10/08/2015 às 08h16min - Atualizada em 13/08/2015 às 22h16min

“ASA BRANCA PLANA SOBRE AS MÚSICAS DE GONZAGÃO”

(com efetiva participação de Humberto Teixeira)

Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

O CANTINHO MUSICAL   pintará em cores foscas e secas a CAATINGA NORDESTINA  com um magnífico pincel  sonoro  cedido pelo REI  DO  BAIÃO  :  LUIZ   GONZAGA  DO  NASCIMENTO e seu parceiro HUMBERTO TEIXEIRA .  Nas poéticas palavras do próprio  GONZAGÃO , ele mesmo define sua biografia :  “  Meu nome é Luiz Gonzaga , não sei se sou fraco ou forte , só sei que , graças a Deus , té pra nascer tive sorte , apois  nasci em Pernambuco , famoso  Leão do Norte  . Nas terras do novo Exu , da fazenda Caiçara , em novecentos e doze , viu o mundo a minha cara . No dia de Santa Luzia , por isso é que sou Luiz , no mês que Cristo nasceu , por isso é que sou feliz . “

              Filho  de um grande sanfoneiro , iniciou sua carreira musical  nos aprendizados do pai , mestre em uma sanfona de oito baixos . Foi observando seu pai animando bailes e consertando velhas sanfonas  que lhe despertou a curiosidade por tal instrumento . Sua trajetória em início  de carreira foi  trabalhosa , fazendo de tudo para conseguir uns trocado . Depois de encontrar em Humberto  Teixeira , seu parceiro ideal nas composições , e dotado de uma  competência criativa ,  GONZAGÃO  fez da sanfona  porta- voz de suas  mensagens  musicais , tornado-se o exponencial das canções nordestinas .

             Encontra-se fixado na galeria da Música Popular Brasileira uma tela pintada com o panorama das regiões nordestinas  , criação de Luiz Gonzaga  e   Humberto Teixeira“   ASA  BRANCA  “ .  [ “ / Quando oiei a terra ardendo / Qual fogueira de São João / Eu perguntei a Deus do céu , ai / Por que tamanha judiação (bis) / Que braseiro , que fornaia / Nem um pé de prantação / Por farta d’água perdi meu gado / Morreu de sede meu alazão (bis) / Inté mesmo a asa branca / Bateu asa do sertão / Entonce eu disse adeus Rosinha / guarda consigo meu coração ( bis ) / Hoje longe muitas légua / Numa triste solidão / Espero a chuva caí de novo / Pra mim vorta pro meu sertão (bis) / Quando o verde dos teus oio / Se espaiar na prantação  / Eu te asseguro não chore não, viu / Que eu voltarei , viu / Meu coração ( bis ) / . “  ]  . Transpondo para o modo menor da melodia de Asa Branca ,  nota-se que letras e música podem ser trocadas sem problema. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira usaram  “  ASSUM  PRETO  “  em  lugar de  “  anum preto “ , nome de uma ave no nordeste com um lindo canto. Por ignorância , furando  os olhos  da ave , segundo a crença dos nordestinos , o pássaro cantará muito mais .   [ “ / Tudo em vorta é só beleza / Céu de abril e a mata em frô / Mas Assum Preto, cego dos óio / Num vendo a luz , ai , canta de dô (bis) / Tarvez pur ignorança  / Ou  mardade  das pió / Furaro   os  óio do Assum Preto / Pra ele assim , ai , cantá mió (bis) / Assum Preto veve sorto / Mas não pode avuá / Mil vez a sina de uma gaiola / Desde que o céu , ai , pudesse oiá / Assum Preto o meu cantá / É tão triste quanto o teu / Também roubaram o meu amô / Que era a luz , ai , dos óios meu . / “ ]  .   Música feita por encomenda de um político ,  para ilustrar sua campanha ao senado ,   “  PARAÍBA  “  teve uma interpretação errônea da expressão  “  muié  macho  “ , contrária à que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira pretendiam : mulher valente.  [  “  /  Quando a lama virou pedra / E mandacaru secou / Quando ribaçã de sede / Bateu asas e voou / Foi aí que eu vim’embora / Carregando a minha dor / Hoje eu mando um abraço / Pra ti , pequenina / Paraíba masculina / Muié macho , sim senhor ......./  “  ]  .   Humberto Teixeira transformou uma valsa em baião e ,  a dupla Humberto- Luiz  acostumada com os gêneros  essencialmente nordestinos , conseguiu sucesso mesmo sendo uma música mais urbana :   “  QUI  NEM  JILÓ  “ .   [ “ /  Se a gente lembra só por lembrar / O amor que a gente um dia perdeu / Saudade inté que assim é bom / Pro cabra se convencer / Que é feliz sem saber / Pois não sofreu / Porém se a gente vive a sonhar / Com alguém que se deseja rever / Saudade entonce  aí é ruim / Eu tiro isso por mim / Que vivo doido a sofrer/ Ai quem me dera voltar / Pros braços de meu xodó / Saudade assim faz roer / E amargar qui nem jiló / Mas ninguém pode dizer / Que me viu triste a chora / Saudade o meu remédio é cantar.  ( bis )  / .”  ]  .   Luiz Gonzaga sempre foi apegado às coisas de seu “ Pé de Serra “, sempre voltava a Exu , para rever os amigos e seu velho pai. Em parceria com Humberto Teixeira  , compuseram  “  NO  MEU  PÉ  DE  SERRA  “  [ “ / Lá no meu pé de serra / Deixei ficar meu coração / Ai ! Que saudades tenho / Eu vou voltar pro meu sertão / No meu roçado trabalhava todo dia / Mas no meu rancho tinha tudo o que queria / Lá se dançava quase toda quinta-feira / Sanfona não faltava e tome xóte a noite inteira / O xóte é bom / De se dançar / A gente gruda na cabocla sem soltar / Um passo lá / Um outro cá / Enquanto o fole tá tocando /tá gemendo, tá chorando / Tá fungando , reclamando sem parar /.” ]  . Gonzagão sempre teve muito respeito ao pai Januário e à sua sanfona de oito baixos .  Contrabalançado pela admiração que sente pelo filho GONZAGUINHA , incorpora na imagem de Januário e compõe ; “  RESPEITA  JANUÁRIO  “ [ “ / Quando eu voltei lá no sertão / Eu quis mangar de Januário / Com meu fole prateado / Só de baixo , cento e vinte, / Botão preto bem juntinho / Como nêgo empareado  / Mas antes de fazer bonito de passagem por Granito / Foram logo me dizendo : / De Taboca a Rancharia / De Salgueiro a Bodocó / Januário é o maior ! / E foi aí que me falou meio zangado o véio Jacó / Luiz , respeita Januário (bis) / Luiz , tu pode ser famoso / Mas seu pai é mais tinhoso / E com ele ninguém vai , Luiz / Luiz , respeita os oito baixo de teu pai (bis) /.....” ] . O ritmo do BAIÃO é típico para o arrasta pé , quando os dançarinos , empolgados , dão verdadeiro show no salão. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira compuseram  “  BAIÃO “ , como verdadeira aula de dança . Essa composição  e   “ PELO TELEFONE “   de  Donga , representam dois marcos dos mais importantes na  MPB .   [ “ / Eu vou mostrar pra vocês / Como se dança um baião / E quem quiser aprender / É favor prestar atenção / Morena chegue pra cá / Bem junto ao meu coração / Agora é só me seguir / Pois eu vou dançar o baião / Eu já dancei balanceio / Chamego , samba e xerém / Mas o baião tem um quê / Que as outras danças não têm / Quem quiser é só dizer / Pois eu com satisfação / Vou dançar cantando o baião /.......” / ]  .  “O  XOTE  DAS  MENINAS  “  retrata a transformação da infância para juventude em uma comparação com os fenômenos naturais e suas crendices  .  [ “ /  Mandacaru quando “ fulora “ na seca / E o sinal que a chuva chega no sertão / Toda menina que se enjoa da boneca / É sinal que o amor já chegou no coração / Meia comprida / Não quer mais sapato baixo / Vestido bem cintado / Não quer mais vestir timão / Ela só quer / Só pensa em namorar (bis) / De manhã cedo já ta pintada / Só vive suspirando , sonhando acordada / O pai leva ao “ dotô “ a filha adoentada / Não come nem estuda / Não dorme , não quer nada  / Ela só quer / Só pensa em namorar (bis)/.......]  .  Para armazenar na memória sua trajetória  musical , Luiz Gonzaga faz uma descrição de todas as viagens por ele feitas na canção  “  A  VIDA  DO  VIAJANTE  “  [ “ /  Minha vida é andar por este país / Pra ver se um dia descanso feliz / Guardando as recordações / Das terras por onde passei / Andando pelos sertões / E dos amigos que lá deixei / Chuva e sol / Poeira e carvão / Longe de casa / Sigo meu roteiro / Mais uma estação / E alegria no coração / ....... / “  ]  . Gonzagão sempre compôs temas com mescla de dançar  e a felicidade de estar nos braços de uma linda mulher , expressando um momento prazeroso de amor e sensualidade na canção “  VEM  MORENA  “  [ “ / Vem , morena , pros meus braços / Vem ,morena , vem dançar / Quero ver tu requebrando / Quero ver tu requebrar / Quero ver tu remexendo / Resfulego da sanfona / Inté o sol raiar  ( BIS )  / Esse teu fungado quente / Bem no pé do meu pescoço / Arrepia o corpo da gente / Faz o véio ficar moço / E o coração de repente / Bota o sangue em arvoroso  / Vem , morena , pros meus braços ( repetido )............. / Esse teu suor sagrado / É gostoso e tem sabor / Pois o teu corpo suado / Com esse cheiro de fulô / Tem um gosto temperado /  Do tempero do amor /........  “  ]  .  Ainda fissurado nos temas que envolvem a dança e a mulher , compõe “  CINTURA FINA “   [ “ /  Minha morena , venha pra cá / Pra dançar xote , se deita em meu cangote / E pode cochilar / Tu és muié pra homem  nenhum / Botar defeito por isso satisfeito / Com bom gosto vou dançar / Vem cá , cintura fina , cintura de pilão / Cintura de menina , vem cá meu coração /  ( BIS ) /.........” ]  .  Com uma criatividade muito  competente , Luiz Gonzaga compõe , através da unidade musical , bela canção  que é verdadeira  aula dos falares nordestinos , com uma precisão linguística perfeita  em  “  ABC  DO  SERTÃO  “ . [ “ Lá no meu sertão pro caboclo lê / Tem que aprender outro ABC / O jota é ji  e o éle é lê / O ésse é si , mas o erre / Tem nome de rê / Até o ypsilon lá é pissilon / O eme é mê  e o ene é nê  / O efe é fê  e o gê chama-se guê / Na escola é engraçado ouvir-se tanto Ê / A  ,  bê , cê  , dê / Fê , guê , lê  , me / Nê , pê , quê , rê / Tê , vê e Zê /  “ ]  .

Em 1951 , Luiz Gonzaga sofreu um grave acidente automobilístico na Via Dutra . Seus fãs e parentes oraram para seu  restabelecimento , pedindo que  voltasse  cantar e compor . Foi então que uma inspiração de ZÉ GONZAGA , seu irmão , homenageando a volta de LUIZ GONZAGA , O REI DO BAIÃO , compôs com José Amâncio  “  VIVA  O  REI  “  [ “ / Luiz Gonzaga não morreu / Nem a sanfona dele desapareceu / Seu automóvel na virada se quebrou / Seu zabumba se amassou / Mas Gonzaga não morreu / O Catamilho / Seu zabumbeiro  de fama / Danou se a cara na lama / ........... / Luiz , escuta esse baião / Quem ta cantando / Com a sanfona é teu irmão / Tá esperando todo povo brasileiro / O seu grande sanfoneiro / Com a cantiga do sertão / . “  ]  . A região Nordestina sempre foi o espaço privilegiado nos festejos de São  João , motivo bastante para Luiz Gonzaga e José Fernandes criarem  “  OLHA  PRO  CÉU  “ [ “ / Olha pro céu , meu amor ,/ Olha como ele está lindo / Olha pra aquele balão multicor / Como no céu vai sumindo / Foi numa noite igual a esta / Que tu me deste o coração / O céu estava assim em festa / Pois era noite de São João / “ ]  .

           O CANTINHO MUSICAL , diante dessa aquarela, verdadeiro retrato da Região Nordestina ,  pintada com tintas poéticas  por  LUIZ  GONZAGA , se curva em respeito à criatividade , à beleza , à autenticidade de toda obra desse maravilhoso  “  REI  DO  BAIÃO  “ !

                    O  ACERVO  DE GONZAÇÃO  É  UMA DAS SUSTENTAÇÕES   DA                                       

                        “ CULTURA   MUSICAL  NORDESTINA   “

 

WALDEMAR  PEDRO  ANTONIO                email  :     [email protected]

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