Hoje o CANTINHO POÉTICO , em homenagem às obras poéticas de CECÍLIA MEIRELES , inicia as postagens de suas poesias , durante toda esta semana . Integrada na sensibilidade brasileira , Cecília busca suas inspirações em suas intuições líricas , nas bases do sentimento das almas populares , lidando com igual maestria , nas raízes de nosso folclore . Da galeria poética de Cecília Meireles , selecionamos alguns poemas que , em série , postaremos nesta semana .
" MOTIVO "
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa .
Não sou alegre nem triste :
sou poeta .
Irmão das coisas fugidias ,
não sinto gozo nem tormento .
Atravesso noites e dias
no vento .
Se desmorono ou se edifico ,
se permaneço ou me desfaço ,
__ não sei , não sei . Não sei se fico
ou passo .
Sei que canto . E a canção é tudo .
Tem sangue eterno a asa ritmada .
E um dia sei que estarei mudo :
__ mais nada .
O CANTINHO POÉTICO publica , neste espaço , para deleite dos apreciam a boa poesia , duas maravilhas de CECÍLIA MEIRELES que , certamente , através de uma CANTIGUINHA e de uma IMAGEM , expressam , metaforicamente , a angústia e o amor . Estes dois poemas marcam o segundo dia de homenagem a essa POETA ( termo com que ela gostava de ser rotulada ) como verdadeiros adereços , enfeitando e completando o cenário de nossa literatura .
" CANTIGUINHA "
Brota esta lágrima e cai .
Vem de mim , mas não é minha .
Percebe-se que caminha ,
sem que se saiba aonde vai .
Parece angústia espremida
de meu negro coração ,
__ pelos meus olhos fugida
e quebrada em minha mão .
Mas é rio , mais profundo ,
sem nascimento e sem fim ,
que , atravessando este mundo ,
passou por dentro de mim .
"IMAGEM "
Meu coração tombou na vida
tal qual ima estrela ferida
pela flecha de um caçador .
Meu coração , feito de chama ,
em lugar de sangue , derrama
um longo rio de esplendor .
Os caminhos do mundo , agora ,
ficam semeados de aurora ,
não sei o que germinarão .
Não sei que dias singulares
cobrirão as terras e os mares ,
nascidos do meu coração .
COLECIONADOS NA SEÇÃO DA GALERIA DE SUAS CRIAÇÕES COM O NOME DE " OU ISTO OU AQUILO POEMAS INFANTIS " . CECÍLIA ERA UMA PROFESSORA PRIMÁRIA , ( COMO GOSTAVA DE SE ROTULAR ) E PREOCUPADA COM MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO DAS CRIANÇAS , ENTÃO CRIOU ESTE ESPAÇO POÉTICO PARA , COM MÉTODOS DIDÁTICOS , ENSINAR A SEUS ALUNOS , ATRAVÉS DE UMA LINGUAGEM LÍRICA , OS SONS DE NOSSO ALFABETO FONÉTICO E AS LETRAS DE NOSSO CONJUNTO DE GRAFIAS . EM CADA POESIA , CECÍLIA , ESTILISTICAMENTE , REALÇA UM DETERMINADO FONEMA DE NOSSA LÍNGUA OU UMA LETRA REPRESENTATIVA DO SOM . INICIAREMOS COM DUAS POESIAS : UMA QUE DEU O NOME PARA COLETÂNEA ; E OUTRA , ENSINANDO AS LETRAS DE NOSSO ALFABETO ATRAVÉS DA PALAVRA " MOSQUITO " . VAMOS ÀS POESIAS :
"OU ISTO OU AQUILO "
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva !
Ou se calça a luva e não se põe o anel ,
ou se põe o anel e não se calça a luva !
Quem sobe nos ares não fica no chão ,
quem fica no chão não sobe nos ares .
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares !
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce ,
ou compro o doce e gasto o dinheiro .
Ou isto ou aquilo : ou isto ou aquilo ...
e vivo escolhendo o dia inteiro !
Não sei se brinco , não sei se estudo ,
se saio correndo ou fico tranquilo .
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor : se é isto ou aquilo .
"O MOSQUITO ESCREVE "
O mosquito pernilongo
tranças as pernas , faz um " M " ,
depois , treme ,treme , treme
faz um " O " bastante oblongo ,
faz um " S " .
O mosquito sobe e desce .
Com artes que ninguém vê ,
faz um " Q " ,
faz um " U " e faz um " I “ .
Esse mosquito
esquisito
cruza as patas , faz um " T " .
E aí ,
se arredonda e faz outro " O " ,
mais bonito .
Oh !
Já não é analfabeto
esse inseto ,
pois sabe escrever seu nome .
Mas depois vai procurar
alguém que possa picar ,
pois escrever cansa ,
não é , criança ?
E ele está com muita fome .
Dois poemas maravilhosos em que um expressa , estilisticamente, o som " /K/ " representado graficamente pela letra " C " que , por coincidência , tem a forma de um " COLAR " aberto . O outro tem o eixo semântico despertado pelo preconceito nos jogos que são próprios para meninas e meninos , neutralizando , em uma linda forma poética , essa separação e para realçar a questão de privilegiar as letra e os sons da língua , o enfoque está na expressão da letra " O " , usando e abusando sua presença no poema , até por que a palavra BOLA tem a forma de um " O " . Vamos às poesias ;
" COLAR DE CAROLINA "
Com seu colar de coral ,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina .
O calor de Carolina
colore o colo de cal ,
torna corada a menina .
E o sol , vendo aquela cor
do colar de Carolina ,
põe coroas de coral
nas colunas da colina .
" JOGO DE BOLA "
A BELA bola
rola :
a bela bola do Raul .
Bola amarela ,
a da Arabela .
A do Raul ,
azul .
Rola a amarela
e pula a azul .
A bola é mole ,
é mole e rola .
A bola é bela ,
é bela e pula .
É bela , rola e pula ,
é mole , amarela azul .
A de Raul é de Arabela ,
e a de Arabela é de Raul .
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O CANTINHO POÉTICO , enfocando as " POESIAS INFANTIS " , criadas por CECÍLIA MEIRELES , postaremos duas joias com bastante lirismo . A primeira expressa o maravilhoso SONHO de criança ,quando manifesta durante a poesia uma técnica estilística , usando mais um fonema da língua representado pelo dígrafo " NH " . O segundo versa sobre uma transformação de comportamento em uma MENINA entre a infância e a adolescência , realçando em toda poesia a letra " M" como técnica do projeto de alfabetização através dos poemas . Exporemos agora estas duas pérolas de CECÍLIA MEIRELES :
" SONHOS DA MENINA " A flor com que a menina sonha
está no sonho ?
ou na fronha ?
Sonho
risonho :
O vento sozinho
no seu carrinho .
De que tamanho
seria o rebanho ?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha ...
Na lua há um ninho
de passarinho .
A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha ?
"MODA DA MENINA TROMBUDA " É a moda
da menina muda
da menina trombuda
que muda de modos
e da medo .
( A menina mimada ! )
É a moda
da menina muda
que muda
de modos
e já não é trombuda .
( A menina amada ! )
Neste espaço reservado à postagem de belas poesias , denominado CANTINHO POÉTICO , desfilaremos dois poemas de CECÍLIA MEIRELES que abordam dois eixos significativos : a INFÂNCIA e a VELHICE . Os discursos nas duas poesias representam , metaforicamente , uma melancolia em cada actante , atuando nas manifestações poéticas : o MENINO questiona O ECO , personificado , sobre suas dúvidas diante do mundo e tendo como resposta a mesma forma da pergunta a ele dirigida , em crítica a uma atitude idêntica do adulto , quando questionado pela criança . O outro poema trata de uma nostalgia expressa no diálogo de poucos assuntos entre duas anciãs : MARINA e MARIANA . Vamos às poesias .
"O ECO " O menino pergunta ao eco
onde é que ele se esconde ,
Mas o eco só responde : " Onde ? " " Onde ? "
O menino também lhe pede :
" Eco vem passear comigo ! "
Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo .
Pois só lhe ouve dizer :
" Migo ! "
" AS DUAS VELHINHAS "
Duas velhinhas muito bonitas ,
Mariana e Marina ,
estão sentadas na varanda :
Marina e Mariana .
Elas usam batas de fitas ,
Mariana e Marina ,
e penteados de tranças :
Marina e Mariana .
Tomam chocolate , as velhinhas ,
Mariana e Marina ,
em xícaras de porcelana :
Marina e Mariana .
Uma diz : " Como a tarde é linda ,
não é , Marina ? "
A outra diz : " Como as ondas dançam ,
não é , Mariana ? "
" Ontem eu era pequenina " ,
diz Marina .
" Ontem , nós éramos crianças " ,
diz Mariana.
E levam à boca as xicrinhas ,
Mariana e Marina ,
as xicrinhas de porcelana :
Marina e Mariana .
Tomam chocolate , as velhinhas ,
Mariana e Marina .
E falam de suas lembranças ,
Marina e Mariana .
Retornando dia 15 de fevereiro com a semana dedicada às poesias de VINÍCIUS DE MORAES . Para fechar com chave de ouro , postaremos dois maravilhosos poemas . Um retrata o sonho da menina em tornar-se bailarina e flutuar na dança rodopiando sem parar . O outro poema versa sobre as ações do despertar de três meninas na saudação de um " bom dia " , quando a " POETA " ,saudosa de cenas vividas , expressa a preferência por um delas . Vamos às poesias :
" A BAILARINA " Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina .
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé .
Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá .
Não conhece nem lá nem si ,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda , roda , roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar .
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina .
Mas depois esquece todas as danças ,
e também quer dormir como as outras crianças .
"AS MENINAS " Arabela
abria a janela .
Carolina erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria :
" Bom dia ! "
Arabela
foi sempre a mais bela .
Carolina,
a mais sábia menina .
E Maria
apenas sorria :
" Bom dia ! "
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela ;
uma que se chamava Arabela ,
outra que se chamou
Carolina .
Mas a nossa profunda saudade
é Maria , Maria , Maria ,
que dizia com voz de amizade :
" Bom dia ! "
" OBRIGADO , CECÍLIA MEIRELES ! "