .

      O imenso repertório de NELSON CAVAQUINHO não nos permitiu desfilar outras maravilhosas canções , devido à limitação espacial do nosso artigo , entretanto  fizemos uma  seleção cuidadosa das músicas  mais populares , para que nossos leitores identificassem   , em cada canção , as linhas melódicas e as mensagens poéticas em suas letras , entoando seus cantos e melodias de cada música .

      A  grande satisfação dos AMANTES DA  BOA MÚSICA  é saber que parte da felicidade está implícita nas linhas poéticas preservadas nas composições da MÚSICA POPULAR BRASILEIRA .

WALDEMAR  PEDRO  ANTONIO          E-MAIL   [email protected]  

 

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