Minha sobrinha Laura chegou de São Paulo. Veio passar as férias de julho e a casa ganhou novo ritmo com as brincadeiras dela e da Luiza minha neta. Na hora do almoço, todos reunidos Laura me sai com esta: “sabe tia, eu gosto demais é desse seu feijão. Nem o da minha mãe é tão gostoso.” Não preciso dizer que adorei o elogio, afinal, qual cozinheira não gostaria?
Criança é mesmo uma coisa engraçada são sinceras e autênticas. Almoçamos e enquanto reunia todo o vasilhame do almoço fiquei a pensar nas minhas preferências quando criança, e a cabeça viajou por alguns sabores e cheiros da infância até que definitivamente parou no cheiro da maçã. Lembrei-me de meu pai,voltando das barraquinhas do mês de maio trazendo maçãs embrulhadas em papel azul escuro e assim que ele entrava em casa aquele cheirinho gostoso invadia a sala. Depois de consumidas nós guardávamos aqueles papéis e neles permanecia impregnado o cheirinho da maçã.
Pode parecer bobagem, saudosismo, sei lá o quê, mas é um cheiro que em mim desperta doces lembranças. Nos dias de hoje maçã é coisa que se encontra em qualquer quitanda de esquina embora nem de longe se pareça ou cheire como antes. Explico: As maçãs a que me refiro eram importadas da Argentina, não existia ainda a comercialização da nacional que hoje é tão comum e tão consumida. As argentinas eram caras e as crianças da minha época só as consumiam em ocasiões especiais.
Lembro-me perfeitamente de um garoto vizinho afirmar que adorava ficar doente pois o pai dele trazia maçãs, biscoitos etc... Chega a ser cômico mas naquela época tudo era diferente, inclusive os desejos e necessidades das pessoas.
Quanto às maçãs, ainda são vermelhas, suculentas e cheirosas.Mas já não cheiram como antes. Acredito que o uso indiscriminado de pesticidas tirou de frutas como ela aquele aroma inebriante que fez parte da minha infância e que até hoje faz com que eu consiga misturar lembranças com cheiros e sabores e fazer desta mistura uma salada de saudade.