08/03/2016 às 18h01min - Atualizada em 08/03/2016 às 18h01min

O que há além do PT?

Atualmente não restam motivos para que eu defenda Lula, PT e Dilma. Aliás, a lista para que eu divirja deles só vem aumentando desde o início do ano passado. Da nomeação do primeiro ministério ao ajuste fiscal -- ambos apoiados por Lula e pela direção majoritária do partido--, eu via o que ali ainda restava “dos Trabalhadores” minguar. A cena, ocorrida na Câmara, de deputados petistas defendendo o ajuste, e de militantes da Força Sindical e deputados tucanos se posicionando contra, deram para mim a dimensão do quanto aquele partido tinha se descaracterizado. Portanto, estou político-ideologicamente distante do PT.

Todavia, aplaudir os abusos de um judiciário com sede em justiçamento faria de mim um irresponsável. Pois sei que, para muitos, o PT e suas cores ainda são o símbolo de uma esquerda a ser destruída. Que se investiguem e que se prendam os culpados de cometer crimes contra o nosso país, mas que isso sirva para todos. Não posso acreditar em instituições que, associadas a meios privados de comunicação, promovem o espetáculo com a prisão de uns e se omitem, ignoram e desprezam a picaretagem de outros. No caso de Lula, uma “condução coercitiva”, que dispensou uma intimação anterior para o depoimento.

Como acreditar em um sistema que permita que Paulo Maluf seja deputado federal; que não se abala se o mensalão mineiro prescreve; que convive bem com Eduardo Cunha na presidência da Câmara e Renan Calheiros à frente do Senado; que não prende ninguém em uma das maiores apreensões de pasta base de cocaína dentro de um helicóptero, que pertencia a políticos; que, por outro lado, prende pelo porte de pinho sol; que faz acordo com os responsáveis pelo maior crime ambiental de nossa história; que escolheu ignorar o que acontecia na Petrobras antes dos anos 2000; e que contribui para tornar corriqueira a matança de índios, pobres, negros, mulheres, gays e demais minorias sociais? Em certos lugares e para certas pessoas o Estado de direito ainda não existiu.

O que vejo é mais do mesmo, acordos intraelites e negociações abjetas que nos deixam de fora, nessa democracia com veias autoritárias. O PT bem que tentou se beneficiar de relações dessa natureza, se agarrou a elas enquanto pôde, não as combateu frontalmente. Ao contrário, as alimentou muitas vezes – vejam só a recente aprovação da antiterror. Contudo, foi espremido e expurgado feito um corpo estranho, afinal “Eles não usam Black-tie”.

Expulsa-se o PT e tudo aquilo que se pareça com ele e que fazem parecer com ele. Convença, então, que esse é o partido que inventou a corrupção, que a levou a patamares nunca antes vistos, que daí para frente é só “nadar de braçada”... Esse parece ser o quadro.

Não se discute como as próprias instituições abrigam esse tipo de comportamento há séculos, em todos os poderes, em todas as instâncias, e como continuarão abrigando, caso uma transformação profunda não ocorra. Basta lembrar a recente batalha que foi para por fim ao financiamento empresarial de campanha – um dos principais vetores das relações promíscuas entre empreiteiras e partidos políticos, que sustentou a corrupção dentro da Petrobrás. Cunha, agora réu nesta mesma Lava-Jato, com o apoio de muitos outros deputados, tentou de tudo para que o projeto não passasse, enquanto chantageava o governo com os pedidos de impeachment. A política não é território dos santos e nela não cabe o maniqueísmo.

Sem esse debate tudo permanecerá no mesmo lugar e o pior, sem os merecidos holofotes. Para que polícia se não existem mais bandidos? Satanás estará morto!
Quem ganha com isso? Os mesmos que estão ganhando há mais de 500 anos. Muitos aplaudirão bestializados ou abestados!

 
Link
Tags »
Leia Também »
Comentários »