29/12/2015 às 14h59min - Atualizada em 29/12/2015 às 14h59min

Samba que exalta temas sobre o próprio samba chama-se: METASSAMBA

O  CANTINHO  MUSICAL    muda o vetor de suas publicações sobre nossos compositores  e parte para o desenvolvimento de temas sobre as músicas do nosso cancioneiro .  Iniciaremos com a exaltação  dos sambas pelo samba .  Não tendo a pretensão  de ministrar uma aula , tomarei a liberdade de explicar  apenas para esclarecimento . Quando uma linguagem  é traduzida pela própria  linguagem ( É O CASO DE UM DICIONÁRIO )  , dá-se o nome de   METALINGUAGEM  ;  quando uma poesia desenvolve um tema sobre poesia , nomeia-se de METAPOESIA  OU  METAPOEMA  e , com toda licença que me permite o “ neologismo “ ,  quando um samba que é composto para exaltar em seu tema ,  o próprio samba , podemos chamá-lo  de  METASSAMBA  ,  porque é um conteúdo significativo  sobre ele mesmo   . O   SAMBA  é a mais expressiva linguagem musical do povo carioca . Atualmente   , toda a sua evolução  pertence a uma parcela da população  que , para executar  em  épocas passadas  o ritmo brasileiro , sofreu violências , perseguições  e preconceitos exclusivamente  pelo “ crime “  de cantar , tocar e dançar  esse mesmo  samba . Hoje , em  respeito à origem e à cultura musical , desfila pelos salões , pelas festividades , pelos bares  e pelos fundos de quintal  , sem nenhum problema , com o aval da nobreza ,  com isso , não permitindo a extinção desse ritmo maravilhoso  , às vezes até dando a ele uma nova estrutura . NÉLSON SARGENTO , grande compositor  da Estação Primeira de Mangueira , retrata , em seu metassamba ,  um tema que se coaduna com aquilo que fora exposto sobre a trajetória histórica do samba .   “   AGONIZA  MAS  NÃO  MORRE  “ .  
 
  [ “ /  Samba ,  / Agoniza mas não morre , / Alguém sempre te socorre , / Antes do suspiro derradeiro . / Samba ,  /  Negro , forte , destemido , / Foi duramente perseguido , / Na esquina , no botequim , no terreiro . / Samba , / Inocente , pé no chão , / A fidalguia do salão / te abraçou  , te envolveu  , / Mudaram toda tua estrutura , / Te impuseram outra cultura , / E você não percebeu  . / ( BIS ) / .

 

  Há na concepção das pessoas que , para compor um  samba ,  necessita-se de belos momentos da vida , lugares aprazíveis  , sentimentos de amor  , para brotar na memória do artista  uma forte inspiração que edifica uma bela canção . João Nogueira e Paulo César Pinheiro  desmitificam  o conceito de que para fazer samba precisa-se estar inspirado  e manifestam , neste “ metassamba “  ,   “   O  PODER  DA  CRIAÇÃO   “ .  
 
  [ “ /  Não , ninguém faz samba só porque prefere /  Força nenhuma no mundo interfere / Sobre o poder da criação / Não , não precisa se estar nem feliz nem aflito / Nem se refugiar em lugar mais bonito / Em busca da inspiração / Não , ela é uma luz que chega de repente / Com a rapidez de uma estrela cadente / Que acende a mente e o coração / É faz pensar que existe uma força maior que nos guia / Que está no ar / Bem no meio da noite  ou no claro do dia / Chega a nos angustiar /

 E o poeta se deixa levar por essa magia / E o verso vem vindo e vem vindo uma melodia / E o povo começa a cantar lá laia / Lá la laia laia / .  ]  .


   Luiz Bandeira   compôs  um SAMBA-EXALTAÇÃO  que faz uma perfeita descrição de tudo que envolve a execução do samba com suas características , demonstrado  uma beleza  que se identifica com todo cenário musical  dentro do compasso e da   “  CADÊNCIA  DO  SAMBA  “ .  
 
  [ “ /  Samba / Representa uma nação / Samba / orgulho da raça / Retrato de um povo / Que tem alma e coração ./ Que bonito é / Ver o samba no terreiro / Assistir a um batuqueiro em uma roda improvisar / Que bonito é / As mulatas requebrando , os tambores repicando / Uma escola a desfilar /Que bonito é /  Pela  noite enluarada , numa trova apaixonada / Um cantor desabafar / Que bonito é / Gafieira , salão nobre / Seja rico seja pobre / Toda gente a sambar / O samba é romance / O samba é fantasia /

O samba é sentimento / O samba é alegria / Bate que vai batendo a cadência boa que o samba tem / Bate que repicando o pandeiro vai tamborim também  / . “ ]  .  


Há nesta canção em uma bela personificação de  todo um sofrimento sentido,  metaforicamente ,  pelo samba , um  lamento  que  demonstra o próprio brasileiro renegando   suas raízes e  abandonando   totalmente um ritmo que é a nossa configuração . Todo comportamento de renegação é revitalizado por um chorinho bem executado  ,  reativando nosso gênero musical  que  Silas de Andrade , inteligentemente ,  chamou-o  de    “   BRASILEIRINHO  NO   SAMBA  “ [ “ / O samba / Andava meio abatido / Profundamente  sentido  / Com tudo que acontecia / Brasileiros / Renegando o próprio som / Que é bem pra lá de bom / Muito melhor de se ouvir / Mas finalmente isso passou  / A rapaziada sacou / Que era tudo um complô / E um  chorinho / Chamado Brasileirinho / Tocado no cavaquinho / Entrou no samba e sambou , e sambou ( BIS ) /  /Mas o samba  /  Já deu a volta por cima / Porque a vida nos ensina / A defender nosso chão / Um samba ritmado / Ou  sincopado / Deve ser sempre cantado / por toda uma geração / . “ ]  .  

Compositor de Juiz de  Fora , mais conhecido como  MAMÃO ,  Armando  Fernandes  , em um perfeito  processo comparativo entre o sentimento da dor de uma separação  e o samba  , associa o padecer de uma das partes do casal pelo rompimento  de uma relação , estruturando esta bela canção em uma visão semelhante  entre  a amargura  dolorosa  da perda  com os instrumentos   que  compartilham  na execução de um samba , tudo cristalizado na maravilhosa  voz de Clara Nunes  em   “ TRISTEZA  PÉ  NO  CHÃO “ . 
 
  [ “ /  Dei um aperto de saudade / No meu tamborim / Molhei o pano da cuíca / Com as minhas lágrimas / Dei um tempo de espera / Para marcação e cantei / A minha vida na avenida sem  empolgação / ( BIS ) /  Vai manter a tradição / Vai meu bloco tristeza e pé no chão / ( BIS ) /  Fiz o estandarte com as minhas mágoas / Usei como destaque tua falsidade / Do nosso desacerto fiz meu samba enredo / Do velho som da minha surda dividi meus versos /

 Vai manter a tradição / Vai meu bloco tristeza e pé no chão /  ( BIS ) / Nas platinelas do pandeiro coloquei surdina / Marquei  meu último ensaio em qualquer esquina / Manchei  o verde esperança de nossa bandeira /  Marquei o dia do desfile para quarta-feira / Vai manter a tradição / Vai meu bloco tristeza e pé no chão /( BIS )” ]  


Paulo césar Pinheiro e Wilson das Neves
   compuseram  letra e melodia   , demonstrando todo amor e dom ao ritmo  que se têm ao apreciar todas as modalidade do samba  com muito  respeito por quem  faz e fez parte da história do gênero que representa a musicalidade brasileira . “  O  SAMBA  É  MEU  DOM  “.   
 
  [ “ /  O samba é meu dom / Aprendi  bater samba ao compasso do meu coração / De quadra , de enredo , de rota na palma da mão /  De breque , de partido-alto e de samba-canção / O samba é meu dom / Aprendi a dançar samba  vendo o samba de pé no chão / No Império Serrano , a escola da minha paixão  / No terreiro , na rua , no bar , gafieira e salão / O samba é meu dom / Aprendi a cantar samba com quem dele faz profissão / Mário Reis , Vassourinha , Ataulfo , Ismael , Jamelão / Com Roberto Silva , Sinhô , Donga, Ciro e João ( Gilberto ) /


O samba é meu dom / Aprendi muito samba com quem sempre fez samba bom / Silas , Zinco , Aniceto , Anescar , Cachinê , Jaguarão / Zé-com-fome , Herivelto , Marçal , Mirabeau , Henricão / O samba é meu dom / É no samba que eu vivo , do samba é que eu ganho o meu pão / E é num samba que  eu  quero morrer de  baquetas na mão / Pois quem é de samba meu nome não esquece mais , não / . “ ]   .   

Com a maravilhosa e cristalina voz de ALCIONE   ,  foi composto um belo samba por Edson Gomes e Aloísio Silva , descrevendo ,  em  harmoniosa  cadência ,    os compromissos ,  o amor  e a herança  por  esse gênero musical  , esmiuçando a importância e os sentimentos  de  todos os instrumentais  utilizados na execução  autêntica  da canção , implorando para que  “  NÃO  DEIXE  O  SAMBA  MORRER  “ .  
 
  [ “ / Não deixe o samba morrer / Não deixe o samba acabar / O morro foi feito de samba / De samba pra gente sambar / Quando eu não puder  / Pisar mais na avenida  / Quando minhas pernas / Não puderem aguentar / Levar meu corpo / Junto com o meu samba / O meu anel de bamba / Entrego a quem mereça usar / Eu vou ficar / No meio do povo espiando / A Mangueira perdendo ou ganhando / Mais um carnaval / Antes de me despedir / Deixo ao sambista mais novo / O meu pedido final ... / 

Não deixe o samba morrer ........  / de samba pra gente sambar / Falaram que meu companheiro / Meu amigo surdo / Parece absurdo / Apanha por tudo / Ninguém canta samba sem ele apanhar / Não viram que seu companheiro / Amigo pandeiro / Também tira coco do mesmo coqueiro / E apanha sorrindo pro povo cantar / Pandeiro , não é absurdo mas é o meu nome / Não me chamo surdo mas é o meu nome / Pandeiro não come mas pode apanhar / Ao povo que vive / Na força do som brasileiro / Não é só o surdo / Nem só o pandeiro / Tem uma família sambando legal / Você , cantando , tocando e batendo na gente / Passando por tudo tão indiferente / Não conhece a dor de um instrumental / Batuqueiro , ê batuqueiro /  Cantando samba pode bater no pandeiro / ( BIS ) . “ ]  . 


Esta música busca refletir quem é verdadeiramente o divulgador e conservador do  samba . O morro com seu cenário musicado preserva o ritmo compartilhando junto a  seus moradores da alegria vivida e  expressada na    “  VOZ  DO  MORRO  “  
 
  [ “ / Eu sou o samba / A voz do povo sou eu mesmo sim senhor /  Quero mostrar ao mundo que tenho valor / Eu sou o rei do terreiro / Eu sou o samba / Sou natural aqui do Rio de Janeiro / Sou eu quem levo a alegria / Para milhões ( ai para milhões ) / De corações brasileiros  / Salve o samba , queremos samba / Quem está pedindo é a voz do povo de um país / Salve o samba , queremos samba / Essa melodia  , de um Brasil feliz / . “ ]  . 


 A magnífica sambista ,  DONA  IVONE  LARA ,  compôs uma  linda melodia onde expressa os sentimentos  da perda de um grande amor comparando com os quesitos que são julgados  nos desfile das escolas de samba no carnaval da avenida  , associando  , numa  visão poética  ,  os acontecimentos que culminaram na separação dos amantes com todo andamento  do enredo na passarela  .  A obra musical é de uma admirável  criação , denotando  , espantosamente , o desconhecimento  do desenlace em    “  ENREDO DO  MEU  SAMBA  “ .  
 
  [ “ /  Não entendi o enredo / Desse samba , amor , / Já desfilei  na passarela do teu / Coração / Gastei a subvenção / Do amor que você me entregou / Passei  pro segundo grupo e com razão ( Não entendi )  / Meu coração carnavalesco / Não foi mais que um adereço / Teve um dez em fantasia / Mas perdeu em harmonia / Sei que atravessei  um mar / De alegorias / Desclassifiquei um amor de tantas alegrias / Agora eu sei / Desfilei sob aplausos da ilusão /

 E hoje tenho  esse samba de amor , por comissão / Fim do carnaval / Nas cinzas pude perceber / Na apuração perdi você / . “ ]   .

DORIVAL  CAYMMI  deixou uma marca  incontestável  em um belo samba para  aqueles que  não são adeptos  desse ritmo brasileiro , na expressão que hoje simboliza o valor da nossa música  “ QUEM NÃO GOSTA DE SAMBA OU É RUIM DA CABEÇA OU  DOENTE DO  PÉ “ ,  manifestação contida em   “  O  SAMBA  DA  MINHA  TERRA   “  .
 
  [ “ /  O samba da minha terra deixa a gente mole / Quando se canta / Todo mundo bole / (BIS) /  Quem não gosta de samba / Bom sujeito não é / É ruim da cabeça / Ou doente do pé / Eu nasci com o samba / Com samba me criei / Do danado do samba / Nunca me separei / . “  ]   .


 


  O profundo amor ao samba  foi  manifestado ,  poeticamente , na  melodia  em  que  PAULINHO DA VIOLA  declara  um profundo sentimento amoroso ao ritmo brasileiro , expressando a alegria que é impulsionada pelo coração na cadência e no compasso  de um grande sambista , reprovando  , com toda veemência , o boato da extinção de nossa  raiz musical em   “  EU  CANTO  SAMBA  “ 
 
  [ “ / Eu canto samba / Porque só assim eu me sinto contente /  Eu vou ao samba / Porque longe dele eu não posso viver / Com ele eu tenho de fato uma velha intimidade / Se fico sozinho ele vem me socorrer / Há muito tempo eu escuto esse papo furado / Dizendo que o samba acabou / Só se foi quando o dia clareou / (BIS) /  O samba é alegria / Falando coisas da gente / Se você anda tristonho / No samba fica contente / Segure o choro , criança , / Vou  te fazer um carinho / Levando um samba de leve / Nas cordas do meu cavaquinho / . “ ] .


Motivado pelos sucessos de nossos sambas levados pelo empenho magnífico de  Carmem Miranda aos Estados Unidos , ASSIS  VALENTE  compôs  uma melodia de exaltação ao nosso ritmo , na suposição de que os americanos estavam querendo conhecer a nossa  batucada  executada  por  um      “  BRASIL  PANDEIRO  “ . 
 
  [ “ / Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor / Eu fui à Penha  ,  fui pedir à Padroeira para me ajudar /  Salve o Morro do Vintém , Segura Saia eu quero ver / Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar / O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada / Andou dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato / Vai entrar no cuscuz , acarajé e abará / Na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô , Iaiá /  Brasil , esquentai  vossos  pandeiros / Iluminai os terreiros que nós queremos sambar /


Há quem samba diferente noutras terras  , noutra gente / Num batuque de matar / Batucada , batucada , reuni  nossos valores  /  As historinhas e cantores / Expressão que não tem par , ó meu Brasil / { Brasil , esquentai vossos pandeiros .......... / (  2  X  ) / . “ ]  .  


Em uma maneira simples de exaltar o prazer e a vontade de participação  que , alegremente , o samba proporciona aos sambistas , GERALDO PEREIRA  compõe uma melodia , expressando  um imenso desejo de  compartilhar com a felicidade que  está sempre presente  em   “  QUE  SAMBA  BOM   “  .  
 
  [ “  Ô , que samba bom / Ô , que coisa louca / Eu também to aí / Tô aí , que é que há / Também to nessa boca / ( BIS ) / Muita bebida / Mulher sobrando / Tem até trouxa / Nesse samba se arrumando / Eu nesse samba  / Vou me acabar / Num samba desses / Vale a pena a gente entrar / . “ ]  . 


 

Fascinado com o requebrado da mulata brasileira em   ritmo de  um bom  samba e inspirado , também , na imagem da Divina Elizete Cardoso  que deu , com sua voz  vida , ritmo  e molejo a esta  canção ,  ARI  BARROSO , que era  grande admirador da cantora , compôs para ela  “  É  LUXO  SÓ  “. 
 
  [ “ /  Êta samba  cai / Pra lá , cai pra cá , cai pra lá / Cai  pra cá /   (  BIS ) /   Mexendo com as cadeiras  , mulata /  E no requebrado me maltrata , ai , ai / Samba , samba / Sem teleco-teco , não é samba  / O meu samba não vem sozinho / Traz amor / Traz alma e carinho / Olha essa mulata quando dança / É luxo só / Quando seu corpo todo se balança / É luxo só / Tem um quê , que traz a confusão / O que ela tem , meu Deus / É compaixão  / 

Êta morena bamba  / Olha essa mulata quando dança / É luxo só / Quando todo seu corpo se balança /  É luxo só / Porém seu coração se agita / E palpita / Mais ligeiro / Nunca vi compasso / Tão brasileiro / Êta samba cai / Pra lá , cai pra cá , cai pra lá / Cai pra cá / . “ ]  . 

          Quando nossos compositores se propõem criar SAMBA que tem como tema o  PRÓPRIO  SAMBA , há  um reforço na  preservação desse ritmo  que representa a  cultura musical  brasileira . O desfile simplificado de maravilhosas  canções ,  demonstrado neste artigo ,   já clareia num horizonte a existência de  belas composições  sobre a mesma temática  que não estão  contidas neste trabalho .  O  CANTINHO  MUSICAL  teve um imenso prazer em  vasculhar na galeria da MPB , através de uma minuciosa  triagem ,  SAMBAS QUE  FALASSEM ,  POETICAMENTE ,  DE SAMBA !
 
  “  O  RITMO  E  A  CADÊNCIA  DE UM BOM SAMBA ,  EXPRESSANDO A HISTÓRIA , O AMOR , O RESPEITO , O VALOR  E  A PRESERVAÇÃO  DE NOSSA MÚSICA ,  VITALIZAM , NO CORAÇÃO  DE TODOS OS SAMBISTAS ,  A VONTADE HARMONIOSA  DE SE VIVER MAIS PARA SE  OUVIR MUITO MAIS  AINDA  “
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