De tudo , ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento .
Que vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento .
E assim , quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte , angústia de quem vive
Quem sabe a solidão , fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal , posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure .
VINÍCIUS DE MORAES teve como parceiro musical ANTÔNIO CARLOS JOBIM com quem compôs ,
para suas melodias , vários poemas em que expressam sentimentos associados ao amor e à saudade .
"CHEGA DE SAUDADE"
Vai , minha tristeza E diz a ela Que sem ela não pode ser Diz-lhe numa prece Que ela regresse Porque eu não posso mais sofrer Chega de saudade A realidade é que sem ela Não há paz , não há beleza É só tristeza , e a melancolia Que não sai de mim , não sai de mim Não sai . | Mas se ela voltar Se ela voltar , que coisa linda Que coisa louca Pois há menos peixinhos a nadar no mar Do que os beijinhos que eu darei Na sua boca ... Dentro dos meus braços Os abraços hão de ser Milhões de abraços apertado assim Colado assim , calado assim Abraços e beijinhos e carinhos Sem ter fim Que é pra acabar com esse negócio De viver longe de mim . |
Outra canção em parceria com ANTÔNIO CARLOS JOBIM que foi o primeiro sucesso da dupla , devido à inclusão do samba no filme “ ORFEU NEGRO “ :
“ FELICIDADE ”
Tristeza não tem fim
Felicidade sim ...
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar .
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei , ou de pirata , ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim ...
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos de minha namorada
É como esta noite
Passando , passando
Em busca da madrugada
Falem baixo por favor ...
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor
Triste não tem fim
Felicidade sim ...
"SERENATA DO ADEUS"
Ai , a lua que no céu surgiu
Não é a mesma que te viu
Nascer dos braços meus ...
Cai a noite sobre o nosso amor
E agora só restou do amor
Uma palavra : adeus ...
Ah , vontade de ficar
Mas tendo de ir embora ...
Ai , que amar é se ir morrendo
Pela vida afora
É refletir na lágrima
O momento breve
De uma estrela pura
Cuja luz morreu ...
Ó mulher , estrela a refulgir
Parte , mas antes de partir
Rasga meu coração ...
Crava as garras no meu peito em dor
E esvai em sangue todo o amor
Toda a desilusão ...
Ah , vontade de ficar
Mas tendo de ir embora ...
Ai , que amar é se ir morrendo
Pela vida afora
É refletir na lágrima
O momento breve
De uma estrela pura
Cuja luz morreu
Numa noite escura
Triste como eu ...
“O POETA E A ROSA”
( com direito a passarinho )
Ao ver uma rosa branca
O poeta disse : Que linda !
Cantarei sua beleza
Como ninguém nunca ainda !
Qual não é a sua surpresa
Ao ver , à sua oração
A rosa branca ir ficando
Rubra de indignação .
É que a rosa , além de branca
( Diga-se isso a bem da rosa ... )
Era da espécie mais franca
E da seiva mais raivosa .
_ Que foi ? balbucia o poeta
E a rosa : _ Calhorda que és !
Para de olhar para cima !
Mira o que tens a teus pés !
E o poeta vê uma criança
Suja , esquálida , andrajosa
Comendo um torrão da terra
Que dera existência à rosa .
_ São milhões ! _ a rosa berra
Milhões a morrer de fome
E tu , na tua vaidade
Querendo usar do meu nome !...
E num acesso de ira
Arranca as pétalas , lança-as
Fora , como a dar comida
A todas essas crianças .
O poeta baixa a cabeça .
_ É aqui que a rosa respira ...
Geme o vento . Morre a rosa .
E um passarinho que ouvira
Quietinho toda a disputa
Tira do galho uma reta
E ainda faz um cocozinho
Na cabeça do poeta .
“SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ"
Vai tua vida
Teu caminho é de paz e amor ;
A tua vida
É uma linda canção de amor ;
Abre teus braços e canta a última esperança .
A esperança divina
De amar em paz .
Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver !
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar
A sorrir , a cantar , a pedir
A beleza de amar
Como o sol , como a flor , como a luz
Amar sem mentir nem sofrer ;
Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você .
"A ROSA DE HIROXIMA"
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh ! não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor nem perfume
Sem rosa sem nada .
Com toda sua alma entregue aos temas amorosos , ainda sobram espaços na bela memória de VINÍCIUS DE MORAES para uma bela dedicação às poesias para crianças . “ POEMAS INFANTIS “ representam momentos de pureza e amor que se fixaram em nossas lembranças .
“O ELEFANTINHO “
Aonde vais , elefantinho
Correndo pelo caminho
Assim tão desconsolado ?
Andas perdido , bichinho
Espetaste o pé no espinho
Que sentes , pobre coitado ?
_ Estou com um medo danado
Encontrei um passarinho !
"A FOCA"
Quer ver a foca
Ficar feliz ?
É pôr uma bola
No seu nariz .
Quer ver a foca
Bater palminha ?
É dar a ela
Uma sardinha .
Quer ver a foca
Fazer uma briga ?
É espetar ela
Bem na barriga !
"A CASA"
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na rua dos bobos
Número Zero .
"AS ABELHAS"
A AAAAAAABELHA mestra
E aaaaaaa abelhinhas
Estão tooooooodas prontinhas
Pra iiiiiiir para festa .
Num zune que zune
Lá vão pro jardim
Brincar com a cravina
Valsar com o jasmim .
Da rosa pro cravo
Do cravo pra rosa
Da rosa pro favo
Volta pro cravo .
Venham ver como dão mel
As abelhinhas do céu !