07/08/2015 às 15h49min - Atualizada em 07/08/2015 às 15h49min

Os descaminhos do segundo governo Dilma

Durante as eleições do ano passado, sob clima de intensa polaridade, dizia eu para alguns amigos próximos que o novo governo Dilma teria que escolher entre dois caminhos. O primeiro seria o das lutas, que impulsionado sob aquela base popular e sindical que estava nas ruas, deveria fortalecer a política distributiva de renda e finalmente começar a cavar mudanças estruturais na divisão de riquezas e na transformação estrutural da economia brasileira. O segundo seria o da acomodação, que fatalmente o levaria a derrocada. Ora, todos sabem que a ganância dos piores setores da política brasileira é um saco sem fundo. Os achaques (palavra da moda desde Cid Gomes e seu rompante de Brizola), ou chantagens, não têm limites. Ademais, ceder às pressões dessa base fisiológica no Congresso implicaria em uma rejeição por parte daqueles que votaram em Dilma esperando uma agenda de esquerda, ou antes disso, rejeitaram Aécio e seu "choque de gestão".

O governo escolheu o segundo caminho, terceirizou o comando da economia, entregando a pasta da fazenda aos banqueiros. Assim, deu um banho de água fria em nós progressistas ou esquerdistas e de pronto já começou por fazer aquilo que condenou nas outras candidaturas. Aumentou e continua aumentando a taxa básica de juros, cortou recursos da educação, da saúde e de seus programas sociais com uma ortodoxa política de austeridade. Tudo isso sem ao menos tentar atingir os setores mais abastados, para que contribuíssem com sua parcela nesse ambiente de retração da economia. O cenário atual confirma o que digo: os bancos continuam nadando de braçada em seus lucros. Enquanto os trabalhadores assistem sua renda encolher aos poucos. Assim Dilma conseguiu desagradar a todos!

Nessa, cresceu o PMDB, que projetou o Cunha e suas pautas absurdas. Sem base de apoio e com parlamentares perdidos o PT, a exceção das pautas da terceirização e da redução da maioridade penal, não ofereceu grandes resistências. Daí Dilma terceirizou a política, a entregou ao Temer. Foi-se ladeira abaixo, se abriu mão de governar para garantir a “governabilidade”.

Como não existe espaço vazio no poder, logo correram muitos para ocupá-lo. Setores golpistas do PMDB e o PSDB já tomam suas posições.

E o PT? Continua com um discurso risível e com uma posição acuada, parado olhando. O programa de TV de ontem foi a mesma balela de sempre, embora com cores mais carregadas, aquela mesma receita vencida, com novo "design". Não, os trabalhadores não podem engolir um ajuste que só existe para eles, principalmente quando vem do Partido dos Trabalhadores. Quanto a isso, não há defesa. Sem nenhuma pauta propositiva, duvido que sairão de suas casa para defender o indefensável. Ah, dirão alguns: mas se trata de defender a democracia, a manutenção do que foi decidido nas urnas, pra não falar no provável subseqüente atropelo de muitos direitos conquistados. Sim, também penso assim. Mas acho pouco provável que parte significativa da população leia a situação dessa forma. Pelo que vejo por aí, não só nas ruas, mas também nas pesquisas de opinião, tem muita gente esperando milagre de santo do pau oco.

Muitos dizem que não há um cenário legal para a queda de Dilma. Na minha opinião, basta criá-lo e poucos questionarão e isso os golpistas são historicamente capazes de fazer. Com uma grande rejeição popular; com o apoio dos grandes grupos de mídia, que ajudam a alimentar o clima sombrio e de péssimas expectativas; com o apoio de setores da Polícia, Judiciário e Ministério Público; fica menos complicado atropelar as instituições.

Desculpem-me, mas em um país cujo porte de desinfetante em protesto dá cadeia e um helicóptero com 450 kg de cocaína não, eu não consigo acreditar tanto em qualquer tipo de segurança jurídica.

 

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