20/01/2016 às 17h58min - Atualizada em 20/01/2016 às 17h58min

39 – Relembrando a partida inicial do Trem de História

A Imprensa em Leopoldina (MG) entre 1879 e 1899

Luja Machado e Nilza Cantoni
Publicado no jornal Leopoldinense de 1 de janeiro de 2016
A partir de 16 de junho de 2014, com o artigo “Apresentação e início da história” o Trem de História começou a divulgar para o leitor do Jornal Leopoldinense um pouco do passado da cidade. Na maioria das vezes, falando da Imprensa em Leopoldina no período de 1879 a 1899. Vez por outra, intercalando um assunto do momento.

A escolha do assunto principal partiu da afirmação de Xavier da Veiga na monumental obra intitulada ”Efemérides Mineiras”, de que Leopoldina estava entre os municípios mineiros com maior presença da imprensa periódica no final do século XIX. E porque, no dizer de Maria Beatriz Nizza da Silva, no livro Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822), os jornais são fontes preciosas para o historiador como documento da vida cotidiana, permitindo observar aspectos “que dificilmente se encontram em outra documentação”.

Majoritariamente foram textos baseados no trabalho de Nilza Cantoni para o curso de pós graduação em História Cultural pela Universidade Gama Filho, para o qual ela dedicou infinitas horas lendo e analisando periódicos da época. Leituras que permitiram esboçar um panorama da sociedade da época, despertando para o “estudo de um saber local nos moldes históricos” de que Lynn Hunt, em “A Nova História Cultural”, trata ao definir o que é a História Local.

Fato é que, manuseando este rico material, Nilza tirou algumas conclusões interessantes e constatou, como ainda se verá em mais alguns artigos que virão a público nos números seguintes do Trem de História, que os primeiros jornais de Leopoldina funcionaram muitas vezes como os almanaques da época, os quais formavam uma coletânea de informações que se destinavam a instruir o público leitor a respeito dos mais variados assuntos. Concluiu, ainda, que aqueles periódicos se propunham a atuar na formação de um público leitor que viria a se tornar consumidor de outros jornais e dos livros por eles divulgados.

            Mostrar qual seria “O público alvo dos periódicos” foi preocupação do segundo artigo da série. Porque era fundamental conhecer as pessoas que se sentariam no banco do trem, na espreguiçadeira do alpendre ou, na cadeira da sala para ler o jornal.

Trabalho que começou pelo mais antigo jornal da cidade, “O Leopoldinense”, que em sua primeira edição se apresentava como “Folha Comercial Agrícola Noticiosa” e no subtítulo dizia ser “Consagrado aos Interesses dos Municípios de Leopoldina e Cataguases”.

Seria, entretanto, uma simplificação perigosa afirmar que O Leopoldinense tinha como público alvo apenas os moradores de Leopoldina e Cataguases porque poderia ser constituído pelos 59.390 habitantes da área de influência de Leopoldina.

E para entender esta ampliação do público alvo basta lembrar o fato de que alguns dos distritos emancipados estavam subordinados a municípios onde ainda não havia imprensa periódica. Além de Cataguases, este é o caso dos distritos que foram transferidos para Mar de Espanha, Muriaé e São João Nepomuceno, como pode ser deduzido da obra de José Xavier da Veiga, quando mostra que o primeiro jornal de Mar de Espanha é de 1882 e informa que em Muriaé e São João Nepomuceno os primeiros apareceram somente em 1887.

Interessante destacar que, do total de moradores apurado em 1872, apenas 65,54% deles eram cidadãos livres, o que poderia levar à conclusão de que o mercado do jornal seria de 38.924 pessoas, das quais apenas 9.010 eram alfabetizadas. Entretanto, o baixo índice de alfabetização não se torna totalmente excludente por conta de notas encontradas em vários jornais consultados, as quais confirmam a opinião de Walmir Silva, em A Imprensa e a Pedagogia Liberal na Província de Minas Gerais, que citando Gramsci afirma que: “o referido público não se resumia a letrados, sendo condição da pedagogia liberal alcançar os simples”. Conforme o mesmo autor, a oralidade teve grande importância num ambiente de baixa alfabetização: “a circulação dos periódicos e sua leitura pública alimentavam uma elite intelectual moderada, em sentido amplo”. E no mesmo sentido coloca-se Marcus de Carvalho, em A Imprensa na Formação do Mercado de Trabalho Feminino no Século XIX, ao mencionar a leitura em voz alta e também a frequência aos locais de concentração de pessoas como os meetings e clubs, para ter acesso à informação.

Ainda há o que contar. Mas o Trem de História de hoje precisa ficar por aqui. Precisa reabastecer a caldeira para o próximo número.   
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